Internada no Hospital Geral, em Caxias do Sul, há 13 dias, Eufrásia Nadir de Jesus, 68 anos, não segurou o choro na manhã desta segunda-feira (7). A emoção foi provocada pela apresentação do Duo de violinos do grupo de Câmaras da Orquestra Sinfônica da Universidade de Caxias do Sul (UCS).
— Gosto de música, mas não sei explicar porque chorei. É algo que tocou e mexeu comigo — disse com as mãos próximo ao coração.
Melodias como Aleluia, Somewhere Over the Rainbow, de Mágico de Oz, Pequena Serenata Noturna, de Mozart e clássicos dos Beatles emocionaram pacientes e funcionários. A ideia é levar, por meio da música, alegria e conforto capaz de amenizar o sofrimento de quem encara problemas de saúde.
Zenilde Souza, 44, contemplava os músicos com emoção.
— Foi tão lindo! Para quem assim como eu, está internada, com dor e angustiada, a música acalma a alma e motiva a se animar, com certeza ajuda a melhorar — emociona-se.
Moradores de Esmeralda, Dalva Antunes dos Santos, 57, e Moacir Mapelli, 58, ficaram encantados com a apresentação. Ela aguardava procedimento e conta que a música a deixou confiante:
— Emociona muito e tranquiliza para ir para o bloco cirúrgico com calma e a fé renovada.
O marido dela não escondia a emoção.
— Para muitas pessoas assistir, mesmo que por pouco tempo, a apresentação de parte de uma orquestra é um sonho. A música é um dom divino e um presente para quem não pode ir até ela — acredita ele.
A paciente Saionara Batista, 35, também aguardava cirurgia:
— Ouvir Aleluia emociona e mexe demais. A música traz alegria e motivação. Cura a alma — afirma emocionada.
Arsênio de Souza, 69, era um dos pacientes mais animados e compenetrados na apresentação.
— Faz bem a alma — disse encantado.
No mesmo quarto, Antônio Branchi também estava empolgado com o espetáculo:
— Anima e cura a alma. Quem se sente mal, até melhora mais rápido.
MÚSICAS PARA TOCAR O CORAÇÃO
Não são apenas os pacientes que emocionam-se. Para Wagner Ismael Ferreira Rezer, 30 e Carlos Eduardo Zinani, 43, o momento é único:
— Quando chegamos e tocamos no corredor, a reação dos pacientes é emocionante. Os que podem saem dos quartos e quando entramos nos leitos percebemos o quanto a música toca cada de uma maneira diferente. Muitos demostram alegria, e até uma certa melhora no ânimo. É uma troca sensacional, e em locais em que os pacientes estão mais debilitados percebemos a troca de energia e o quanto eles gostam de nos ouvir. Mexe conosco, também emociona-se Carlos.
Wagner concorda. Para ele, levar a música até os pacientes é uma maneira de confortar as pessoas e de motivar os pacientes a seguir em frente em momentos difíceis.
— A música energiza, emociona e anima. É uma maneira de ajudarmos as pessoas que estão enfrentando doenças e de fortalecer essa capacidade de continuar e seguir em frente. Ouvir música toca as pessoas. É sensacional observar a expressão dos pacientes. Conseguimos sentir o que os pacientes sentem e criar momentos únicos.
PROJETO INÉDITO
A proposta conta com o apoio do Sindipetro de Caxias do Sul e Região. O sindicato patrocinará materiais de divulgação do projeto. Também serão colocadas caixas para o troco solidário em 30 postos de combustíveis para arrecadar recursos para o programa. A ideia é promover apresentações mensais ou duas vezes por mês. Se o projeto tiver aceitação o 'Música para o Coração' levará apresentações para pacientes internados em outros hospitais da cidade, e demais locais, conforme a demanda.
O coordenador do UCS Cultural, Charles Tonet, conta que a ideia foi inspirada em um projeto europeu. Denominado, Música para o Coração, o programa será lançado oficialmente em novembro. O projeto piloto já realizou três apresentações no HG. Em abril, ele recebeu um vídeo onde músicos realizavam um concerto em um hospital. Em uma conversa com Moacir Lazzari, que coordena o Setor de Desenvolvimento Cultural da UCS, e decidir implantar a ideia.
— A Universidade e o Hospital Geral aceitaram a ideia, e a iniciativa também teve aceitação dos músicos e começamos com o projeto piloto. Acredito que é inédito no país, nesse estilo, com músicos de uma orquestra.
Ele ressalta ainda que os músicos e o repertório são selecionados levando em conta o espaço onde vão tocar:
— Se apresentar em um palco é diferente de tocar para pessoas que enfrentam momentos delicados. Então selecionamos músicos do Duo de Violinos da Orquestra que tenham perfil para se apresentar para os pacientes. Não é apenas tocar, é preciso ter mais sensibilidade, empatia e conexão com os pacientes. A música contribui para a melhoria dos pacientes e esse contato sensibiliza ainda mais os músicos.