A abertura oficial da Campanha da Fraternidade 2021 ocorreu às 9h desta quarta-feira (17), no espaço Mater Dei da Catedral Diocesana de Caxias do Sul. Com o lema "Cristo é nossa paz: do que era dividido fez uma unidade" e tema "Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor", o ato ecumênico foi lançado na presença do bispo diocesano de Caxias, Dom José Gislon, do reverendo da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil Paulo Roberto da Costa Duarte, da pastora da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Paula Neagele e do padre Paulo Cesar Nodari, coordenador de Pastoral.
No discurso inicial, Gislon destacou a dor das famílias em meio ao contágio pelo coronavírus.
— Estamos vivendo um tempo marcado pela pandemia que atingiu fortemente as famílias. Essa situação tem causado dor pelas perdas que sofreram. Em nosso país, vemos crescer o ódio. Nesse tempo de Quaresma, queremos que a luz da palavra de Deus possa reavivar a beleza e a força da fé. A Campanha da Fraternidade é uma oportunidade de nos colocarmos em diálogo com Cristo Jesus — disse.
No texto-base, disponível no site da Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic), a campanha critica a negação da ciência. Questionado pela reportagem sobre o posicionamento local, Dom Gislon foi enfático:
— A ciência ajudou e ajuda a termos mais dignidade de vida. É fruto de pesquisa e faz parte do dom que Deus colocou no coração e na mente das pessoas. Diante da pandemia, o que percebemos na caminhada do 'negacionismo', que foi tão exaltado em nosso país, é que só tem ajudado a termos mais mortes e menos cuidados com a vida. Como Igreja e em nome do Evangelho seremos sempre comprometidos com a vida, dom de Deus! — disse.
A Campanha da Fraternidade 2021 é uma das mais polêmicas já enfrentadas pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O assunto foi citado pelo Revendendo da igreja Anglicana Paulo Roberto da Costa Duarte, que leu uma carta do seu bispo. "Isso mostra que a campanha se faz urgente e necessária, pois vivemos uma realidade dominada pelo ódio, desrespeito à dignidade humana e todas as formas de discriminação", diz um trecho do texto.
O reverendo citou os movimentos LBTQI+ e negro, alvos de contrariedade por fiéis. De acordo com o Estado de S. Paulo, o texto-base também critica a "cultura de violência contra as mulheres, as pessoas negras, os indígenas, as pessoas LGBTQI+'. O documento da Igreja foi alvo de críticas de grupos conservadores, que criaram um abaixo-assinado contra o tom adotado pela CNBB. Eles alegam que a campanha promove "deturpações dentro da moral católica".
— Os pecados da atualidade: o culto ao individualismo e à superficialidade de vida. Somos chamados a alimentar nossas comunidade com um novo jeito de ser igreja onde a acolhida e irmandade nos faça pessoas melhores para os outros. Temos milhares de pessoas que estão perdendo a vida e que poderia ser evitado. Lembro os movimentos de LGBTQI+ , de agricultores, de trabalhadores, do movimento negro, devemos aprender muito com eles — disse o reverendo.
Também presente no evento, a pastora luterana Paula Neagele, reforçou a necessidade de união.
— Sabemos que o Brasil é um país marcado pela violência, que possui uma longa história de sofrimento e perseguição às pessoas negras escravizadas, homens e mulheres mais pobres. A opressão de gênero, a perseguição da juventude negra, humilhação às pessoas mais pobres e idosas, com deficiência, chegam a ser escandalosas. Estamos distantes de uma realidade justa que abrace a todas as pessoas assim como aprendemos na palavra e no exemplo de Jesus Cristo. Nossa nação é desafiada a desconstruir muros que nos separam — disse.
O lançamento oficial pode ser conferido na página da Diocese de Caxias do Sul no Facebook. A Campanha da Fraternidade existe desde 1964 com temas, não apenas religiosos, que precisam de reflexão da sociedade, conforme a CNBB.