O terceiro paciente que recebeu a transfusão de plasma convalescente contra a covid-19 segue precisando de ajuda. Chileno naturalizado brasileiro, Victor Manuel Veloso Mendez, 64 anos, é morador de Caxias do Sul, onde chegou ainda na década de 1970, aos 18. Metalúrgico desempregado, ele recebeu uma bolsa do líquido retirado do sangue de pessoas recuperadas do coronavírus, mas precisa de uma segunda transfusão, o que ainda não ocorreu pela falta de doadores compatíveis.
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Segundo o filho, Daniel Gustavo Veloso, o processo de piora do pai diante da covid-19 foi rápido. Na quarta-feira (10), ele foi internado no hospital Virvi Ramos e, na mesma noite, foi levado à Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
— Ele vinha se sentindo mal em casa, mas não falou nada. Pensava que ia melhorar, não acreditava que era problema do coronavírus. Até que na quarta-feira teve uma diarreia muito forte e ficou assustado. Estava muito fraco. Quando chegou no Postão (UPA Central), já foi diagnosticado com os sintomas e o resultado positivo saiu no sábado (13) — diz o filho, relatando a última conversa do pai antes de entrar na UTI:
— Ele falou chorando, desesperado, com a minha mãe, dizendo que se arrependia, porque era um dos que não acreditava em isolamento social, no uso de máscara. Dizia que isso era só bobagem da mídia, que era coisa de comunista. Antes de entrar em coma ele estava muito arrependido das atitudes dele.
O contato mais provável, segundo acredita a família, veio de uma visita que Victor recebeu há cerca de 10 dias.
— Ele é religioso e seguia as diretrizes do nosso presidente (Jair) Bolsonaro (sem partido), mas estava ficando em casa. A questão é que não levava a sério e acabou recebendo um amigo, que a gente não sabe quem é. Convidou ele para entrar em casa e tomar um café. Esse amigo estava sem máscara, tossiu, começou a se sentir mal e foi embora — explica Daniel.
Após a primeira transfusão de plasma convalescente em Victor, a família aguarda para que a segunda doação apareça e que o pai, bastante debilitado pelo tempo na UTI e pela condição, consiga reagir à terapia.
— É uma esperança. Essa terapia com o plasma dá uma diferença de uns 8 a 12%, mais ou menos, em relação ao grupo de controle. Daí tu vais dizer que esse número é muito baixo, mas para quem tem um familiar na UTI à beira da morte, 8 a 12% pode fazer a diferença entre viver e morrer. Acredito que essa terapia ainda é a melhor arma que temos no momento — diz Daniel, ciente de que a condição crítica do pai pode dificultar na aceitação ao tratamento.
O apelo maior do filho de Victor é que mais homens que se recuperaram do coronavírus - que são os doadores aceitos nesse momento - possam doar o plasma convalescente, para que mais pacientes possam ter a chance de recuperação através do tratamento. Daniel, inclusive, sabe uma das missões que terá quando o pai conseguir vencer essa batalha:
— Ele se recuperando, vou dar a maior força para que vá doar o plasma dele também. E que os homens que se recuperaram do coronavírus tenham essa consciência de que eles tiveram a oportunidade de serem salvos, de superar a doença, e podem salvar outras vidas.
Segunda bolsa
A expectativa é que a transfusão da segunda bolsa de plasma convalescente em Victor seja realizada em breve. Segundo a médica intensivista Eveline Maciel Correa Gremelmaier, ainda há necessidade de alguns tipos sanguíneos entre aqueles recuperados e que já fizeram a doação no Hemocentro de Caxias do Sul (Hemocs).
— A maioria dos pacientes que precisaram de bolsa são do tipo (sanguíneo) A+. Têm pessoas do tipo A no cadastro do hemocentro, mas só haviam quatro bolsas coletadas e essas já foram utilizadas. Então, o Hemocentro está chamando essas pessoas para coletar. Algumas coletas já foram feitas hoje (segunda-feira, 15) pela manhã e até o final do dia vamos saber se esse material poderá ser utilizado no paciente ou não. Conforme os exames de laboratório, que coletam sorologias e outras especificações do sangue, para ver se tem compatibilidade — afirma a médica.
Uma quarta transfusão estava prevista para ocorrer na tarde desta segunda-feira, no Virvi Ramos. O receptor é um homem de 40 anos, morador de Caxias do Sul, com histórico de obesidade. Ele estava no Hospital Geral e foi transferido durante a última madrugada.
O Virvi tem homologação para estudo e uso do plasma pelo CONEP - Comissão Nacional de Ética em Pesquisa.