Em meio à dor, a família de Pietro Colella Palavro, cinco anos, ainda tenta entender como o menino se distanciou da casa onde morava, na localidade de Tirol, no interior de Forqueta, e chegou às margens da RS-122, onde foi atingido por um caminhão. O km 68, próximo ao pardal entre Caxias e Farroupilha, onde ocorreu o acidente no início da noite desta terça-feira (2), fica a pelo menos cinco quilômetros da residência da família. Andando de bicicleta sozinho, Pietro tentou cruzar a rodovia e bateu na lateral do caminhão, que trafegava de Farroupilha para Caxias. Ele chegou a ser socorrido ao Hospital Geral, mas não resistiu aos ferimentos.
Segundo a mãe do menino, a dona de casa Leonilda Colella, 41 anos, era comum ele andar de bicicleta na rua onde a família mora. A via é pouco movimentada, mas ainda assim a diversão do garoto costumava ser vigiada pelo avô. Nesta terça-feira não foi diferente: Pietro saiu de casa por volta das 18h e era observado pelo pai de Leonilda. Cerca de cinco minutos depois, contudo, o menino desceu um declive na rua em direção a um ponto onde costumava parar e que fica perto da residência de alguns amigos. Como o local não tem visibilidade a partir da casa onde morava, a família começou a procurá-lo minutos depois, quando percebeu que ele não retornava.
— Soubemos do acidente pelo rádio, mas não demos importância no primeiro momento porque era muito longe. A gente dizia "não pode ser ele". Como a gente não encontrava ele, para acalmar meu coração, decidimos ir até lá. Meu pai sempre estava com ele, nunca deixava ele sozinho — relata a mãe.
A reportagem apurou que funcionários de um posto de combustíveis nas proximidades viram o menino passar pelo estabelecimento momentos antes do acidente. A cena chamou a atenção pelo fato de ele estar sozinho e também por não ser comum o garoto passar por ali.
A única explicação que Leonilda consegue encontrar é que alguém possa ter conduzido o garoto até as margens da rodovia. Ela relata ainda que Pietro andava bem de bicicleta, embora tivesse aprendido a andar sem as rodas auxiliares há cerca de dois meses.
— Tenho pensado em todo o tipo de coisa, mas não conseguimos imaginar que ele tenha ido sozinho. Quando ele estava na frente de casa ele ainda disse para o meu pai "olha como desço rapidão". Era uma criança doce, carinhosa, de sorriso fácil, adorava o pai dele. Tínhamos ido à praia no fim de semana e ele estava tão feliz — lembra, abalada, Leonilda.
Além de Leonilda, Pietro morava com o pai, o pedreiro Leandro Palavro, que completa 44 anos no dia 12, e dois irmãos por parte mãe, de 10 e 14 anos. O avô do menino, que perdeu a esposa em acidente quando Leonilda tinha 15 anos, mora no mesmo terreno, assim como outras três pessoas da família.
O velório ocorre na Capela Mortuária de Forqueta e o sepultamento está previsto para as 17h no Cemitério Jardim da Paz, também em Forqueta.
Vegetação e ausência de iluminação
O ponto exato onde o menino foi atingido pelo caminhão não possui iluminação nem construções às margens da rodovia. Os dois estabelecimentos mais próximos são um posto de combustíveis e um motel.
A reportagem não conseguiu localizar o motorista do caminhão, mas ele relatou aos policiais que, na hora do acidente, trafegava pela faixa da direita e reduziu a velocidade para acessar o posto. Nesse momento, ele disse ter visto a criança e tentado desviar, mas não conseguiu. O homem foi submetido ao teste do etilômetro, que deu negativo para o consumo de bebida alcoólica. O veículo que ele conduzia é de União da Vitória, no Paraná.
O comandante do Grupo Rodoviário de Farroupilha, tenente Marcelo Stassak, observa que os motoristas costumam reduzir bastante a velocidade no ponto devido ao controlador de velocidade. Ainda assim, o risco é muito elevado por ser uma rodovia de tráfego pesado.
— Poderia ser qualquer pessoa. Com um caminhão, o dano (físico) é muito grande — aponta.
O registro do fato no Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) não menciona se o caminhão estava vazio ou carregado, o que interfere na distância necessária para a frenagem. As circunstâncias do acidente serão investigas pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA).