Augusta Mezzomo Zanette não poderá abraçar toda a família nesta sexta-feira (24), dia em que comemora os cem anos, mas ganhará o carinho de filhos, netos e bisnetos em uma festa virtual. Mesmo de longe, os familiares tentam demonstrar a ela que a vida os presenteou com uma matriarca corajosa, determinada e que é um exemplo a ser seguido. Em meio à pandemia, ela verá os entes queridos por chamada de vídeo e também receberá mimos pelo correio para que a data tão importante não passe em branco. A família planejava fazer uma festa em Caxias do Sul, assim como o aniversário de 99 anos celebrado em 2019, em Osório, onde ela mora com a família da filha mais velha, Vera Lúcia Zanette há mais de cinco anos. A pandemia, no entanto, modificou os planos.
A reportagem conversou com ela por chamada de vídeo. Dona Augusta está bem de saúde. Tem apenas certa dificuldade para ouvir.
- Não acredito que cheguei tão longe - diz ela com um sorriso que mesmo na tela do celular ilumina o ambiente.
A idosa que passou pela Revolução de 1930 e pela Segunda Guerra Mundial (1939-1945), nunca imaginou que teria que celebrar sem poder estar ao lado de quem ama. Ela conta que não está triste porque tem contato com a família por vídeo, mas admite estar cansada do isolamento social. Vaidosa, reclama que não pode ir ao salão que frequentava todos os meses.
Ativa ela se preocupa com o esposo Gentil Zanette, 97, que tem dificuldade para caminhar. A primogênita conta que a mãe é uma amiga e confidente:
- Sempre pronta para ouvir a todos. Ela é carinhosa e calma, e está sempre dando um jeito para tudo. Hoje está protegida e tranquila aqui em casa.
A caçula Cláudia Zanette, 56, conta que ela, as irmãs e o irmão estão felizes pela passagem dos cem anos da matriarca:
- Seus filhos, cinco netos e quatro bisnetos, além de nora e genros prepararam vídeos e ligações de celular com câmera para estarem um pouco ao seu lado nesta data tão especial para ela e ainda mais para nós.
História de dona Augusta
Filha dos imigrantes italianos Domingos Martim Mezzomo e Joana Dalla Corte Mezzomo, ela nasceu em 24 de julho de 1920 em São Martinho da II Légua, então Distrito de Caxias do Sul. Os pais vieram para o Brasil em 1883. Na Itália, eles viviam em Feltre, na província de Belluno, região do Vêneto. Augusta teve 11 irmãos, e viu todos partirem ao longo da vida. Aos 12 anos, ela saiu do interior para morar na cidade e ajudar uma das irmãs que já era casada a criar os seis filhos. A família morava no bairro São Pelegrino.
Em 1947, ela se casou com Gentil Zanette. O casal completa 73 anos de casados, Bodas de Manjerona, em novembro de 2020. No bairro de São Pelegrino construíram sua família. Em 1953, enfrentaram lado a lado a morte de uma das filhas, a então caçula Isabel, quando a menina tinha dois anos. Augusta já era mãe de Vera e estava grávida de Roberto, 67. Depois do filho, o casal teve mais duas filhas, Lizete, 64 e Cláudia. A caçula se orgulha:
- Ela foi corajosa ao ter a última filha, eu, aos 44 anos de idade. A mãe viveu muitas perdas nesse tempo de vida. Não consigo nem imaginar a dor de minha mãe ao perder minha irmã. Depois foram partindo parentes, irmãos, conhecidos, mas ela sempre aguentou firme e seguiu alegre. Ela viu a cidade que ama se modificar, muitas lojas e comércio fecharem e abrirem outras no lugar e as casas sendo substituídas por prédios em Caxias - relata Cláudia.
Apesar de residir desde 2015 em Osório, Augusta relembra com saudades os anos felizes em que viveu no bairro São Pelegrino. A família morava na Rua Visconde de Mauá. Católica e religiosa, ela sempre frequentava a Igreja do bairro. Como boa italiana gostava de reunir a família ao redor de uma mesa farta.
- Tínhamos no quintal de casa muitas árvores de frutas: pereira, laranjeira, abacateiro e figueira. Fazíamos figada, uvada, marmelada no quintal com fogo de chão e tacho de cobre. Em nosso fogão à lenha fazíamos pinhão cozido na chapa e polenta brustolada. Era uma época muito boa. Ela nos ensinou a cozinhar, fazíamos massa em casa como espaguete, tortei, etc. Aprendemos para a vida pelo exemplo de perseverança, batalha e conquistas - emociona-se a filha.
Costureira de "mão cheia"
Augusta amava costurar. A paixão dela era confeccionar vestidos de noiva. Também gostava de criar peças femininas.
- Muito calma e paciente ela costurava roupas para nós três. Foi a mãe que fez o vestido de noiva de minha irmã Lizete, e eu casei usando o mesmo vestido.
Augusta costurava até tarde quando os filhos eram pequenos, e até hoje faz crochê. Ainda troca modelos de pontos com uma das netas para quem repassou os conhecimentos quando ela era uma menina de nove anos. A aniversariante estava sempre envolvida com a moda porque precisava saber das tendências para atender os pedidos das clientes:
- Saiamos à rua com ela e sempre olhávamos vitrines para ver as tendências da moda. Claro que depois também queríamos que ela costurasse as peças mais legais para nós - relembra a filha com saudades.