O ataque com disparos de arma de fogo contra um terreiro de umbanda registrado na noite de sexta-feira (7), em Caxias do Sul, deixou não apenas o responsável e morador do local, Jonatan Freitas Pereira, com medo, mas também os frequentadores. Dienifer Silva, 22 anos, estava no local no momento do ataque e lembra dos momentos de pavor que ela e as outras pessoas que estavam no local vivenciaram.
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— A gente ainda estava encerrando uma prática e escutamos um estouro. Quando vi que ele estava armado comecei a gritar pras pessoas se esconderem no banheiro e deitarem no chão. Ele atirou pra matar, não pra assustar — afirma a cabeleireira.
Dienifer é moradora do bairro Esplanada e frequenta o Centro de Umbanda Caboclo Sete Flechas do Fátima Alto desde que abriu, em dezembro de 2019. Praticante da religião desde a infância, ela conta que nunca tinha passado por uma situação assim. No local, ela atua como tamboreira e garante que sempre tomou cuidado para não ultrapassar o horário das 22h30min, estendendo-se, por vezes, no máximo até às 23h.
— A sessão estava bem tranquila e nada justifica esse ataque. É muito triste porque o Jonatan abriu o terreiro a pouco tempo e ele é uma pessoa muito dedicada à religião. Estamos com muito medo agora — relata.
Associação atribui ataque à intolerância
O Centro de Umbanda Caboclo Sete Flechas é licenciado por meio da Associação Espiritualista Beneficente Mãe Iemanjá e Cacique Guarani, que conta atualmente com mais de 80 casas filiadas na cidade, envolvendo mais de três mil praticantes da religião. Para o presidente, babalorixá Luiz Carlos de Mello, 51, o atentado sofrido é um caso grave de intolerância religiosa, nunca antes registrado na cidade.
— A gente recebe muita reclamação de barulho, tem gente que joga pedra no telhado, mas um ataque assim nunca tinha acontecido, podia ter matado alguém — lamenta Mello, que ainda pretende visitar o local nesta semana.
— Falei com o Jonatan por telefone e disse pra ele não só registrar mas também representar, para que não vire apenas mais um caso de polícia. Eu tinha acabado de ler uma matéria sobre as homenagens pra Iemanjá aí aqui as pessoas fazem isso. As pessoas não querem aceitar nossa religião — afirma.
Um dos casos de intolerância registrados em Caxias do Sul ocorreu em novembro de 2017, quando um terreiro de umbanda do bairro Pioneiro amanheceu depredado. O templo comandado na época por Ademir Antônio dos Santos Neves, o Pai Ademir de Oxum, foi vandalizado e teve objetos roubados.