O médico Drauzio Varella não espera uma solução a curto prazo para a pandemia, defende a volta às aulas planejada, mas somente após um formato central para todo Brasil e diz não compreender a mudança de comportamento da população em relação ao isolamento social. Nesta terça-feira (18), um dos profissionais mais ouvidos do Brasil concedeu entrevista ao programa Gaúcha Hoje da rádio Gaúcha Serra. Varella foi questionado sobre as possíveis vacinas que são testadas e patenteadas pelo mundo.
— Não podemos alimentar esperanças vãs, dizer que se vier a vacina, dará até pra fazer carnaval. Não, não vai dar! Se correr tudo muito bem, terá toda a produção e administração da vacina. Não resolve nosso problema agora! Ficar contando com uma vacina que poderá aparecer. Não dá pra contar com o futuro, o problema é agora — afirma.
Para Varella, o Brasil é um país ideal pra testar as doses de imunização.
— Você não vai testar vacina na Nova Zelândia que não tem mais casos, praticamente. As multinacionais precisam do Brasil pra fazer esses testes e isso nos daria força para fazer os melhores acordos. Vacinar é uma coisa que sabemos fazer. Temos o maior programa de imunização do mundo — diz.
Festa é crime - Conforme doutor Drauzio, as pessoas relaxaram no isolamento social sem lógica alguma. Se no início de junho houve um medo geral de sair de casa, agora há cansaço de permanecer nas residências. No entanto, a situação de crescimento no contágio em nada mudou.
— O vírus não quer saber se você está cansado de ficar em casa. Esperávamos o pico na curva em maio, depois em junho, julho e agora agosto. Na verdade, atingimos em maio e a esperada queda simplesmente não aconteceu. Qual é a lógica dessa mudança de comportamento? Uma coisa é ir pra rua e outra é fazer festa pra 500 pessoas, que é um crime! — afirma.
Para o médico, as mortes por covid-19 são evitáveis.
— Não é fácil manter o isolamento quando as pessoas se cansam e botam pra quebrar, vão a bares e sem medidas essenciais. Enquanto fizermos assim, não acaba (o vírus) e continuará morrendo gente! São mortes evitáveis! Não é como um tumor cerebral que você não tem como evitar. Não tem cabimento uma pessoa ir pra rua sem máscara e fazer aglomerações — ressalta.
Volta às aulas – Questionado sobre a possibilidade do Rio Grande do Sul retornar às aulas entre o final deste mês e setembro, o médico defende que o Brasil deveria adotar um planejamento central, partindo do governo federal.
— Temos que preparar as escolas para receber os alunos. Se as escolas irão voltar em agosto ou setembro, é outro problema. Tem que estar preparada com equipamentos individuais, espaços. Vejo isso em alguns pontos do país, mas tem que ser estendido a todos antes de marcar data. Se não, fica essa palhaçada que estamos vivendo, é agosto, é setembro — diz.
Conforme Varella, a maior preocupação é com o desenvolvimento das crianças fora da escola.
— Técnicos em educação dizem que esse tempo sem escola vai resultar em déficit cognitivo. Uma criança de seis anos aprende a ler em um mês, mas um idoso de 70 não. Alguns dizem: não abre mais até o fim do ano. Tudo bem, mas o que vai acontecer com essas crianças? Especialmente as mais pobres que dependem de merenda escolar — ressalta.
Preocupação - Mesmo com isolamento e evitando contágio, a população vive ainda outro problema: o aumento das crises de ansiedade e casos de depressão.
— Somos animais que foram selecionados pela capacidade de formar grupos, sobrevivemos em grupos. O mundo moderno foi nos isolando e quando você se tranca, esses problemas ficam mais sérios. Penso que vamos ter problemas sérios com crises de ansiedade e depressão, que vão persistir. E temos estrutura de SUS muito precária para esses casos — considera.
De acordo com o médico, mesmo antes da pandemia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já previa que a depressão seria a doença mais incapacitante do mundo.
Acompanhe, em áudio, entrevista do médico Drauzio Varella ao programa Gaúcha Hoje desta terça-feira (18).