Jema Deitos Scottá não receberá familiares com a mesa farta para celebrar o aniversário de cem anos neste domingo (9). A festa para comemorar o centenário da matriarca será trocada por acenos e sorrisos em chamadas de vídeo para que a data tão marcante não passe em branco.
Ela estará na casa onde vive com o filho Artêmio, 62 anos, e a nora Vanderleia, 48, na localidade de Arroio Canoas, no interior do município de Barão. Receberá o carinho dos netos Rodrigo, 28, Lucas 26 e Diego, 17 e da namorada de Lucas, Rafaela 26, que também residem com Jema, mas não poderá ganhar afagos e mimos dos demais parentes.
Em fevereiro de 2020, durante o casamento de um dos netos de Jema, a família começou a planejar a festa, mas teve que adiar a comemoração em função da pandemia. Descendente de italianos, Jema é referência na comunidade onde vive desde que nasceu.
- A memória dela é algo invejável. Ela é muito procurada até hoje por pessoas que querem escrever livros para contar histórias de família ou que tenham relação com a igreja e com região onde moramos. É a última de toda uma geração, ela é uma referência na família e na comunidade - conta o neto Rodrigo.
O carinho por dona Jema é tanto que não é apenas a família que a chama de Nonna, o que enche de alegria o neto, que aceita dividir a avó:
- Eles dizem vou visitar a Nonna, como se fosse a avó deles e sabemos que é carinho por ela. Sou muito grato. Amigos dos filhos e dos netos, os vizinhos, todos chamam ela de Nonna.
Hoje, Jema não atende mais o telefone de casa porque caminha com dificuldade, mas quando atendia e perguntavam quem fala, ela logo respondia: é a Nonna.
Centenário em meio à pandemia
Isolada desde que começou a epidemia, Jema não entendia porque as visitas, antes tão freqüentes, pararam. A ausência foi um pedido dos familiares para preservar a saúde da matriarca.
- Ela começou a perceber algo de errado quando as pessoas pararam de visitar e quando vinham e ela precisava usar máscara - conta Rodrigo.
A reportagem conversou com dona Jema por chamada de vídeo. Lúcida e bem atenta às perguntas, ela admite que é difícil ficar longe de quem ama:
- Sinto falta das visitas.
O neto conta que ela que nunca deixa uma visita ir embora sem um agrado:
- Um biscoito, um bombom...Dizem que isso ela herdou da mãe dela.
Sobre ter chegado aos cem anos, dona Jena declara:
- Não sei como vivi tanto, como cheguei até aqui.
Em casa, português é mais falado somente entre os filhos e os netos porque dona Jema gosta mesmo de se comunicar em talian. Ela recorda-se com detalhes de todas as situações que viveu ao lado do marido: o trabalho árduo no campo, a vida difícil, as sagras, a escola, o catecismo, a igreja.
- Foi uma vida de muito trabalho, mas sempre feliz - diz, com um sorriso tímido.
Quem é a Nona
Jema Deitos Scottá nasceu em 9 de agosto de 1920 na localidade de Arroio Canoas, no interior do município de Barão que, na época, pertencia a Montenegro. Ela é a 13ª filha dos imigrantes italianos Giácomo Deitos e Maria Chies.
Casou-se com Ernesto Fausto Scottá, com quem viveu quase 74 anos, até a partida dele em março de 2016. Eles se casaram num dia chuvoso, em 13 de junho de 1942, na igreja de madeira da localidade de Arroio Canoas.
O casal se conheceu entre 1937 e 1938. Segundo contam, eles se viam no rosário (reza do terço) e namoraram durante quatro anos. Eles residiram um tempo com os pais de Ernesto e, mais tarde, adquiriram um pedaço de terra onde a Nonna mora até hoje.
Criados em famílias religiosas, os dois mantinham o costume de rezar o terço todos os dias e de acompanhar a missa pela televisão.
- Ela sempre foi uma pessoa de muita fé. Reza por ela e por todos. Quando temos alguma necessidade, pedimos para ela rezar - conta o neto Rodrigo.
Jema e Ernesto tiveram oitos filhos. Dois morreram logo após nascer, sendo que uma das crianças seria a única menina entre os irmãos: Romildo, 76, Romeu, 73, Claudino 70, Francisco, 66, Artemio, com quem ela mora, e Bernardino 59. Ela é avó de 16 netos, 15 bisnetos e oito trinetos.
JEMA OU GEMA
A grafia do nome Jema sempre foi uma dúvida entre a família. Ela dizia que o nome dela era Ema. Nos documentos dos filhos, a grafia nem sempre é a mesma, em algumas certidões de nascimento consta Jema e em outras Gema.
Ela escreve Jema porque é como está na certidão de casamento, mas em 2019, o neto Rodrigo separava documentos para requerer a cidadania italiana e com a certidão de nascimento da avó em mãos desfez o mistério: o nome está escrito com G.
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