A Soama é a entidade que sempre confrontou o posicionamento da prefeitura de remover os pombos da Praça Dante Alighieri. Foi a organização que ingressou judicialmente contra a intenção de remover as aves, anunciada em 2017. A cada resgate do assunto, a Soama também reitera as críticas ao comportamento de repúdio aos pombos demonstrado por muitos caxienses. Mentalidade que segundo a diretora da entidade, Natasha Valenti, foi gerada pela desinformação e acabou crescendo no imaginário popular.
— Esse papo de que eles passam doença é desinformação. A frase que pombos são ratos com asas surgiu num filme na década de 1960. Foi um cineasta que a criou, não um biólogo. Pelo menos 64% das doenças sofridas por humanos são passadas por outros humanos e não por animais — defende.
E acrescenta:
— Também dizem que as pombas não estão no habitat natural. Mas elas nunca tiveram habitat natural, muito menos na zona rural, que era onde a prefeitura queria mandá-las. Pombas são urbanas, sempre foram.
Página defende proteção a pombos
Desde setembro de 2017, a protetora de animais Fernanda Juliana administra uma página no Facebook em que publica estudos, vídeos e informações em defesa aos pombos. Denominado "Salvem as Pombas", o projeto também traz exemplos de cidades que adotaram políticas bem diferentes para lidar com as aves.
Em um dos vídeos, Fernanda mostra o tratamento dado aos animais em Barcelona. Na Praça da Catalunha, comedores automáticos foram distribuídos e esporadicamente rações contraceptivas são despejadas para as aves.
— Além de tudo é um método eficaz de controle. Os comerciantes também vendem pacotes de ração para que turistas possam alimentar as pombas e interagir com elas — comenta Fernanda.
E complementa:
— A gente também observa como essa praça é limpa. Já no Brasil, pagamos impostos altíssimos e o poder público não faz a limpeza e ainda culpa as pombas pela sujeira.
A Semma informou ao Pioneiro que a proposta de uso de ração contraceptiva está em análise pela pasta.
Estudo minimiza riscos
Fernanda Juliana informou ao Pioneiro um estudo encomendado por defensores dos animais junto à Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) teia descartado o alto risco da transmissão de doenças pelo pombo. Embora o material reconheça que há infecções que possam ser repassadas pelas fezes das aves, também afirma que isso não é exclusividade das pombas.
A pesquisa destaca que "a presença de pombo não deve ser encarada como um risco sanitário, já que os fungos são saprófitas do tubo digestivo de várias aves" e que também "a grande maioria dos indivíduos expostos não adoece, pois a resistência natural a essas doenças é elevada entre os humanos".
_ Sempre quando se fala em animais, temos de ter o cuidado com as zoonoses. No caso das pombas, existem várias doenças que são transmitidas ao homem, mas as mais comuns são a toxoplasmose, criptococose e a histoplasmose. Estas doenças não são de notificação obrigatória, portanto não se tem o número exato de pessoas contaminadas, mas se sabe que grande parte das afecções respiratórias são de origem fúngicas _ afirma a diretora do Departamento de Proteção e Bem-Estar Animal, Marcelly Paes.
Com relação à remoção dos animais, a SBI afirma ser uma medida "biologicamente incorreta, pois logo após o desaparecimento dos indivíduos, outra população preencherá o nicho ecológico vazio" e que não há embasamento científico que justifique a eliminação física ou a remoção do habitat como medida de prevenção de doenças. A entidade acrescenta ainda que "populações de grandes capitais de países europeus convivem por séculos com uma grande população de pombos e nunca foram observados surtos de criptococose ou de histoplasmose".