Como forma de ampliar o acesso aos testes rápidos de anticorpos para o novo coronavírus, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, ainda no dia 28 de abril, a aplicação em farmácias e drogarias de todo o país. Em contato com as principais redes que possuem unidades na Serra gaúcha, porém, a reportagem não encontrou nenhum estabelecimento que estivesse comercializando o teste.
As exigências da Anvisa somadas à rara disponibilidade do material no mercado e à baixa assertividade dos resultados obtidos são fatores que fazem algumas farmácias avaliarem o fornecimento dos testes.
As farmácias São João fizeram os testes em uma loja da Região Metropolitana, mas, em função da grande procura, o estoque foi esvaziado. Os demais produtos adquiridos pela rede foram comercializados para empresas. Na terça-feira (19), redes como a Panvel e Farmácias Associadas ainda estavam em fase de negociação com laboratórios e também não tinham previsão de quando os testes estarão disponíveis.
Além da dificuldade em encontrar os kits no mercado, uma vez que existe alta demanda, as farmácias que pretendem disponibilizar os testes deverão, segundo exigência da Anvisa, dispor de um espaço adequado, exclusivamente destinado à aplicação. O serviço poderá ser prestado somente por profissional farmacêutico, com capacitação específica. O estabelecimento precisa oferecer álcool gel 70% e exigir o uso de equipamentos de proteção individual para todos os envolvidos no processo, como pacientes, farmacêuticos e auxiliares.
De acordo com o farmacêutico Antonio Veiga Junior, das Farmácias Associadas de Feliz, outra exigência é que, quando positivos, os resultados dos testes sejam reportados ao órgão responsável. A chance do chamado "falso negativo", porém, é um dos pontos que ele acha importante considerar neste momento.
— O fabricante deverá ser aprovado pela Anvisa mas, mesmo assim, o índice de assertividade do resultado gira em torno de 75%. Além disso, tem a questão da janela imunológica. Como ele detecta apenas anticorpos, e não o vírus em si, pode ser que o teste dê negativo porque o organismo ainda não teve tempo de produzir estes anticorpos. Neste meio tempo, a pessoa tendo sintomas ou não, ela já é transmissora. Então precisamos avaliar o quanto isso ajuda realmente ou pode trazer uma falsa sensação de tranquilidade — explica o farmacêutico.
Ainda de acordo com o profissional, a oferta de testes provavelmente levará em conta fatores como o percentual de contaminação e a procura que houver por parte dos clientes em cada unidade.
COMO FUNCIONA
:: Para o teste rápido, a coleta de sangue é semelhante à que é feita para medição de glicose, com uma picada no dedo. O exame só é indicado a partir do sétimo após o surgimento dos sintomas da doença. Esse tempo é necessário para que o organismo tenha produzido quantidade suficiente de anticorpos que possa ser detectada no teste.
:: O teste autorizado para as farmácias é capaz de detectar dois tipos de anticorpos: o IgM, que começa a ser produzido a partir do oitavo dia após a infecção, e o IgG, que passa a ser produzido depois de aproximadamente 15 dias, e perdura no organismo.
:: Devido a estes fatores, o teste rápido pode ajudar a mapear quem já teve a doença, mas não serve para fazer diagnóstico preciso, nem para liberar pessoas da quarentena.
:: Antes da aplicação, a orientação é que se faça uma entrevista com o paciente para deixá-lo ciente das limitações do teste e também coletar informações para confirmar a viabilidade da aplicação em relação à janela imunológica.