Com 86 anos de história, o tradicional Clube Gaúcho de Caxias do Sul pede socorro. Recentemente, a sede no bairro Pio X foi alvo de depredação e roubo, situações que geraram prejuízo estimado em mais de R$ 70 mil. No final de junho, a entidade teve o medidor de luz furtado no primeiro indicativo de que o local estava atraindo interesse dos criminosos. Por falta de recursos, em razão da pandemia, não foi possível restabelecer o sistema de alarmes, que coibiria as tentativas de ataque. No início deste mês, uma ocorrência, desta vez, com invasão.
— Fomos informados pelos vizinhos que estava tendo barulho dentro do clube e até nos questionaram se estávamos fazendo alguma reforma, dissemos que não e, quando fomos até lá, constatamos que havia sido saqueado, desde freezer, até parte elétrica toda e o que não foi levado, infelizmente foi danificado, desde lâmpadas, louça, freezers que (os criminosos) não conseguiram levar, todos os móveis, cadeiras, enfim, estava uma situação bem lamentável — relata a integrante do grupo de revitalização do clube, Maria Aparecida Batista Rodrigues.
Na investida, os ladrões não pouparam sequer a placa original de fundação do clube, de 1934. O furto e a depredação foram registrados em boletim de ocorrência na Polícia Civil. O 2º Distrito Policial (DP) de Caxias do Sul está responsável pela investigação.
Encarregado de tentar resgatar o espírito comunitário do espaço, um grupo de voluntários que desenvolve ações desde 2016 precisou reforçar a força-tarefa para realizar a limpeza e buscar a restauração emergencial do clube, atualmente com as atividades suspensas devido ao coronavírus. No último sábado, nove pessoas fizeram a limpeza do prédio, concluindo a primeira etapa da revitalização. A Codeca ajudou no recolhimento aos entulhos. Agora, o grupo busca recursos para tentar restaurar o que foi perdido na ação criminosa. O plano prioritário é arrecadar cerca de R$ 3 mil para restabelecimento da parte elétrica e instalação do sistema de alarmes.
— Pedimos qualquer valor que alguém puder contribuir, ou então, quem não tiver dinheiro, pode nos consultar porque precisamos de mão de obra e também de material. Toda ajuda é bem-vinda — diz Maria Aparecida.
Caso semelhante
Entre a noite dos dias 14 e 15 deste mês, a escola estadual Abramo Randon, no bairro Madureira, em Caxias do Sul, também foi invadida por bandidos, que roubaram alimentos e material escolar, além de um ventilador e uma escada. O local também foi alvo de depredação dos criminosos.
Recomeço forçado
Após anos de processo de deterioração física e perda de representatividade comunitária, a equipe de revitalização do Clube Gaúcho estava, desde o ano passado, conseguindo consolidar o processo de restauração do espaço.
— Até a pandemia, tínhamos a verba mensal da locação do baile da terceira idade e, com isso, conseguíamos manter pagamento de água, luz, IPTU; e o evento mensal que era o samba do mês, que gerava caixa. De julho do ano passado até fevereiro deste ano, conseguimos com esses recursos realizar pequenas reformas, como banheiro, pintura — informa Maria Aparecida.
Com o ato criminoso do início deste mês, a maior parte do trabalho vai precisar ser recomeçado.
— Tínhamos cinco freezers, dois deles foram roubados e os outros três totalmente danificados — acrescenta Maria Aparecida.
Tradição e importância histórica
A hoje Sociedade Recreativa e Cultural Gaúcho foi fundada em junho de 1934. Na época, dedicava-se ao futebol, mas também estava envolvida na organização de bailes, festas, quermesses e diversos outros eventos. Seu surgimento também visava fortalecer a comunidade negra e combater o racismo. O clube se estabeleceu de certa forma como contraponto à Festa da Uva, criada dois anos antes, que exaltava a descendência italiana de parte da população, assim segregando racialmente a região.
O nome Clube Gaúcho, inclusive, ressaltava a vinculação gaúcha em contraste ao cultural sentimento de italianidade que se buscava consolidar na cidade.
O local é também sede da tradicional escola de samba Protegidos da Princesa, que atualmente se configura como departamento do clube.
Apesar da vinculação com a comunidade negra, Maria Aparecida não acredita que o furto e o ato de depredação estejam ligados à discriminação racial:
— Enquadro como roubo e vandalismo, não acredito que tenha sido um ato de racismo. Mas, realmente, o ataque ocorre justamente numa época que o espaço negro sofre diversos ataques no mundo e o nosso clube é referência simbólica aos negros.
Quando fundado, em 1934, o clube chamava-se Sport Club Gaúcho. Posteriormente, passou a ser Esporte Clube Gaúcho e, em meados dos anos 1970, tornou-se oficialmente Sociedade Recreativa e Cultural Gaúcho. A agremiação já teve sede na Rua Pinheiro Machado (antes dos anos 1950) e, após, passou a funcionar no bairro Primeiro de Maio. Desde, 1978 o clube ocupava o prédio na Rua São José, 2.195, no bairro Pio X.
Como ajudar
A Sociedade Recreativa e Cultural Gaúcho pede auxílio financeiro para revitalização do espaço após ataques criminosos.
Depósitos
Banrisul
Agência: 0180
Conta corrente: 06.219695.0-3
Mais informações e contato
Instagram: (@sociedadegaucho)
Telefones da equipe de revitalização: (54) 99213-2503 / 99129-8713 / 99157-1547 / 99189-4081