Tráfico e consumo de drogas, prostituição, baderna e sujeira tomam conta do prédio do antigo INSS, na Rua Pinheiro Machado, no bairro Cinquentenário, em Caxias do Sul. Abandonado desde 2011, quando se encerrou um contrato entre o município e a União, a estrutura que sediou o Centro Especializado de Saúde (CES), hoje provoca medo e transtornos aos moradores da região. O espaço está tomado por dependentes químicos, moradores de rua e vândalos.
Leia mais
Vereador governista ironiza falta de uso de prédio do antigo INSS de Caxias
Vereador sugere instalação de posto da Guarda Municipal no antigo prédio do INSS de Caxias
Identificada jovem encontrada carbonizada no prédio do antigo INSS em Caxias
Corpo carbonizado é encontrado em Caxias do Sul
Tanto na parte externa, quanto interna, o cenário de destruição é visível. Vidros quebrados, mato alto e entulhos na parte de trás do prédio, na Rua Paim Filho, incomodam muito os vizinhos.
É neste lado que as marcas deixadas por um incêndio deixam o espaço ainda mais assustador. Foi ali, em um das salas do fundo do complexo, que uma jovem de 18 anos foi assassinada em 21 de julho deste ano. O corpo de Ellen de Pontes Santos, estava enrolado em fios de cobre e foi encontrado carbonizado.
O cheiro de fezes e urina e a presença de ratos que correm entre os entulhos também perturba os moradores. Recentemente, o prédio tem sido usado para desmanche de carros, tanto na grama quanto na rampa de acesso ao local.
Morador da Paim Filho, o operador de máquina, Alexandre Pereira, 46 anos, conta que o barulho que chega do prédio é insuportável, principalmente durante a madrugada.
– Temos que conviver com baderna, barulho e prostituição. Eles usam drogas, fazem programas dentro do prédio e surtam de madrugada. Já mataram duas pessoas, um rapaz do lado de fora e recentemente, uma moça no interior do prédio. É uma vergonha. Um descaso!–reclama Pereira.
Outra situação que incomoda é a sujeira:
– Tem lixo acumulado e a grama não é cortada há tempos. Há tocas de ratos e eles têm invadido as casas. A vizinha teve que trocar o banheiro da casa porque eles roeram parte dos móveis.
Um morador de 52 anos que prefere não se identificar, também se queixa da sujeira.
– A questão de higiene preocupa porque os ratos parecem raposas. Eles são enormes e acabam invadindo as nossas casas. Tem moscas, mosquitos e muita sujeira.
Descaso
Como a área é escura e bem escondida, os moradores que trabalham na região têm receio de circular pelo entorno do prédio. Uma mulher de 37 anos, que tem a identidade preservada, conta que quando chega para trabalhar, a circulação de dependentes químicos assusta:
– É um entra e sai o tempo todo no prédio. Eles usam drogas e aproveitam o espaço que está abandonado.
Ela se queixa ainda do descaso com a comunidade caxiense.
– Porque o município não usa o prédio para a área da saúde ou da educação? Toda essa estrutura jogada fora.
Pereira também lamenta a inutilidade do prédio:
– Eles furtaram máquinas e macas ao longos dos anos, destruíram o prédio, queimaram, acabaram com tudo. Quanta coisa se podia fazer com um prédio desse tamanho? É um descaso com dinheiro de quem paga impostos. Tem estrutura física para abrigar um hospital ali e tudo foi jogado fora!–afirma.
Outro vizinho também questiona porque o poder público não toma providências para evitar a utilização do espaço por moradores de rua e dependentes químicos:
– Não entendo como pode um prédio público ficar abandonado quando podia ser ocupado e usado pela população. É um desperdício enorme de dinheiro público. Deixaram chegar a um nível de destruição que agora só colocando tudo a baixo para poder usar o espaço.
Entenda o caso
Em 2017, o governo federal doou a estrutura para o município para ser usado com serviços de saúde ou assistência social. Em março deste ano, a prefeitura encaminhou um estudo com uma empresa chamada via licitação, a Planicom Engenharia. A empresa (contratada por R$ 52,5 mil) ficou encarregada de fazer testes na edificação para avaliar a segurança estrutural e indicar soluções.
De acordo com informações repassadas pelo município em julho, o resultado do estudo foi recebido no dia 19 daquele mês e a Secretaria de Planejamento ( Seplan) analisaria o relatório. Somente após essa avaliação seria decidido o futuro do prédio.
Em análise preliminar, a Seplan informou ainda que o relatório apontou que a edificação principal não tem risco de colapso. No entanto, não há prazo para que a estrutura seja aproveitada e não foi anunciada, na ocasião, nenhuma medida sobre a utilização do prédio por moradores de rua.
CONTRAPONTO
A reportagem solicitou informações ao município sobre o assunto e recebeu o seguinte retorno: “Sobre a pauta do antigo INSS, no momento oportuno a prefeitura irá se manifestar.”
Leia também
Com limpeza em andamento, trecho da RS-122 em Farroupilha terá nova detonação
Projeto da BM entrega presentes a estudantes da Zona Norte de Caxias do Sul
Cavalo em situação de maus tratos é resgatado no bairro Cinquentenário, em Caxias do Sul