Na última atualização do Modelo de Distanciamento Controlado do governo do Estado, Caxias do Sul escapou por pouco de ser enquadrado no nível mais alto de risco de contaminação do coronavírus, a bandeira preta, ficando apenas 0,01% abaixo da pontuação média na classificação. O cientista de dados, Isaac Schrarstzhaupt, afirma que não é possível projetar se Caxias deve ser classificada na bandeira preta pelo fato de os indicadores também dependerem de números de todo o Estado.
— Caxias está com média da taxa de crescimento diário de casos de 1%. Isso estava em 0,4%, 0,5% em outubro, subiu até 1,3% no começo de dezembro e, do começo de dezembro, desceu para 1%. Então, houve uma "quedinha" nesses últimos sete dias — salienta Schrarstzhaupt.
O patamar, ainda assim, é elevado e, na visão de Isaac, tende a lotar a capacidade hospitalar da cidade nos próximos dias caso a contaminação se mantenha no mesmo ritmo:
— Se esses casos continuarem gerando a mesma quantidade de internações que vêm gerando até agora, os leitos da UTI que temos hoje não aguentam. Aguentam no máximo uns cinco ou seis dias — acredita.
Na rede privada, o índice se mantém acima dos 90% desde quinta-feira — quando registrou 99% e, no dia seguinte, 94%. No domingo (13), registrava 96,55%. Já a rede pública subiu de 83% na quinta, para 87,65% na sexta e, mais recentemente, no domingo já estava em 93,83% de ocupação. Para comparativo, na última semana, dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informavam ocupação de 85% no SUS e 84% na rede privada.
O titular da pasta, Jorge Olavo Hahn de Castro, admite a preocupação com a incapacidade da rede de saúde em conseguir absorver o aumento contínuo de internações.
— Realmente, a taxa de ocupação está muito alta, principalmente no privado. Eles (hospitais) estão procurando abrir mais UTIs, nós estamos projetando aumento de leitos, mas a taxa de internação aumentou muito, muito mesmo. Inauguramos leitos há cerca de um mês e já estão esgotadas essas oito vagas — pontua Hahn.
Ao Pioneiro, no final da tarde de domingo, a assessoria do Hospital Virvi Ramos confirmou ocupação de 100% dos leitos de UTI e a tendência de seguir em alta durante a semana.
Situação em Caxias
16.155 casos positivos
14.703 recuperados
1.208 ativos
244 óbitos
Em uma semana
6/12
69 leitos ocupados no SUS (85%)
71 leitos ocupados na rede privada(84%)
13/12
76 leitos ocupados no SUS (93,83%)
82 leitos ocupados (96,55%)
Comparativo: Em uma semana, houve aumento de 8,83% pontos percentuais no SUS e aumento de 12,55% pontos percentuais na rede privada.
Fonte: Painel Covid da Secretaria Municipal da Saúde (dados coletados às 18h30min)
A solução é a conscientização
Na projeção do cientista de dados Isaac Schrarstzhaupt, até a virada do ano Caxias pode ter 3,4 mil casos a mais do que atualmente, alcançando quase 20 mil contaminados (em torno de 19,7 mil). A faixa etária de contaminação mais predominante, ele atenta, ainda é de jovens até os 25 anos. Ou seja, ainda não alcançou os idosos, apesar do surto localizado recente no Lar da Velhice São Francisco de Assis.
— O que pode vir a ajudar é uma redução de mobilidade, fazendo com que a gente diminua a quantidade de suscetíveis disponíveis para o vírus pegar. A gente está com (cerca de) 16 mil casos, vamos supor que tenham 10 ou 15 vezes mais casos do que os diagnosticados. Isso dá 160 mil, 200 mil pessoas. Significa que a gente ainda teria 300 mil pessoas suscetíveis. Na minha visão, suscetíveis ainda têm bastante.
O secretário da saúde de Caxias reitera orientações de evitar aglomerações ou exposição em público. Segundo ele, em razão do ritmo de internações, as festas de final de ano também devem ser uma questão de reflexão entre as famílias.
— Estamos exigindo o máximo dos profissionais da saúde, que estão adoecendo e a população não está se conscientizando disso. No ritmo que está é desaconselhável festas de final de ano, ir à praia. Se desaconselha reuniões para festas e comemorações. Ou, com o ritmo, logo não teremos mais nenhuma capacidade hospitalar — salienta Jorge Olavo Hahn de Castro.
Novos leitos, mas dificuldade de mão de obra
Tanto a rede pública quanto a privada se articulam para abrir novos leitos. No último final de semana, o Hospital da Unimed abriu quatro de 10 leitos que foram articulados desde o o novo pico de internações registrado. As outras seis ocupações devem ser inauguradas esta semana. Já o Virvi Ramos projeta a instalação de oito novos leitos para os próximos dias e passará de 26 para 34 vagas de terapia intensiva.
Já na rede pública, o secretário da Saúde confirma que há planos para abertura de novos leitos, embora sem previsão de quando ou a quantidade. Isso porque, segundo Castro, há dificuldades para encontrar profissionais de saúde no momento.
— Estamos avaliando a nossa capacidade, pois dependemos muito da mão de obra, cuja oferta está muito escassa. Os profissionais já estão esgotados, trabalhando em ritmo intenso e suscetíveis a contágio e fica imprevisível o número de funcionários. Se o funcionário adoece é 10 dias que ele fica afastado, na melhor das hipóteses — afirma.
Em razão do alto patamar de internações, em vídeo divulgado pela Unimed, o diretor técnico do hospital, Vinícius Lain, pede que pacientes busquem manter a rede hospitalar prioritariamente à disposição de pacientes considerados graves e comenta que, no final de semana, a instituição registrou a maior procura por rede hospitalar por pacientes graves por suspeita de covid e afirmou que o alto índice de contaminação está resultando no colapso do sistema de saúde da cidade.
Escalas são entraves
A diretora de Serviços Próprios do Hospital do Círculo, Isabel Bertuol, aponta outro gargalo que limita a ampliação de leitos: as escalas dos profissionais.
— Em se tratando de estrutura e equipamentos, temos como ampliar leitos, o problema é que estamos com dificuldade para fechar escala de leitos atuais. Quando falamos de ampliação falamos de novas escalas e a gente não tem mais disponíveis esses profissionais.
Ainda assim, segundo ela, a instituição avalia possibilidades para a ampliação de alguns leitos — seriam 13 leitos de enfermaria e cinco de UTI. Porém, ressalta que mesmo com a aumento da rede, em algum momento a oferta se tornará insuficiente diante do aumento contínuo de contaminação:
— Mesmo a gente ampliando novos leitos, se não conseguirmos conter a contaminação e o adoecimento da população em breve estaremos realmente saturados e não teremos mais condições de atender. Aí não teremos mais muito o que fazer em relação à ampliação da rede hospitalar.