Com queda brusca nos rendimentos, os recicladores de Caxias do Sul enfrentam grave crise e pedem ajuda da população para pagar aluguel, luz e água. O apelo foi lançado nas redes sociais pela ONG Maricotas em Ação com o objetivo de arrecadar R$ 24.020,00 por meio de uma vaquinha na internet. O recurso servirá para quitar as despesas de 12 associações que vencem na primeira semana de maio. É aceito qualquer valor e operação é realizada de forma bem simples. Também é possível doar alimentos, produtos de higiene e limpeza. Veja como contribuir no final desta reportagem.
Atualmente, a prefeitura distribui aos trabalhadores cestas básicas para levar para casa e o Banco de Alimentos entrega mantimentos para o almoço e jantar durante o horário de expediente das associações. Apesar de importante, a ajuda não é suficiente. O drama entre os cerca de 250 recicladores e suas famílias ficou escancarado logo no início do primeiro decreto do distanciamento social, no dia 21 de março. Com indústria e comércio fechados, houve queda na procura por papel, plástico e alumínio, entre outros. Logo em seguida, os preços dos materiais reutilizáveis desabaram e a partilha do lucro baixou em torno de 30% entre os cooperados das associações conveniadas ao município. Como a faixa de rendimentos dos trabalhadores do setor é pouco maior do que um salário mínimo, a redução representa um grande rombo no dia a dia das famílias.
Os reflexos maiores serão sentidos agora em maio porque há recicladoras que não têm dinheiro para bancar o aluguel dos pavilhões e outras despesas básicas. Será um efeito cascata. Despesa quando atrasa e acumula de um mês para o outro, traz o aumento do endividamento. Com mais contas na fila, o lucro partilhado entre os trabalhadores é menor, sem contar o risco de despejo e o corte de luz e água. Em pouco tempo, o negócio fica inviável e enfrenta a possibilidade de fechamento. Se isso acontecer, haverá um grande impacto social e ambiental que cairá no colo de toda a cidade. É por isso que o setor precisa urgentemente do apoio externo.
O caso da Associação de Recicladores Belo Horizonte ilustra o momento de adversidades. São 75 trabalhadores associados que atuam em três turnos das 7h às 3h. Mensalmente, essa mão de obra consegue separar e destinar para reaproveitamento 900 toneladas de resíduos produzidos pela população. No final do ano passado, um incêndio consumiu o pavilhão da reciclagem, causando um prejuízo de R$ 40 mil. O grupo reconstruiu a estrutura com dificuldades. Em abril, a crise voltou a se mostrar mais forte por conta da pandemia. A associação teve condições de pagar 60% do valor do aluguel e deixou R$ 2 mil pendentes com o locatário. A conta de luz também foi para a gaveta. Essas despesas se somarão a outras que chegam agora em maio. Os gastos só serão equilibrados se a cota da vaquinha online for completada.
- São cerca 250 caminhões da Codeca que trazem o material aqui. Se fechamos as portas, o material acabará indo para o aterro (já saturado). É um impacto muito grande no meio ambiente. Sem contar que serão 75 famílias sem nenhuma renda - alerta Tiago Pavelski, presidente da Belo Horizonte.
Preços menores minguaram rendimentos
Não é fácil fechar a contabilidade na Associação de Recicladores Centenário. O coordenador do grupo, Adroaldo Flores, diz que as empresas não estão conseguindo revender o material coletado nas associações. Foi o que bastou para fazer o preço despencar. O alumínio, por exemplo, teve uma redução de R$ 1 no quilo. E a tendência é de que os valores reduzam ainda mais.
- O grande problema é que o pessoal que compra não está conseguindo vender, os preços baixaram. Além de não estar saindo, há também a concorrência com material que vem do Canadá, da China - lamenta o reciclador.
A associação liderada por Adroaldo ainda não atrasou pagamentos e tenta negociar um desconto na locação do pavilhão. Para maio, não há garantia de pagamento das despesas. A partilha dos 17 trabalhadores cooperados baixou de R$ 1,1 mil mensais para R$ 800. A renda minguada compromete a compra da alimentação.
- Tínhamos uma folga nas contas porque os parceiros adiantavam pagamentos futuros, mas isso não está mais sendo feito. Se não consegue pagar luz, corta, se não consegue comprar EPIs, como faz?
Gerente de uma empresa que adquire a produção das reciclagens, Eli Antônio Wisnieski aponta que houve baixa nos negócios no auge do distanciamento social. Faltou compradores e matéria-prima, mas ele acredita numa reação do setor.
- O preço do papelão já começou a reagir e é capaz de aumentar, plástico tinha dado uma baixa, papel branco deu uma caída, baixou uns 10%. Caiu uns 20% a circulação do material na minha empresa, mas de alguma forma está dando uma reagida - aponta Wisnieski.
