Professora e pesquisadora, Vania Heredia explica por que Caxias do Sul carrega a fama de cidade do trabalho.
A origem do mito
— Sempre foi hegemônico na cidade de que o italiano fazia a diferença e, mesmo hoje, em que a maioria das pessoas não é italiana, esse imaginário foi sendo alimentado de maneira contínua. E o que fazia parte desse imaginário: aqueles vieram para cá e ocuparam as terras só venceram porque trabalharam muito, então o conceito é atrelado à ascensão social. Se for analisar o passado dos imigrantes, jamais eles seriam proprietários na Itália. Isso era para os nobres, os aristocratas. Aqui, o italiano teve a oportunidade de se tornar proprietário e como aconteceu isso: por meio do trabalho. Essa condição alimentou o mito, mesmo que essa realidade não se estenda para todos que vieram trabalhar em Caxias.
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A fama
— O primeiro grande produto reconhecido vem no final do século 19. Vamos ver a uva e o vinho, esse binômio de transformação e beneficiamento. Nesse sentido, Júlio de Castilhos e depois no Borges de Medeiros vão olhar para cá como colônia diferenciada. A cultura do vinho é interessante, pois tinham essa visão que iam vencer com trabalho manual.
A atração
— A evolução econômica de Caxias mostra que, em todas as suas fases, a cidade se tornou uma referência. A partir dos anos 1950, quando as indústrias começam a se tornar grandes, vão absorvendo a mão de obra dos distritos rurais, depois os municípios vizinhos. Em seguida, os Campos de cima da Serra, Santa Catarina e Paraná. No fim dos anos 1990, a indústria começa a absorver tanto quem vem da fronteira como a população de Estados mais ao Norte e Nordeste. A partir de 2010, surgem os imigrantes haitianos, por acordo diplomático. Depois, foi atração para senegaleses, os ganeses.
Relação do trabalho hoje
— Tem algumas mudanças na cultura caxiense, mas alterar não é muito simples, tem exigências da instituições para manter o trabalho, não é só questão de gosto, aptidão. Quem vem para cá, acaba tendo que se adaptar.