O novo bispo de Caxias do Sul, Dom José Gislon, que assume a diocese em cerimônia marcada para as 15h deste domingo (8), concedeu entrevista ao programa Gaúcha Hoje da rádio Gaúcha Serra na manhã deste sábado. Aos 62 anos, ele assume a Diocese de Caxias do Sul no lugar do bispo Alessandro Ruffinoni, depois de ter atuado como bispo em Erechim, no norte do RS, pelo período de sete anos.
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Dom José Gislon é o quinto bispo da história da diocese. Ele também é o Presidente do Reginal Sul 3 da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
O novo bispo diz que é aberto ao diálogo com todos os setores da sociedade. Perguntado sobre se é mais progressista ou conservador, ele disse que não é de direita nem de esquerda.
— A gente tem que dialogar com todos — define.
Confira a seguir a entrevista na íntegra:
Qual é a sua trajetória dentro da vida sacerdotal e episcopal?
Eu comecei minha vida na Igreja quando entrei no seminário aos 21 anos depois de ter feito o serviço militar na polícia do Exército de Brasília. Era funcionário da companhia Tigre em Joinville (SC). Depois, todo o meu trabalho como sacerdote foi como diretor de seminário trabalhando também como vigário no norte do Paraná. Depois, tive a graça de realizar um mestrado em História da Igreja na Universidade Gregoriana em Roma. Retornando ao Brasil fui diretor do Seminário Santo Antônio dos Freis Capuchinhos em Curitiba (PR). Lecionei na Faculdade de Teologia de Curitiba e Cascavel. Depois, no governo da província dos Freis Capuchinhos no Paraná, Santa Catarina e Paraguai, por seis anos, fui conselheiro provincial e também ecônomo da província e depois provincial e, a partir do capítulo de 2006, fui eleito conselheiro geral da Ordem e me transferi para Roma onde permaneci até 2011 quando fui nomeado pelo Papa Bento XVI como bispo diocesano de Erechim. Sou natural do Alto Vale do Itajaí, em Santa Catarina, de um pequeno município que se chama Dona Emma.
O senhor já tinha tido algum contato com Caxias do Sul?
Em Caxias do Sul e região estive por várias vezes como conselheiro geral da Ordem dos Capuchinhos acompanhando o capítulo dos padres capuchinhos da Província do Rio Grande do Sul e depois como visitador geral onde passei por todas as fraternidades dos Capuchinhos no RS. A realidade de Caxias do Sul tem uma marca muito forte dos pioneiros que aqui chegaram, que desbravaram essa região também marcada por um espírito de empreendedorismo muito grande. É uma cidade que passou por uma grande transformação social e cultural. Vejo que Caxias padece ainda com toda essa crise econômica que afetou o nosso país, mas também dá os passos para sair dessa crise.
Quais são suas principais características como bispo?
O bispo tem de criar pontes. Ele precisa manter contatos com todas as instituições. Precisa aproximar as pessoas através do diálogo. Eu não tenho medo de dialogar com instituições que estão presentes na sociedade e em todas as realidades. Acho que dialogar com o mundo da classe política, dos dirigentes... acho que essa proximidade fortalece a comunidade e fortalece a oportunidade da mensagem do evangelho chegar ao coração das pessoas. Eu sou um bispo que gosta de sair, de visitar, de ir ao encontro das pessoas e também contar com as pessoas que trabalham comigo. O bispo não faz as coisas todas sozinho. Ele conta com a colaboração dos padres, religiosos e religiosas, leigos e leigas e de tantas pessoas envolvidas na caminhada de fé da comunidade como Igreja povo de Deus. O bispo não é o dono da diocese.
O senhor é um bispo com um pensamento mais conservador ou progressista dentro da Igreja?
Eu me considero um bispo que, acima de tudo, caminha com a Igreja. Acho que a doutrina da Igreja devemos defender e ainda o evangelho que toca a vida das pessoas. Trabalhar acima de tudo tendo presente a dignidade de vida das pessoas em todas as realidades, seja da pessoa que está lá acamada na sua família, seja a pessoa que está começando a vida. É preciso defender a dignidade de vida das pessoas. Se eu não tenho medo de dialogar com todas as partes, eu não sou de direita ou de esquerda. A gente tem de dialogar com todos. Nós não abraçamos uma ideologia. Nós temos a causa do evangelho. Nós devemos nos aproximar de todos. Se abraçarmos uma ideologia nos afastamos e o evangelho não nos ensina isso.
O que o senhor pretende fazer para atrair mais os jovens para a Igreja Católica?
A gente não pode abandonar os jovens. Isso significaria abandonar toda uma caminhada de sociedade não só do presente mas também do futuro. Os jovens de hoje estão em busca também dessa questão espiritual que preencha esse vazio interior que levam dentro de si. Penso que esse é um trabalho que devemos refletir como Igreja e buscarmos o contato com os jovens no diálogo, buscar um caminho de proximidade e de falar ao coração dos jovens para que eles se sintam valorizados com o amor de Deus.
O senhor já esteve reunido com Dom Alessandro para discutir quais serão as novas diretrizes da Diocese ou possíveis mudanças?
Conversei longamente nesses últimos dias com o bispo Dom Alessandro. Já tinha vindo para Caxias em outros momentos reunindo o colégio de consultores da Diocese. Agora, a partir da próxima semana, vamos aprofundar já no encontro com os padres nas áreas pastorais e os conselhos, toda a dinâmica pastoral que moverá a Diocese. A primeira posição do bispo é conhecer a realidade mais a fundo de toda a caminhada da Igreja, porque sem isso o risco do bispo cometer erros é muito grande. O bispo não vem para mudar tudo de uma hora para outra. Ele chega para fazer uma caminhada com essa Igreja de 85 anos de diocese mas também depois de conhecer a realidade se inteirar também, propor todos os passos que devemos dar nessa caminhada como Igreja como povo de Deus que peregrina nesse mundo.
Neste domingo será a cerimônia de sua posse como bispo de Caxias do Sul. Como será esse momento?
É uma cerimônia onde o bispo que está encerrando suas atividades com o pároco da Catedral acolhem o novo bispo. Ele entra (dom José Gislon) na Catedral e abençoa o povo que ali está e se coloca em oração diante do Santíssimo. Depois, o bispo sai novamente e se paramenta e entra na catedral junto com os bispos convidados e presentes. O bispo que encerra o seu mandato (dom Alessandro) entrega o pastoral ou "báculo" para o novo bispo e este se senta na cátedra como sinal de posse na diocese para exercer o seu ministério. Existe também a leitura da "bula pontifícia" da nomeação do bispo para o trabalho na nova diocese. Essa bula será lida, apresentada ao colégio de consultores e aos presentes.
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