Alimentos e produtos de limpeza também são necessários
O apoio aos recicladores partiu da ONG Maricotas em Ação, que já desenvolvia uma parceria com a Associação Belo Horizonte. Taís Menegussi, coordenadora da organização voluntária, lembra que os trabalhadores já enfrentam a insegurança alimentar e é necessário que a população ajude com certa urgência com as doações em dinheiro. A reunião que definiu a criação da vaquinha ocorreu na semana passada.
- O dinheiro é para a despesa de maio, valor que as associações calcularam que terão de gastos com aluguel, luz, água. Cada associação passou o valor das despesas que achava mais importante, de 2 a 3 despesas. Já estavam com dificuldade antes, com a história da Covid agora está muito pior - diz Taís.
A intenção da ONG, que tem atuação social entre crianças, é mostrar a importância dos recicladores para Caxias do Sul
- Imagina se eles decidirem parar porque não conseguem trabalhar, imaginem dois dias apenas de material que vai ir para o aterro.
Taís considera o repasse de cestas básicas da prefeitura como essencial, mas o volume é pouco para uma família.
- Por isso, estamos arrecadando material de higiene, de limpeza e alimentação. Quem não puder levar nas associações, pode nos contatar que vamos buscar. A Uniftec também é parceira nesse projeto e cedeu espaço para receber donativos - reforça a coordenadora da Maricotas em Ação.
O papel da prefeitura é crucial nesse momento,mas o secretário municipal do Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Emprego, Gilnei Garcia Lafuente, explica que há limitações. Segundo ele, todos os recicladores conveniados ao município estão incluídos nos programas de geração de trabalho, emprego e renda. Lafuente ressalta que não há como repassar recursos em dinheiro para pagamentos de despesas como aluguel, pois há regramentos na lei
- Houve um encontro na prefeitura com os representantes. Todos estão recebendo cestas básicas, sendo assistidos pela FAS, com ajuda do Banco de Alimentos.
VAQUINHA NA INTERNET
Participe doando qualquer valor por meio do link vaka.me/1014381 ou digite vakinha.com.br/vaquinha/ajude-os-recicladores-de-caxias-do-sul-a-seguirem-trabalhando
:: São necessários R$ 24.020,00, que serão distribuídos entre as 12 associações de reciclagem conveniadas ao município em Caxias do Sul
:: O dinheiro arrecadado será utilizado para o pagamento de despesas das associações como conta de luz, aluguel e água, entre outros no mês de maio
:: Até a tarde desta terça-feira (28), a vaquinha na internet havia arrecadado R$ 1,2 mil de nove apoiadores.
PARA DOAR ALIMENTOS, PRODUTOS DE HIGIENE E LIMPEZA
Contate a ONG Maricotas em Ação pelo telefone (54) 9842-2528 e combine a entrega.
Dá para levar a doação diretamente na associação mais perto de sua casa.
Confira os endereços:
Associação de Recicladores Santa Rita
Presidente: Eliana
Endereço: Rua Juvelino Duarte de Matos, nº 18, bairro Planalto, perto da quadra de esportes
Associação de Recicladores Serrano
Presidente: Daniel
Endereço: Travessão Leopoldina, nº 1.013 (fundos), bairro Serrano, atrás do Colégio Victório Webber
Associação de Recicladores Girassol
Presidente: Tatiane
Endereço: Rua Pedro Lipreri, nº 140, bairro Ana Rech, atrás da Plásticos Carajás
Associação de Recicladores Centenário
Presidente: Adroaldo
Endereço: Rua Abtinio Martins, nº 1.146, bairro Centenário, atrás da Codeca
Associação de Recicladores Belo Horizonte
Presidente: Tiago
Endereço: Rota do Sol, nº 29.221, loja 3, bairro Santa Fé
Associação de Recicladores Interbairros
Presidente: Eva Guedes da Silva
Endereço: Rua Rodolfo Randazzo, nº 1.050, Vila Maestra, próximo à barragem Maestra
Associação de Recicladores Novo Amanhã
Presidente: Izael
Endereço: Linha Luciana, São Giacomo, nº 845, região do Cidade Nova
Associação de Recicladores Monte Carmelo
Presidente: Jocemara
Endereço: Emilio Ernesto Schmidt, nº 251, bairro Monte Carmelo
Associação: Associação de Recicladores Arca
Presidente: Samuel
Endereço: Firmino Bonetto, nº 272, bairro Esplanada, atrás da garagem da Visate
Associação de Recicladores Primeiro de Maio
Presidente: Mariano
Endereço: Rua Antonio Nakhoul el Andari, nº934, bairro Primeiro de Maio
Associação de Recicladores União dos Catadores
Presidente: Sebastião
Endereço: Rua Luiz Covolan, bairro Reolon
Associação de Recicladores Vida Nova
Presidente: Marisa
Endereço: Rua Claudir Paulo Bellenzier, nº 1.222, bairro Centenário