A compra de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) para profissionais do Hospital Beneficente São Roque, em Carlos Barbosa, é o resultado da boa ação de um pequeno morador da cidade. Com apenas sete anos, Theo Lutz Lenktaitis tomou a iniciativa de juntar dinheiro para ajudar o hospital do município, em um cofrinho que ele mesmo confeccionou. Foram R$ 91,60 ao todo, entregues à instituição neste mês.
Mãe do menino, a comissária de voo Jaqueline Lutz Lenktaitis, 34, conta que a ideia partiu do próprio Theo. Ele frequenta o Centro Educativo Crescer (CEC), no contraturno da escola, e uma professora propôs que os alunos fizessem seus próprios cofrinhos, usando latas de alumínio, para aprender sobre economia.
— Eu estava fora da cidade a trabalho e quando cheguei vi que tinha essa latinha na sala. Perguntei o que seria e o Theo contou que ele havia feito no CEC e que a professora falou que eles podiam fazer o que quisessem (com a quantia economizada). Ele resolveu que iria juntar dinheiro para doar ao hospital — resume Jaqueline.
Theo já tinha o costume de guardar o que ganhava dos pais ou dos padrinhos, de modo que, quando queria comprar algo para si, precisava desembolsar o próprio dinheiro.
— Também é uma forma dele saber que as coisas não são baratas — comenta a mãe do menino, sobre o hábito de economizar.
Só que, dessa vez, o pequeno não quis usar a quantia para si mesmo. Como define, "não tinha nada em mente" que quisesse adquirir, achando melhor repassar a quem realmente precisa.
— Porque o hospital estava meio ruinzinho, eu fui lá e ajudei — diz o menino.
— Ele ficou bastante sensibilizado com a pandemia, perdeu o contato com os amigos e com a escola, via na TV sobre as mortes. Não queria que as pessoas inocentes morressem, aquela coisa bem de criança. Por conta disso, ele se sensibilizou mais com hospitais, porque se fala muito em falta de leitos — relata a mãe.
Theo mora com a mãe Jaqueline, o pai, o piloto Eric Lenktaitis, os avós Celso e Marli Lutz e os irmãos mais novos: Laura, de quatro anos, e Heitor, de três. Laura inclusive acompanhou a entrega da doação ao Hospital São Roque, como explica Jaqueline:
— Nós fomos no hospital e eu falei que o Theo gostaria de fazer uma doação. A equipe logo recebeu superbem. No início, ele até ficou chateado, porque achou que o valor era baixo. Mas se animou com a divulgação do hospital, de que com o dinheiro já deu para comprar EPIs. Aí eu falei pra ele: 'Tá vendo como ajuda? Mesmo que seja pouquinho, de pouco em pouco dá pra fazer um monte de coisa'.
Para a gestora administrativa do Hospital São Roque, Cátia Argenta, o gesto trouxe um sentimento de valorização e reconhecimento para toda a equipe. Até a tarde desta terça (12), quatro dos 15 leitos para covid do hospital estavam ocupados (três confirmados para coronavírus e um suspeito). A instituição não possui Unidade de Terapia Intensiva (UTI), tendo de encaminhar os pacientes em estado mais grave para outros hospitais da região, como o Tacchini, de Bento Gonçalves.
— O que queríamos ter realmente feito era dar um grande abraço no Theo e na sua família, mas sabemos que agora isso não é possível. O gesto dele significou mais do que qualquer prêmio e nos traz uma mensagem clara: sempre é possível oferecer ajuda e fazer a diferença na vida de alguém. Somos uma comunidade e só vamos superar essa pandemia se estivermos unidos — emociona-se Cátia.
Além de já saber economizar, Theo aprendeu a máxima de que fazer o bem realmente faz bem. A ação dele lembra a do menino Léo, que, com 11 anos, arrecadou R$ 21,45 com a venda de latinhas e destinou todo o valor para o hospital de Antônio Prado. Nos dois casos, são crianças dando exemplo que vale até para gente grande.
Perguntado sobre como se sente ao final disso tudo, o Theo não hesitou em responder: "feliz".