A saúde e a lucidez que dona Maria Luiza Donida esbanja aos 99 anos são motivo de orgulho para ela e seus familiares. A moradora mais velha de Nova Roma do Sul chegou a virar case de reportagem sobre a liderança do município, justamente em saúde, no ranking estadual do Índice de Desenvolvimento Socioeconômico (Idese) 2018 — posto ocupado pela cidade também em 2017 e 2019.
A longevidade da matriarca, que estampou o noticiário como exemplo de saúde na pequena cidade serrana, provou-se ainda mais persistente diante de uma doença que, nos últimos meses, tem sido uma iminente ameaça à vida, sobretudo para idosos: a covid-19. Maria Luiza testou positivos após exame feito no último dia 22. Naquela semana, ela sentiu falta de ar e buscou atendimento. Desde o diagnóstico, não precisou ficar internada: se recupera em casa, em isolamento domiciliar. Um novo teste será feito neste sábado (1º).
— Eu tive falta de ar depois de ficar uns três dias com dor de cabeça e sem vontade de comer. Agora passou tudo, estou bem e dormindo de noite que é uma beleza — garante a idosa.
Até o início da tarde de quinta-feira (30), somente no Rio Grande do Sul, 1.750 mortes associadas ao coronavírus foram registradas. Destas, 79,4% foram de pessoas com mais de 60 anos. A alta taxa de mortalidade entre idosos, identificada desde o início da pandemia, faz com que eles sejam considerados grupo de risco. Pelo mesmo motivo, dona Maria Luiza diz que temia a doença e mantinha todos os cuidados possíveis para evitá-la.
Mesmo permanecendo em casa, ela não deixou de ter contato com os familiares com quem reside: a filha Geni, 67, a neta Graciela, 41, o marido da neta, Paulo, 44, e a bisneta, Maria, 14.
— São três gerações morando na mesma casa. Minha mãe e minha filha praticamente não saem, mas meu marido e eu continuamos trabalhando, tomando todos os cuidados para evitar o contágio. Não sabemos quando e nem de que forma o vírus acabou sendo transmitido. Agora estamos todos em isolamento com a vó. Não tivemos sintomas e sábado também faremos os testes — relata a neta Graciela.
Assim como todos que ficam sabendo do caso da idosa de Nova Roma do Sul, a neta também se diz surpresa com a recuperação da avó que, segundo ela, tem sido rápida e tranquila desde que ocorreu a falta de ar, ainda na segunda-feira (20).
— Ficamos muito assustados quando ela começou a passar mal. Levamos ela até o posto de saúde, ela precisou de oxigenação, mas logo ficou estável. No dia seguinte fomos pra Antônio Prado para fazer alguns exames e, na volta, foi coletado material para o teste de covid-19. Ela só apresentou melhora desde então — conta Graciela.
Ao lado de Mimi, sua companheira felina, Maria Luiza continua executando normalmente suas atividades diárias, como assistir televisão, fazer crochê, rezar o terço e tomar um pouco de sol no quintal de casa, quando o clima colabora. A idosa completa 100 anos no dia 21 de dezembro, com festa planejada pela família, mas encara essa recuperação — e a vida, por si só — como um grande motivo de celebração.
— Novantanove anni sono una lunga vita (Noventa e nove anos é uma longa vida) — conclui dona Maria Luiza, no dialeto italiano.