A variante P1, encontrada inicialmente em Manaus, e que foi identificada na Serra gaúcha há uma semana, é uma das três mutações que mais preocupa neste momento — as outras duas são do Reino Unido e da África do Sul. Mesmo que a versão manauara ainda esteja em fase de estudos, entende-se que ela pode ter um poder de disseminação mais alto e tão perigosa quanto as demais.
— Certamente ela não é menos letal. O fato de ser mais transmissível indica que ela tem potencial para espalhar e pegar mais gente de forma rápida. Existem várias mutações. Uma delas é associada ao Reino Unido, que comprovadamente tem um poder de maior transmissibilidade, e ainda preocupa porque tem a mutação que está na variante da África do Sul, que pode levar a uma redução na respostas das vacinas e da imunidade prévia — alerta o infectologista Alexandre Zavascki, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
O fator de preocupação nas mutações está no quanto os imunizantes serão eficazes. Na parte teórica, a CoronaVac, chinesa e produzida no Brasil pelo Butantan, não perderia poder de resposta. Isso porque ela utiliza o vírus inativo na sua fórmula.
— Vacinas como essa envolvem a apresentação do vírus inteiro. O sistema imune vai reconhecer várias partes dele, criando anticorpos não só para a proteína spike, mas para várias outras porções do vírus — explica Mellanie Fontes-Dutra, biomédica e doutora em neurociências, coordenadora da Rede Análise Covid-19.
Proteína Spike é mais um termo que vai entrar no vocabulário do brasileiro. É a porção do Sars-Cov-2 que faz a ligação do vírus com as células humanas. Por exemplo, a vacina da AstraZeneca/Oxford, produzida no Brasil pela Fiocruz, trabalha com adenovírus desativado e porção da proteína em questão.
— Em outras vacinas, seja RNA Mensageiro ou adenovírus, o sistema imunológico vai responder contra uma porção específica do vírus, que é, por exemplo, a proteína spike. Por isso é importante conhecer as tecnologias das vacinas e estudá-las considerando as variantes — complementa Mellanie.
Na ciência e na medicina, a teoria pode não funcionar na prática. Enquanto as respostas concretas ainda não estão prontas, é importante a vacinação e a manutenção dos cuidados que entraram na rotina da humanidade há um ano: distanciamento social, máscara e higienização das mãos.