A taxa de ocupação dos leitos das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) é um dos indicadores utilizados para calcular os estágios de controle da covid-19 no Rio Grande do Sul a partir do modelo de distanciamento controlado em vigor desde maio. Na Serra, municípios como Caxias do Sul, registraram queda na taxa de ocupação de leitos de UTI há dois meses, entretanto, o aumento expressivo nas últimas semanas acendeu um sinal de alerta na região.
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No dia 3 de setembro, 60, 27% dos leitos SUS estavam ocupados em Caxias, já no dia 1º de agosto, a ocupação era de 75, 34%. Acompanhando os dados do Painel Covid, disponibilizados pela Secretaria Municipal de Saúde, percebe-se que a maior ocupação foi registrada no final de agosto e início de setembro, quando se chegou próximo aos 90%. Até às 9h30 desta quarta-feira (2), dos 81 leitos SUS, 65 estavam ocupados, o que representa 80,25%. No setor privado, a ocupação é ainda mais preocupante, dos 85 leitos, 74 estão ocupados, ou seja, 87,06% - um dos índices mais elevados desde o início da pandemia no setor.
Desses números, os setores SUS e privado têm, respectivamente, 26 e 28 pacientes hospitalizados com covid-19 nas UTIs da cidade. Além disso, há nove suspeitos no SUS. Conforme o secretário de Saúde, Jorge Olavo Hahn Castro, foram abertos oito novos leitos de UTI em Caxias na última quinta-feira (26), totalizando 81 no SUS. Além disso, há dois meses, o município contratou mais nove leitos de enfermaria, pois o covid-19 tem uma especificidade, já que os suspeitos precisam ficar em isolamento até receber o diagnóstico, o que gera um consumo maior de leitos.
— Com o aumento de leitos a demanda foi suprida, e com uma certa folga. Estamos acompanhando o aumento constante do contágio, então se sabe que quando temos o aumento de contágio, teremos aumento de internação em enfermaria e na sequência, aumento de internação em UTI — destaca Castro.
Apesar disso, o titular da pasta afirma que o foco agora é diminuir o contágio, seguindo o que determina o governo do Estado quanto às novas regras para a bandeira vermelha. A prefeitura de Caxias do Sul adotou medidas, na tarde desta terça-feira 1º, definindo ações e penalizações na tentativa de evitar aglomerações e conter o ritmo de disseminação do coronavírus. A partir dos dados disponibilizados pela prefeitura, é possível perceber que a cidade enfrenta a pior situação desde o início da pandemia, em março.
— A nossa preocupação não é só a pandemia, Caxias é referência para 49 municípios da região em cardiologia, neurologia, oncologia e trauma. Então, se nós tivermos 100% de ocupação, teríamos problemas também nessas outras áreas, precisando diminuir o atendimento para as outras especialidades, o que a gente não quer que aconteça — finaliza.
Falta de profissionais da saúde na região
O cenário de aumento expressivo de casos apresenta reflexos na realidade de hospitais de toda a região. Em Vacaria, o Hospital Nossa Senhora da Oliveira está com 100% de ocupação de leitos de UTI desde a terça-feira (1º). De acordo com a diretora-presidente, irmã Adelide Canci, quatro leitos da área clínica destinada à covid-19 foram abertos também na terça-feira, totalizando 28. Destes, 22 estão ocupados por pacientes com coronavírus. Já na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), há cinco leitos e todos estão ocupados. Três deles estão fechados por falta de profissionais da saúde. Dos pacientes na UTI, dois são de Bom jesus, um de Muitos Capões e dois de Vacaria.
Conforme Adelide, o hospital já enfrentou a falta de leitos. Há 15 dias, uma senhora que estava internada na área clínica precisava ser encaminhada para a UTI, mas não tinham leitos disponíveis. Por isso, ela foi encaminhada, via Central de leitos, para Caxias do Sul.
