O Rio Taquari ainda não baixou o suficiente para que os moradores de Santa Tereza fiquem tranquilos depois de uma das maiores cheias registradas na cidade. O município ainda se recupera do rastro de destruição deixado pela enchente de 8 de julho e se mantém alerta para a possibilidade de novas enchentes. Cortada pelo rio e por dois arroios, o Vinte e Dois e o Marrecão, a cidade amarga um prejuízo de cerca de R$ 3 milhões. O número pode ser ainda maior, já que o levantamento feito pelo município é parcial.
Após oito dias ainda há muito trabalho a ser feito para reconstruir o que a água levou. Na manhã desta quinta-feira (16), a maioria das moradias que foram tomadas pela água estavam com as janelas abertas para ventilar. Bem próximo ao rio, Erick Mohr Bongiorno, 15 anos, ajudava a família a limpar a moradia:
- A água chegou até a parabólica. O que tinha no porão foi carregado e boiava na água. A gente fica sem reação. Ja tinha entrado água, mas não assim - diz ele, apontando para o segundo andar.
Leia mais
Rio Taquari sobe e deixa pelo menos 32 pessoas desalojadas em Santa Tereza
Oito dias após enchente, moradores do interior de Bento Gonçalves ainda limpam casas
Com a previsão de chuva, cresce também o medo entre os moradores do município serrano.
- A gente fica apreensiva, mas confiante que não chova igual. Temos medo, mas é a natureza. Moro aqui há 22 anos e nunca veio água assim - lamenta Levina Vinhatti, 72 .
Na Avenida Itália, quatro casas foram condenadas pela Defesa Civil. Como a de Irina Rosa Caumo, 72, e do marido, Arlindo Chiminazzo, que precisarão deixar o local.
- É muito sofrido, mas é preciso. Não chegou a entrar água no segundo andar, mas a casa foi condenada. É triste sair, mas é o melhor porque vamos deitar com medo que comece a chover - lamenta Irina.
Para Alcides Antônio Galves, 61, a apreensão continua:
- O rio não chegou no assoalho da minha casa, mas na do meu irmão chegou a mexer na estrutura. Subiu muito rápido a água.
Marcas na madeira
Em um galpão ao lado do rio há três marcas. A primeira, de agosto de 2001, a segunda de outubro daquele mesmo ano e, a terceira, deste último 8 de julho. Nelson Vinatto, 78, lembra ainda que em abril de 1954 houve uma enchente histórica na cidade, mas que essa foi ainda mais devastadora:
- A água subiu muito. Moro aqui desde os cinco anos e nunca vi nada igual. A última marca está 41 centímetros a mais que a anterior, em 2001. Naquele ano, o rio estava seco e 24h depois estava transbordando. Dessa vez foi a mesma coisa, mas ele subiu muito rápido. Eu acordei aí pela meia-noite e não tinha água na rua. Levantei novamente às 2h e já tinha muita água. Tudo muito rápido - conta.
Hora de reconstruir
A força da correnteza derrubou árvores e levou lama e barro para dentro das casas. O prefeito Gilnei Fior (MDB) acredita que será necessário pelo menos um mês para recuperar as estradas e perdas que ocorreram no interior do município. Além disso, outros 10 dias para limpar a sujeira e começar a reconstrução da cidade.
Pelo menos 23 famílias perderam tudo o que tinham. Além das quatro casas interditadas, outras 95 foram abandonadas durante a enchente. Santa Tereza segue de prontidão, mas Fior acredita que o rio não volte a subir tanto. Em meio a tanta destruição, criou-se também uma rede de solidariedade:
- Em 2001, vivemos uma forte enchente. Mas, desta vez, a água subiu muito rápido. Nas outras, as pessoas ficaram nas casas e dessa vez os bombeiros tiveram que resgatar os moradores. Foi bem pior. Recebemos muitas doações da cidade e da região. Estamos até encaminhando algumas para municípios vizinhos. Temos que agradecer a quem nos apoiou e somos gratos a quem nos ajudou tanto nesse momento - destaca o prefeito.
Novo alerta
Na tarde de quarta-feira (15), a Defesa Civil estadual emitiu um novo alerta para a possibilidade de inundação em 17 cidades gaúchas, entre elas Santa Tereza e São Sebastião do Caí, na Serra, em decorrência das chuvas acumuladas desde esta quinta-feira (16). O aviso tem vigência de 48 horas e foi emitido em função de inundações nas bacias dos rios Gravataí, Sinos, Caí e bacia do Taquari.
Além das cidades serranas, Alvorada, Cachoeirinha, Campo Bom, Canoas, Gravataí, Novo Hamburgo, Porto Alegre, São Leopoldo, Sapucaia do Sul, Montenegro, Lajeado, Roca Sales, Estrela, Muçum e Encantado também estão no monitormento da Defesa Civil.