As cremações de mortos com confirmação ou suspeita de covid-19, até então realizadas gratuitamente pela prefeitura de Bento Gonçalves a pessoas em vulnerabilidade social, estão suspensas desde segunda-feira. A Secretaria de Gestão Integrada e Mobilidade Urbana da cidade solicitou a paralisação temporária do serviço, que era prestado pelo Grupo L. Formolo por meio de licitação, em razão de suspeitas de que pessoas que não se enquadravam nos critérios estabelecidos estarem usufruindo do benefício.
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A intenção da prefeitura, assim, é readequar os protocolos. As cremações gratuitas são disponibilizadas para famílias de baixa renda, cadastradas no Centro de Referência de Assistência Social (Cras), que não têm túmulos, jazigos ou capelas próprias. A readequação deve reforçar que o serviço é exclusivo para famílias inseridas no Cadastro Único da Assistência Social. A previsão de retorno é para os próximos dias. Até lá, as vítimas com confirmação ou suspeita de covid-19, que seriam cremadas pelo município, vão ser enterradas.
Ainda na segunda-feira, o Grupo L. Formolo divulgou nota afirmando estar surpreso com a suspensão do serviço. A contratação do Memorial Crematório São José, de Caxias do Sul vigora desde 22 de junho. O contrato tem validade por 12 meses e autoriza até 400 cremações por ano e a exumação de 200 jazigos no Cemitério Municipal de Bento Gonçalves. Segundo a empresa, 20 exumações foram realizadas nos dias 9 e 10 de julho. Além desses procedimentos, o contrato previa o fornecimento de uma urna funerária, o transporte até o crematório, em Caxias, e a entrega das cinzas da vítima para a família.
As cremações particulares seguem sendo realizadas normalmente, ao preço de R$ 3.050 pelo serviço completo, valor que pode ser parcelado em 12 vezes no cartão de crédito.
Cadastro na FAS
Em Caxias do Sul, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma) contratou os serviços de cremação para as vítimas de coronavírus pertencentes a famílias cadastradas na Fundação de Assistência Social (FAS). Conforme a pasta, a medida foi tomada de forma preventiva, caso seja registrado um aumento abrupto na necessidade de sepultamentos nos cemitérios públicos da cidade em função de mortes por coronavírus.
Os riscos nos velórios
Desde março, as funerárias estão seguindo as diretrizes dos órgãos de saúde para impedir o contágio por coronavírus em velórios. Entre as medidas do Grupo L. Formolo, por exemplo, está a diminuição da duração das cerimônias. Os velórios devem ter no máximo 4h de duração e a circulação de pessoas tem de ser de apenas 30% da capacidade da sala.
Em caso de morte confirmada ou suspeita por covid-19, o caixão é lacrado e o corpo segue diretamente para o cemitério ou o crematório, como explicou o diretor comercial da empresa, Mateus Formolo, em entrevista ao Pioneiro em abril:
— Nesses casos, não se realiza velório. Quando a pessoa vai ser cremada, abrimos a possibilidade da família acompanhar uma leitura de reflexão, uma mensagem de acolhimento, durante 10 minutos, que é feita em uma estrutura externa montada com uma tenda.
A infectologista Viviane Buffon reforça que a principal forma de transmissão do vírus é por meio de gotículas respiratórias produzidas quando alguém fala, espirra ou tosse. De acordo com ela, esse tipo de propagação não é uma preocupação após a morte. Contudo, é possível contrair a covid-19 tocando uma superfície ou objeto com o vírus e, em seguida, tocando a própria boca, nariz ou olhos. Assim, as pessoas — principalmente idosos ou portadores de comorbidades como câncer, diabetes e outras doenças imunossupressoras — não devem encostar no corpo, conforme orientado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pelo Ministério da Saúde.
A médica também lembra que, em velórios, as pessoas acabam tirando a máscara, chorando e ficando próximas umas das outras:
— É importante pensar também que pessoas da mesma família podem estar com a doença em sua forma leve e ainda não ter o diagnóstico, sendo propagadores do vírus no ambiente do funeral. Então, nesse momento, apesar de muito doloroso por não podermos nos despedir da forma habitual dos nossos entes queridos, é o mais seguro para todos. O intuito dessas orientações é evitar que outras pessoas adoeçam e venham a falecer — finaliza.