Que o mês de janeiro teve uma quantidade de chuva incomum não é novidade aos moradores da Serra. Agora, com a virada dos mês, os números permitem confirmar essa percepção: desde 2010 não chovia tanto no período em Caxias do Sul. Do dia 1º até este domingo (31), choveu 276 milímetros na cidade, enquanto a média histórica é de 158,5 milímetros. Há 11 anos, o volume ficou em 305,8 milímetros.
Segundo a meteorologista Fabiane Casamento, da Somar Meteorologia, o primeiro mês do ano costuma ser o quarto com maior precipitação na cidade. A maior quantidade de chuva normalmente ocorre em julho, com média de 189,4 milímetros. Neste ano, além de janeiro ser fora da curva, a precipitação se concentrou, principalmente, em um período de 15 dias. A explicação é o aquecimento acima do normal do Oceano Atlântico, causado por variações atmosféricas e de correntes marítimas.
— A água absorveu bastante radiação solar. Com o oceano aquecendo, há mais umidade, o que a ajuda a formar ciclones. Também houve formação de frentes frias — explica.
Ainda de acordo com a meteorologista, as precipitações até devem dar uma trégua em fevereiro, mas não imediatamente. O clima seguirá instável, com grande volume de chuva nos primeiros 15 dias. Depois, o tempo deve firmar até o fim do mês, quando as precipitações retornam com mais intensidade.
— Para fevereiro, a expectativa é ficar dentro da média, de 154,9 milímetros — prevê.
Excesso começa a prejudicar agricultura
Se nos últimos meses de 2020 a chuva era aguardada ansiosamente pelos produtores rurais, agora ela já começa a causar preocupações. O motivo é a má distribuição das pancadas. Antes, a falta de precipitação chegou a secar açudes e vertentes. Agora, o volume de água concentrado tem potencial de prejudicar algumas safras, como a da uva.
Segundo a presidente do Sindicato dos Trabalhadores Agricultores Familiares, Bernardete Onsi, não há mais problemas de falta de água nas lavouras. A preocupação do momento é que o excesso de água diminua a qualidade de alguns produtos.
— O que preocupa são as variedades mais tardias de uva, que deveriam estar maturando, pegando cor e com a chuva não pega. Com muita água o nível de açúcar também desce e as verduras com a umidade tem mais fungos — exemplifica.
Bernardete afirma que ainda é cedo para calcular eventuais prejuízos, mas destaca que se não houver trégua nas pancadas de chuva diárias há a preocupação de perdas significativas.
— Nesse momento o pessoal está enfrentando dificuldades em função de de chuvas torrenciais que obrigam a parar de colher. Às vezes também tem uma entrega para fazer (que fica prejudicada) — observa.
Com relação a açudes e mananciais, contudo, a situação não foi normalizada, segundo Bernardete. O motivo é a má distribuição das chuvas, que não atingem uma grande área ao mesmo tempo.