Os frequentes alagamentos que atingiam os moradores de Caxias do Sul, principalmente, em 2012, levaram o poder público a iniciar a construção de tanques de detenção de água na cidade. Com os chamados "piscinões", aumentou-se a capacidade do sistema de drenagem, prevenindo enchentes e inundações. Mas a falta de limpeza e manutenção prejudica o funcionamento dessas obras projetadas para conter grandes volumes de chuva.
Caxias conta com quatro lagoas de retenção nos bairros São José, Fátima Baixo, Pôr do Sol e Pio X. Contudo, dois tanques estavam tomados pelo matagal e por lixo trazidos pela chuva. Em novembro e dezembro de 2019, o cenário era assustador, bem como o forte cheiro de esgoto no tanque da Evaristo de Antoni, no bairro São José. A situação melhorou com a limpeza feita em janeiro pela atual administração, mas ainda há problemas pontuais:
— Tem dias em que o cheiro ainda é muito forte, mas a situação está melhor depois da limpeza. Além da questão ambiental, temos também problemas de insegurança com o mato alto ao redor do terreno. Agora melhorou um pouco — ressalta o funcionário de uma empresa próxima ao tanque.
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O descaso recente com a manutenção dos "piscinões" são um alerta à comunidade para cobrar do município a limpeza dos tanques. Engenheiro da secretaria de Obras de Caxias por 30 anos, Rudimar Chies, participou do projeto da primeira lagoa de contenção. Ele conta que percebeu o abandono dos pontos da Evaristo de Antoni e na Avenida Dr. Mário Lopes, no Fátima Baixo, no final do ano passado.
— Convivíamos com alagamentos frequentes e era uma tristeza a cada vez que chovia acompanhar o sofrimento e desespero daquelas famílias. Fico triste e preocupado em ver que os tanques estavam completamente abandonados. Eles tem por finalidade conter as águas de uma chuva intensa dentro de um reservatório grande. Sem ser retida, essa água escorreria e inundaria as ruas dos bairros daquela região. Os tanques tem a finalidade de funcionar como os banhados que ficavam na área antes da urbanização — afirma ele.
Hoje, a lagoa da Evaristo de Antoni retém em torno de 30 mil metros cúbicos de água - o que equivale a 100 piscinas de tamanho padrão 6X3.
— Pensa numa bacia enorme que tu tem que segurar água dentro dela e depois ir largando lentamente. Essa bacia tem um furo de entrada enorme onde toda a água que tu puder jogar dentro dela, ela vai receber, e esse furo está ali para que a água não transborde — afirma.
O engenheiro explica ainda que a falta de limpeza pode impactar no funcionamento e na função dos tanques:
— Ele tem um sistema de cinco regulagens para que a água escoe no arroio sem que haja transbordamento do canal. Imagina se essa bacia for aos poucos acumulando sujeira dentro dela e não for feita a manutenção e a limpeza? Daqui a pouco, ela não tem mais capacidade de retenção e a água que entrou vai transbordar. Então, não adianta mais fazer nenhum sistema de controle porque ela está cheia de lixo. Sem manutenção e cuidados, podem voltar a ocorrer alagamentos, porque se não limpar o tanque, ele perde a capacidade de armazenar água e deixa de ser eficiente, porque a água vai transbordar.
"São os anjos da guarda desse pessoal daquela região"
O primeiro tanque foi construído na região do São José depois que a cidade sofreu um dos piores alagamentos da história em fevereiro de 2012.
— Foi feita a retirada de mais de 60 mil metros cúbicos de terra que haviam sido colocados naquela parte do terreno para a construção do tanque. Depois que ele ficou pronto, houve precipitações intensas e conseguimos controlar a situação. Fomos aos poucos fazendo ajustes e, nestes oito anos, não ocorreram mais inundações graves naquelas imediações onde passa o Arroio Dal Bó. Então, em parte, foi solucionado o problema — lembra Chies.
Para o engenheiro ainda há necessidade de construir mais tanques onde a cidade apresenta problemas pontuais:
— Um dos pontos é o depósito da Secretaria de Habitação (área do bairro Pioneiro), onde antigamente ficava o britador municipal. Ali, além da cratera que se formou, há um pavilhão que poderia ser retirado porque é um local insalubre e, então, se construir um tanque de contenção para reter o volume das águas da chuva ali na saída para Flores da Cunha. Teria uma capacidade muito boa de retenção.
Ele reitera que a comunidade tem de cobrar essa manutenção e estar atenta para prevenir novos alagamentos:
— A população só enxerga os problemas quando acontecem, então a comunidade tem que ser acordada porque os tanques de contenção são os anjos da guarda desse pessoal que mora naquela região e que sempre enfrentaram enxurradas que levavam tudo o que tinham. Eles tem que fiscalizar e cobrar para que seja mantida a limpeza e parte da cidade não volte a ficar embaixo da água — alerta.
O QUE DIZ A PREFEITURA
Uma das primeiras ações do atual governo foi providenciar a limpeza parcial dos tanques de contenção. A manutenção completa já foi solicitada, mas necessita de licença da Secretaria do Meio Ambiente, já que os resíduos precisam ser descartados sem prejudicar o equilíbrio ambiental.
O secretário de Obras, Gilberto Meletti, explica que foi determinada a limpeza porque os tanques são essenciais para evitar problemas na cidade:
— Retiramos a vegetação e materiais que não deveriam estar ali, para que ele possa cumprir a sua função, que é conter e escoar a água. Estamos fazendo o levantamento dos documentos necessários para obter a licença para o descarte adequado dos resíduos que acumulam no tanque e completar a limpeza.
Meletti reitera que o acúmulo de sujeira nas galerias é um risco ao funcionamento do sistema:
— Acumula resíduo nas galerias, é necessário ter esse cuidado, e manter a limpeza em dia, para que a água escoe regularmente.
Prevenção é o caminho
O vice-prefeito Elói Frizzo, que era secretário de Obras na época dos alagamentos de 2012, lembra que os temporais acontecem normalmente nos meses de fevereiro e março, por isso, é preciso prevenção.
— Naquele ano, tiramos do papel o plano diretor de recursos hídricos que era alternativa para resolver os alagamentos naquela região da cidade. Teve continuidade com a construção de demais tanques, mas não houve o cuidado com a manutenção no último governo, e eles foram abandonados.
Ele ressalta ainda que as lagoas de concreto não acumulam tanta sujeira, mas os que são abertos precisam ser limpos ao menos uma vez por ano.
— Temos que lembrar que Caxias é uma mini São Paulo, e não estamos livres de que aconteça aqui o que ocorre lá com os temporais. A alternativa é a prevenção. Tivemos sorte que a cidade não registrou temporais frequentes. Para conter a água, que é a função deles, precisam estar sem vegetação e resíduos — explica ele.
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