Duas famílias de Flores da Cunha temem perder propriedades, onde construíram casas e cultivam frutas e verduras, caso o Rio das Antas seja inundado. Para eles, há um risco real da barragem da pequena central hidrelétrica (PCH) Passo do Meio romper devido a uma fissura. No interior do município, quatro casas próximas ao rio estão na zona de impacto e foram interditadas pela Defesa Civil estadual e pelos bombeiros na quinta-feira (30). A orientação é que as famílias não entrem nesses imóveis pelos próximos 20 dias.
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A evacuação faz parte do plano de emergência da empresa Energética Campos de Cima da Serra. Como serão realizadas manobras para resolver a fissura, detectada no sábado (25), a decisão foi retirar as famílias como medida de prevenção, segundo a empresa. A barragem fica no distrito de Cazuza Ferreira, em São Francisco de Paula.
Para os moradores, no entanto, terem sido retirados e até mesmo recebido a orientação para que removessem móveis _ a empresa faria o transporte _ gerou preocupação:
- Minha casa fica uns 90 metros longe da caixa do Rio das Antas. Na última enchente de julho, a água devastou o terreno e chegou a raspar na casa. É assustador pensar que a água pode levar tudo - desabafa o ex-técnico da Emater e agricultor Valdir Franceschet, 64 anos.
Dos quatro proprietários, ele é o único que vivia nas margens do rio. A propriedade fica no Travessão Rondelli e tem 12 hectares, sendo que quatro são destinados à produção orgânica de frutas, entre elas, acerola e goiaba. Há 10 anos, era apenas um lugar para passar os finais de semana e cultivar frutas e verduras, mas, depois que se aposentou, Franceschet passa apenas dois dias na área urbana de Flores. Ele ressalta ainda que, na última enchente, o crescimento lateral do rio foi de 75 metros e água encobriu as árvores, o que aumenta a preocupação.
- Se romper e o crescimento lateral do rio for de 80 metros, não sobra nada. É algo que apavora porque assistimos essas tragédias apenas pela TV. Não consigo acreditar que está acontecendo aqui. A prevenção é o caminho porque nada vale mais que a vida. Há preocupação sim porque a empresa não abre muito...não nos passa detalhes. Para mim, há um risco real de inundar em função das manobras que eles precisam fazer para consertar a fissura.
O pensamento é o mesmo de outra família que precisou deixar a casa. No portão, a faixa amarela indica que a área está isolada. Na porta, há uma placa onde consta que a casa está interditada. Uma das moradoras, que prefere não se identificar, ajudava os pais a colher frutas antes de deixar a propriedade.
- Nos advertiram para desocupar e ofereceram caminhão para transportar os móveis e hospedagem em hotel, se fosse preciso. Estamos desocupando a casa. Fica a apreensão pelo poder de devastação do rio porque há 20 anos ele não subia tanto quanto subiu com a chuva e já faz estragos. Imagina, se a barragem estourar leva tudo embora - diz a mulher de 42 anos
REFLEXO EM OUTRAS CIDADES
Além das quatro moradias interditadas em Flores da Cunhas, outras 19 estão isoladas. Essas propriedades estão localizadas no distrito de Criúva, no interior de Caxias do Sul, onde não há moradores residindo, em São Marcos, Campestre da Serra e Antônio Prado.
O subchefe de Defesa Civil do RS, coronel Rodrigo Dutra, afirma que o nível do rio das Antas está sendo monitorado em conjunto com a Sala de Situação da SEMA, de forma permanente.
- Há três barragens em sequência e a percolação (fissura) está localizada na barragem mais acima, sendo que, em caso de ruptura total daquele barramento há mais duas barragens para conter a onda de cheia, o que, conforme atesta o empreendedor, traz segurança à operação de evacuação de emergência.
A Coordenadoria Regional de Defesa Civil na Serra instalou ainda na quarta-feira (29) um Sistema de Comando de Incidentes para gerenciar as ações das cinco equipes responsáveis por realizar as notificações e a remoção das famílias no curso do rio.
CONTRAPONTO
A empresa Energética Campos de Cima da Serra, responsável pela barragem, se manifestou por meio de nota:
"A Energética Campos de Cima da Serra informa que a PCH Passo do Meio está sob monitoramento contínuo e suas condições permanecem inalteradas, operando regularmente. Foram realizadas novas inspeções submersas em alinhamento às medidas corretivas estabelecidas e mobilização de mão de obra com os treinamentos necessários para a realização das atividades de forma segura, com previsão de duração das obras de aproximadamente 20 dias. A remoção dos moradores foi realizada para a segurança dos moradores durante as manobras e ações corretivas que serão iniciadas na barragem da usina nos próximas dias. A devida assistência será prestada a todos os proprietários. A medida possui caráter preventivo e temporário, e foi tomada de maneira conservadora pela companhia para a segurança dos moradores A empresa segue trabalhando ininterruptamente para solucionar o caso."
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