Ninguém sabe ao certo quando a sepultura de Lia Vaz Martins virou ponto de peregrinação no Cemitério Público Municipal de Caxias do Sul. Os funcionários do cemitério tampouco percebem a movimentação atual de curiosos, mas o Túmulo da Noiva, como ficou conhecido, vez em quando aparece com buquês e fotos de casamento deixados por anônimos em agradecimento por supostas graças alcançadas. No passado, a procura já foi maior.
Apesar de conhecida, a história de Lia nunca foi contada oficialmente e está sendo resgatada pela professora caxiense Vanessa Luisa Endres, 36, em parceria com estudantes de Letras.
— É um caso fascinante — resume a docente.
Bonita e de família tradicional, Lia morreu no dia 13 de novembro de 1939, uma segunda-feira. Tinha apenas 18 anos. No registro do cemitério, consta que ela teve uma síncope cardíaca, termo usado para óbitos relacionados a causas cardiovasculares.
Neta de Genoveva Pieruccini, idealizadora da Igreja do Santo Sepulcro, em Lourdes, Lia era conhecida e tinha muitos amigos. Havia se mudado com a mãe e um irmão de Porto Alegre para Caxias do Sul em 1937, depois que o pai, Timotheo Vaz Martins, morrera. O óbito de Lia levou um clube da cidade a cancelar um baile de gala programado para aquela semana. O antigo jornal O Momento estampou na capa uma nota de consternação. Até aí, seria mais um enredo comum a tantas famílias, mas a mística começou a ser alimentada por fatos relacionados a sua vida pessoal e nunca confirmados.
Noiva de um médico ligado ao Exército, a jovem estaria com o casamento marcado para a semana seguinte em Caxias. Segundo relatos colhidos pela professora, Lia teria consumido medicamentos para emagrecer, o que acabou tendo efeito inesperado e causou a morte.
— Parece que tinha uma obsessão em se manter magra. Pelo que se percebe, a morte dela foi um choque para a sociedade — conta Vanessa.
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O noivo mandou fazer uma escultura de um anjo com uma mensagem para a amada, frase que está sendo apagada pelo tempo. Conforme Vanessa, os relatos indicam que a crendice em torno de Lia surgiu possivelmente nos meses posteriores à morte. Desde então, pessoas buscam o local para pedir sorte no amor e no casamento. A superstição diz que Lia gosta de rosas vermelhas — o buquê de noiva dela seria arranjado com essas flores.
Vanessa diz que é difícil encontrar informações exatas sobre a trajetória de Lia. A mãe da jovem, Carmelita Pieruccini Martins, morreu em 1974 e o irmão dela foi embora para o norte do país.
— Estávamos fazendo uma pesquisa sobre o Zambelli (atelier) e encontramos a escultura de um anjo na sepultura dela. Havia quatro mulheres com flores e rezando. Pedi se eram parentes e nos disseram que estavam ali para agradecer por uma graça. Uma delas quase havia perdido o noivo num acidente de moto. Foi ali que me interessei pelo assunto — relembra a professora, que ainda não sabe quando o livro ficará pronto.
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