Mulher pode estar em todos os lugares. Mas a cada dia é preciso reafirmar, porque elas ainda são minoria em cargos de liderança. Na Câmara de Vereadores de Caxias do Sul, por exemplo, dos 23 parlamentares, apenas quatro são do sexo feminino. Mulher também pode ser o que ela quiser: uma profissional ou dedicar-se somente ao cuidado dos filhos. Ou, se preferir, não tê-los. Neste 8 de Março, mostramos histórias de mulheres protagonistas, que resolveram empreender, entrar na política, ter uma banda de thrash metal, jogar futebol americano e ser, ou não, mãe.
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Entre tantas escolhas que a fisioterapeuta Michele Bonato, 34 anos, tinha à disposição ao terminar a faculdade em Caxias do Sul, a que elencou como prioritária foi a criação do filho. A gravidez surgiu na reta final da graduação e de forma inesperada.
O momento que planejou para se especializar na área de dermatofuncional, setor com ligação ao ramo estético, acabou dando espaço a um mundo de descobertas maternas. Após o nascimento de Vicente, hoje com cinco anos, Michele teve seis meses de licença-maternidade, bastante proveitosos. O retorno ao trabalho, no entanto, não foi tão leve.
Assim como muitas mulheres, a fisioterapeuta sofreu ao distanciar-se do filho com alguns meses de vida. Muitas mães, inclusive, relatam sentimento de culpa em seguir com a carreira.
— Tentamos um período de adaptação e eu sofria muito ouvindo o choro dele. Entregar para a profe, na creche, era muito difícil, porque eu escutava os gritos dele de desespero. Eu desisti então de trabalhar fora. Não tive muito apoio em casa, precisei defender minha ideia e lutar por ela. Mas não me arrependo em nenhum momento — afirma.
Michele decidiu, então, sair do mundo dos negócios para ser mãe em tempo integral. Sentir-se realizada exercendo todas as funções que o papel materno traz foi algo que ela pode sentir na pele – e ficou ainda mais forte com a chegada da irmã de Vicente, Aurora, hoje com dois anos. Ainda que longe de ambientes corporativos, o dia de Michele é cheio. Acorda cedo, cuida da filha que recém se desfraldou, ajuda o filho nas tarefas. É dona do lar por completo. Prepara o almoço, leva as crianças para passear, organiza atividades para que aconteçam dentro e fora de casa. Marasmo é um termo que não cabe no dicionário da jovem mãe.
— As pessoas falam “ai, bota essas crianças na escola”, “não sei como tu consegue depender do dinheiro dos outros”. É claro que muda, o orçamento apertou bastante quando tomei essa decisão. Mas são escolhas e não encaro como algo frustrante, longe disso. Me sinto completa — ensina.
Michele, no entanto, não desistiu completamente do mercado de trabalho – Vicente já frequenta a escola, e quando Aurora chegar nesta fase, ela planeja exercer a fisioterapia. Desta vez, porém, com outro foco: por viver de forma tão intensa a maternidade, Michele se especializou em doulagem, mulheres que ajudam outra mulher durante o parto. E se for para retornar ao universo do trabalho formal, que seja assim: perto de outras mães.
—Quando eles estiverem bem encaminhados, eu quero sim trabalhar na área de cuidado materno-infantil. Quero ajudar a formar rede de apoio, que hoje existe, mas de forma escassa. São tão poucas pessoas que têm acesso a serviços que podem melhorar tanto a vida das mães — diz.