, 66 anos, perdeu a conta de quantas vezes esteve nas farmácias do Centro Especializado de Saúde (CES), na área central de Caxias. Por cinco anos ela fez parte da longa fila de pacientes que buscam medicamentos para o diabetes fornecidos pelo Estado e município para a filha. Os transtornos foram tantos que ela desistiu de tentar.
— Cada vez que renovava o cadastro anual faltava algum dado na receita. A demora e a burocracia me impediram de continuar. Conclui que estávamos (ela e a filha) ficando mais doentes com tanto estresse — argumenta.
Realmente, é preciso muita paciência para chegar até o guichê. O tempo de espera entre o momento que se recebe a senha e chegar até o atendente é, em média, três horas. Pelo menos 1,3 mil pessoas passam por lá todos os dias, 20% a mais que em 2017.
Não há espaço para tanta gente na sala de espera. Muitos pacientes aguardam sua vez na calçada da Rua Sinimbu. Em dias de chuva, eles se aglomeram na marquise ou no corredor da Farmácia Especializada. Os que não podem pagar, não têm outra saída.
— Todo o mês venho aqui buscar fraldas e a dieta (alimento via sonda) para o meu marido que ficou tetraplégico depois de um acidente. Nem sempre consigo. Aí volto outro dia. E assim vamos indo — relata a aposentada Iraci Rech, 66.
Entre as principais reclamações dos pacientes está a de que precisam enfrentar a fila duas vezes para retirar determinados tipos de medicamentos.
— Uma fila é para pegar as fitas para medir o diabetes e outra para retirar a insulina. Por que não entregam em um só local? — questiona a vendedora Fabiane Rodrigues, 46, que tenta combater a doença há 12 anos.
No início da tarde de sexta-feira, ela olhava para a ficha de número 955 que acabara de pegar no primeiro guichê da Farmácia Básica. Para chegar no segundo (guichê), tinha outros 55 na frente. E tinha ainda uma terceira fila para a insulina.
— Vou perder a tarde inteira de trabalho. Depois, vou ter que compensar.
Nem sempre o remédio está disponível
Muitas vezes a longa viagem é à toa. Nem sempre os pacientes conseguem voltar para casa com os produtos. A Secretaria Estadual da Saúde e da 5ª Coordenadoria da Saúde não sabem quantos e quais medicamentos estão em falta nas farmácias do CES. No relatório do Serviço de Assistência Farmacêutica do dia 28 de fevereiro, aparecem oito itens em falta (quadro acima). Em conversas com pacientes nas salas de espera, no entanto, a lista aparentava ser bem maior.
É o caso Franciele Oliveira da Silva, 28, que na última quinta-feira não conseguiu retirar as fraldas para a filha Francine, 9, que tem paralisia infantil, na Farmácia Especializada.
— A última vez que consegui foi em dezembro de 2019 — conta.
Ela faz o mesmo trajeto três vezes por semana.
— Não dá para saber quando chega. Ligar aqui não adianta. Ninguém atende — reclama.
Rafael da Silva Gonçalves, 34, também não conseguiu o remédio para a pressão.
— Em fevereiro fiz três viagens à toa — reclama.
Na sexta, o aposentado Leonildo Poli, 72, estava na fila para conseguir a medição para o filho que tem diabetes. Às 14h, 70 pessoas estavam na sua frente.
— Me informaram que não tem as fitas, mas tem insulina. Então vou aguardar, mesmo que seja na calçada.
Número de atendimentos*
2017 259.882
2018 280.803
2019 316.174
* Envolve atendimentos das farmácias Básica, Especializada e do Componente Estratégico. Fonte: Direção da Assistência Farmacêutica
HORÁRIOS
Básica Municipal: distribuição de senhas das 7h às 16h30min. Após às 16h30min, são atendidos os usuários que já possuem senhas. Fecha às 17h30 min
Especializada: distribuição de senhas das 8h às 15h. Após às 15h, são atendidos os usuários que já possuem senhas. Fecha às 16h30min
Componente Estratégico: distribuição de senhas das 8h às 15h. Após às 15h, são atendidos os usuários que já possuem senhas. Fecha às 16h30min