Em 13 de janeiro, Nathália Rech, 22 anos, embarcava do aeroporto de Porto Alegre com destino aos Estados Unidos. O que ela não imaginava era que dois meses depois viveria em isolamento domiciliar no país por conta de uma pandemia.
A caxiense viajou ao estado da Califórnia para ser au pair, programa no qual o intercambista cuida de crianças por um determinado salário. Atualmente, ela mora em Bay Area, próximo de São Francisco, na Califórnia, região que, segundo a jovem, foi a primeira no país a tomar a decisão de isolamento. Porém, é o terceiro estado mais afetado pelo vírus, com mais de 8,5 mil casos confirmados.
Na última semana, os Estados Unidos se tornou epicentro da doença ultrapassando a China no número de pessoas com a covid-19. O país norte-americano já registra mais de 215 mil casos e o número de mortes passa de cinco mil, segundo levantamento da Universidade Johns Hopkins.
Apesar de semanas de isolamento, Nathália afirma que a medida tem dado resultado em Bay Area.
— Só podemos sair de casa em situações de necessidade, como mercado e hospital. Aqui, o isolamento começou na segunda semana de março, então, estamos a mais de três semanas nessa situação, e os gráficos mostram que essa estratégia está funcionando, os números de casos e mortes se mantiveram estáveis — conta.
O objetivo da caxiense era ficar dois anos no país, tempo máximo permitido pelo programa. Agora, ela já não tem tanta certeza se isso será possível. A jovem estava à procura de um curso para se especializar na sua área de design, mas não teve a oportunidade nem de iniciar os estudos:
— Com toda essa situação, acredito que vai afetar minha decisão e, provavelmente, irei pra casa antes do planejado. Mas agora, realmente, não tem a possibilidade de ir pro Brasil, por conta dos aeroportos que estão cancelando muitos voos, e também pelo risco de ser infectada e infectar outras pessoas.
Para manter a tranquilidade dos amigos e familiares, o contato tem sido diário. Apesar disso, Nathália conta que seu maior sentimento no momento é o medo por estar longe de casa e não saber quando a situação irá normalizar:
– Por mais que eu esteja "segura", eu só queria estar perto de quem eu me importo e se importa comigo, poder ter alguém pra falar que vai ficar tudo bem e tudo isso vai passar logo. O mais desafiador é não ter certeza de nada, ninguém sabe até quando isso vai durar e quando a vida vai voltar ao normal.
Por conta do avanço da pandemia, no domingo (29), o presidente Donald Trump estendeu o fim do prazo de isolamento social no país de 12 de abril até 30 de abril. Ele ainda disse que provavelmente o pico de mortes pela doença será entre as próximas duas semanas e que depois disso o número de casos deve diminuir.
Segundo Nathália, em Bay Area, a população tem optado por fazer compras somente pela internet. Ela diz que as prateleiras dos mercados estão vazias e além de álcool gel não ser encontrado para vender desde fevereiro, papel higiênico também está em falta até para venda online.
– No início, as pessoas não estavam dando muita bola pro vírus, por não estarem acreditando muito no poder dele. Agora estão vendo que realmente é coisa séria. O triste é que a situação precisa chegar nesse ponto pra certas pessoas começarem a se cuidar e tomar as devidas precauções — acrescenta.
Diferente de algumas pessoas que tiveram que parar suas atividades, Nathália continua trabalhando, mesmo em isolamento, já que ser au pair também inclui dividir moradia com os pais da criança que cuida. Entretanto, a jovem relata que ela trabalha o dobro pelo fato de as escolas estarem fechadas.
Diante de tudo isso, a caxiense conta que a principal mudança é não ter liberdade:
— Eu gastei tempo, dinheiro e energia pra esse intercâmbio ser do jeito que eu esperava e agora não posso nem aproveitar, não posso sair a hora que eu quero, ir pra onde eu quero, ter contato com outras pessoas. A única coisa que faço é passear no bairro.