Por ter uma população de estimados 510 mil habitantes, os 34 casos confirmados de coronavírus no intervalo de pouco mais de um mês parecem pouco para Caxias do Sul. O dado, inclusive, mostra um suposto controle na circulação do vírus, o que vem embasando o movimento para flexibilizar o contato social a partir da reabertura do comércio. Como a questão é matemática, não há qualquer garantia de que a população está segura e os mesmos 34 casos, sob outra ótica, reforçam a necessidade de extrema prudência.
O alerta é do cientista de dados Isaac Schrarstzhaupt, que vem se debruçando sobre as estatísticas da covid-19 em Caxias e no mundo. Ele analisou a curva da contaminação local, comparou com a evolução em outros municípios brasileiros e países e constatou uma taxa de contágio acima da média na cidade serrana. Se o ritmo se mantiver como vem sendo ratificado pelos boletins epidemiológicos da Secretaria Municipal da Saúde, com um crescimento médio semanal de 15%, a cidade já entraria em colapso nos próximos dois meses.
Segundo Isaac, Caxias teve uma curva de infecção menor do que Porto Alegre no início da pandemia. As duas cidades confirmaram o primeiro paciente no dia 11 de março. Nas semanas seguintes, o aumento de casos a cada sete dias foi de 15%, em média, na cidade serrana e 36% na Capital. Ao verificar os últimos dias, o cientista de dados aponta porque Caxias está numa situação diferente de Porto Alegre. A partir do distanciamento social da população, Porto Alegre conseguiu manter o aumento médio do contágio em uma taxa semanal de 12%, mas Caxias continuou com uma taxa de crescimento de 15%, a mesma do início da pandemia.
– Caxias não está crescendo tão devagar quanto os outros locais. Porto Alegre está crescendo de forma mais lenta – simplifica Isaac.
Outro fator é que, em outros países, o aumento das infecções aconteceu após os primeiros 30 dias do registro do primeiro caso. Ainda conforme o cientista de dados, países como Itália, Reino Unido e Canadá somente reduziram a curva a partir do distanciamento social. Como Caxias do Sul caminha agora para amenizar o isolamento da população depois de três semanas de restrições, o que vem pela frente é desconhecido.
Demora na divulgação de resultados
Um dos maiores problemas em traçar cenários é justamente a falta de dados atualizados, a pouca oferta de testes e a demora para divulgar os resultados. Só estão sendo examinados profissionais da saúde e pacientes com sintomas mais graves da doença, e os laudos geralmente são oficializados em lotes. Não há ideia de quantos pacientes assintomáticos podem estar transmitindo o vírus na cidade.
– Há picos maiores na pré-quarentena e menos casos na pós-quarentena. Se o crescimento diário se mantiver como foi na semana passada, o que dá uma taxa de 3%, o impacto será menor mais adiante. Por isso que os médicos reforçam a questão do isolamento. Só que ficamos alguns dias sem registro de casos e de repente vem uma atualização dos testes e a taxa sobe novamente. É bastante complexo – pondera Isaac.
Outro dado que reforça o quadro viral na cidade é a proporção de casos por habitantes. Conforme os dados da SMS, Caxias tem 6,7 casos para cada 100 mil pessoas. No Estado essa taxa é de 5,4 para cada 100 mil pessoas e, no Brasil, de 5,7 para 100 mil habitantes.
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