A lotação máxima foi atingida no final de semana, quando além da UTI, a área clínica também estava com 100% de ocupação. Conforme o secretário de Saúde de Vacaria, Márcio Tramontina, na segunda-feira (30) foi realizada uma reunião com diversos setores do município solicitando auxílio, pois os casos explodiram na cidade e isso impacta a capacidade hospital.
— Hoje o que impacta é a parte pessoal, faltam técnicos em enfermagem, enfermeiros e médicos. Na questão de leitos, teríamos equipamentos para mais três, mas não temos profissionais. Tem muitos funcionários afastados, muitos com covid-19 e por isso estão isolados. Até pensamos em remanejar profissionais das Unidades Básicas de Saúde para a Unidade de Pronto Atendimento ou hospital, se possível. Chegou ao extremo.
De acordo com Tramontina a falta de profissionais da saúde é percebida desde julho e sem eles, não é possível dar continuidade ao atendimento. Retrocedendo aos primeiros meses de enfrentamento da pandemia, o secretário analisa que o primeiro problema enfrentado foi a falta de material, depois, de recursos e agora, não tem mais profissionais.
Em Farroupilha, no Hospital Beneficente São Carlos, conforme dados desta quarta-feira (2), dos 20 leitos de UTI, 18 estão ocupados, o que representa 90%. De acordo com a superintendente do Hospital São Carlos, Janete Toigo, do total de leitos de UTI, 10 são destinados à covid-19, entretanto, hoje são 11 pacientes internados que enfrentam a doença. Sendo oito confirmados e três casos suspeitos da covid-19. Janete destaca que os resultados do Laboratório Central de Saúde Pública do Rio Grande do Sul (Lacen) estão demorando até 10 dias para chegar.
Na unidade de internação de infectologia covid-19, dos 20 leitos, sete estão ocupados - são quatro suspeitos e três confirmados. Assim como Vacaria, o município enfrenta a falta de profissionais da saúde. De acordo com a Secretária Municipal de Saúde de Farroupilha, Vanessa Zardo, já foi feita a proposta ao hospital para ampliar a quantidade de leitos.
— Eles teriam espaço físico, mas há uma dificuldade muito grande na aquisição de equipamentos como camas e bombas de infusão, e na contratação de profissionais específicos para esse tipo de atendimento. São duas equipes de UTI no hospital e seria preciso abrir uma terceira equipe a fim de ampliar 10 leitos na cidade — explica Vanessa.
Cada equipe conta com 24 técnicos de enfermagem, cinco enfermeiros, além dos médicos. Tendo em vista esta dificuldade de ampliação da capacidade de atendimento, conforme Vanessa, o município foca na prevenção e orientação da população para que busque atendimento médico assim que surjam os primeiros sintomas, a fim de diminuir a quantidade de pacientes que precisam ser encaminhados para a UTI.
Como está a situação em outros municípios?
Em Bento Gonçalves, uma das principais cidades da Serra, nesta quarta-feira (2), a taxa de ocupação de leitos de UTI é de 71,1%. Dos 45 leitos, 32 ocupados, 18 do SUS e 14 do setor privado. Do número total, são nove casos confirmados de covid-19.
De acordo com o secretário de Saúde, Gilberto Júnior, existe a possibilidade de maior quantidade de leitos, inclusive já foram ampliados cinco. Ele também afirma que o município está monitorando a situação, mas por enquanto a quantidade de leitos está suprindo a demanda.
O município de Flores da Cunha não conta com leitos de UTI, desse modo, depende de municípios da região como Caxias do Sul. Por isso, segundo o secretário de Saúde, Vanderlei Stuani, o Hospital Nossa Senhora de Fátima apresenta a ocupação tranquila, mas a preocupação do município é com as UTIs, já que a cidade depende de hospitais da região.
Conforme dados do hospital, são 53 leitos de internação clínica, e a instituição de saúde tem mantido uma média de 20 leitos ocupados. Destes, dois são casos confirmados de covid-19 e um suspeito. Os pacientes estão estáveis e sem previsão de transferência para a UTI. Desde o início da pandemia, o hospital nunca teve mais de seis pacientes internados com coronavírus.