Um dos desafios impostos pela pandemia do coronavírus é encontrar formas de desacelerar a disseminação da doença para que o número de casos se espalhe ao longo do tempo, ao invés de aumentar em picos. O fato comprometeria o sistema de saúde de grande parte dos municípios brasileiros, incluindo Caxias do Sul.
Em dois dias desta semana (terça e quarta-feira), não houve a confirmação por parte do município de novos infectados. No entanto, isso ocorre por dois motivos: primeiro, apenas os pacientes internados com sintomas graves, que indicam a possibilidade de infecção, são testados; além disso, os exames que foram coletados levam cerca de sete a dez dias para ter o diagnóstico confirmado pelo Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen) do Rio Grande do Sul.
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A médica infectologista Lessandra Michelim Rodriguez Nunes Vieira, que integra a diretoria da Sociedade Brasileira de Infectologia e é professora da Universidade de Caxias do Sul (UCS), ressalta que, se os resultados dos exames saírem juntos, pode ocorrer um aumento súbito no número de casos:
— Há muitos exames em andamento. Então, o fato de não ter a confirmação de doença não significa que ela não esteja acontecendo, e sim que os exames ainda não estão prontos. Temos que ter a consciência de que podemos ter o vírus circulando pela cidade. O cenário atual mostra que a evolução dos casos está sendo lenta, mas sabemos que isso também se deve porque o clima atual na Serra é favorável para que não tenha tanta infecção respiratória. Quando o clima mudar a partir da segunda quinzena de abril, nós teremos mais procura com quadros respiratórios e o número de pacientes infectados deve aumentar. Estamos esperando o aumento do número de casos em abril e maio — explica Lessandra.
Até o final da quinta-feira (26), 112 exames foram coletados em Caxias e encaminhados ao Lacen ou para laboratórios particulares. Desses, 11 casos foram confirmados na cidade, 51 aguardam resultado e 50 foram descartados.
— A recomendação do Ministério da Saúde, desde o último dia 22 de março, é que apenas os pacientes com suspeita de covid-19, que estão em internação hospitalar, tenham exames coletados. São casos de pacientes com síndrome respiratória aguda grave, na qual o principal sintoma é a falta de ar. No caso de médicos, enfermeiros e profissionais da saúde com a síndrome gripal, que é febre acima de 37.8, acompanhada de dor de garganta e tosse, a orientação também é testar — explica a médica infectologista Andréa Dal Bó, diretora das vigilâncias em Saúde do município.
Nos casos considerados leves, de pessoas que apresentem sintomas gripais, a recomendação é permanecer em isolamento domiciliar por 14 dias.
Os testes na rede privada
A medida de testar apenas pacientes graves foi tomada pelo governo federal após a confirmação do primeiro caso de transmissão comunitária no país, quando já não é possível identificar a origem da contaminação. A medida é necessária para garantir que os pacientes que realmente precisam da confirmação, por ter um quadro mais grave, sejam diagnosticados o mais breve possível.
De acordo com a Agência Nacional da Saúde (ANS), a cobertura do exame específico pelos planos de saúde é obrigatória apenas em casos classificados como suspeitos ou prováveis de doença pela covid-19. No entanto, há o agravamento da situação e a impossibilidade de ampla testagem populacional.
A infectologista do Hospital do Círculo, Giorgia Torresini, explica que o número de testes é escasso também na rede privada, e, por isso, é necessário respeitar a orientação do Ministério da Saúde. O exame particular custa em torno de R$ 250, mas há critérios para que os médicos solicitem a coleta.
— Os exames são coletados em casos dos pacientes com síndrome respiratória aguda grave. Esse paciente tem febre, tosse que pode estar acompanhada de dor de garganta, mas principalmente, dificuldade para respirar. O gatilho principal é a falta de ar. Nesses casos eles têm que ser testados — diz Giorgia.
Diretor técnico do Hospital da Unimed, o médico Vinícius Lain explica que é preciso seguir a orientação para que não faltem testes conforme o avanço da epidemia:
— Seguimos a regra de testes do Ministério da Saúde porque haverá um momento que não haverá mais insumos para os testes, então estamos usando para pacientes internados e profissionais de saúde com sintomas. Essa medida é necessária para garantir os exames aos quadros mais severos.
A diretora executiva de Saúde e Educação da Associação Cultural e Científica Virvi Ramos, Cleciane Doncatto Simsen, ressalta que o hospital também segue na mesma linha:
— O novo protocolo do Ministério da Saúde determina que só será feito exame no paciente que for internado, que são aqueles que tem febre e problema respiratório grave. Nos demais caso, a orientação é o isolamento domiciliar.