Pilhas de sacos com todo o tipo de resíduos domiciliares, mau cheiro e insetos. Foi assim que encontramos as lixeiras comunitárias em três distritos de Caxias do Sul na manhã do dia 11 de dezembro. Moradores de quatro dos seis distritos reclamam que a coleta, que deveria ser uma vez por semana, ocorre a cada 15 dias, por vezes, até 20.
– Demora muito para passar o caminhão. Uns 20 dias. Daí, as lixeiras transbordam, os cachorros rasgam (as sacolas) e espalham tudo pelo chão. Tem dias que fica tudo esparramado na estrada. Tem rato e corvo nos restos. E se todas as casas colocarem lixo no mesmo dia, não cabe (na lixeira) – relatou Emili Vitória Silva, 14 anos.
A adolescente mora com os pais e uma irmã caçula em uma comunidade com cerca de sete casas no distrito de Santa Lúcia do Piaí. Para armazenar os resíduos, os moradores usam uma espécie de tonel cortado ao meio na beira da estrada.
Mais adiante, na mesma via de chão batido, principal acesso à sede do distrito, mora o agricultor Marcos de Graauw, 36. Em frente à casa dele, no outro lado da rua, ficam os quatro contêineres de plástico que atendem a mais de 30 residências do povoado. Elas também estavam cheias na terça-feira passada e havia sacolas no chão, na calçada.
– Colocaram contêineres de cores diferentes para as pessoas separarem o lixo orgânico do seletivo, mas o caminhão vinha e recolhia tudo junto. Daí, as pessoas pararam de separar. Demora muito para vir o caminhão. Vem duas vezes por mês – relatou Graauw.
Segundo o agricultor, um outro fator faz com que as lixeiras transbordem:
– Vêm carros de outros lugares trazer lixo aqui. Daí, fica cheio. Mau cheiro, com certeza tem. Isso incomoda.
Junto aos coletores na beira da estrada, a reportagem também encontrou partes de eletrodomésticos e de móveis.
Em Vila Oliva, a aposentada Neusa Maria Verona, 63, nem havia percebido a quantidade de lixo para fora do contêiner no outro lado da Estrada Municipal Geraldo Dagostini, onde caminhava com a neta Vitória Daldegan, três.
– É muito lixo para pouco espaço – disse a moradora.
Na mesma estrada, ficava a situação mais caótica: duas caixas de concreto armazenavam resíduos soltos, além de dezenas de sacos e sacolas no entorno, algumas rasgadas, com detritos espalhados pelo chão exalando forte mau cheiro. Tudo isso, bem ao lado de um abrigo de ônibus. Aliás, todos os pontos de coleta ficam junto ou perto de paradas do transporte coletivo.
Em Fazenda Souza, também havia sacos amontoados em lixeiras espalhadas na beira estrada.
Subprefeitura ajuda a recolher
Servidores da subprefeitura de Criúva também estão descontentes com a questão do lixo. É que, segundo eles, a Codeca estaria coletando o lixo apenas na sede do distrito e não nas localidades mais afastadas. Com isso, os funcionários estão tendo de percorrer as estradas vicinais para recolher os resíduos. Eles também reclamam da falta de equipamentos de proteção apropriados para o trabalho.
Gilmar Bascheira, subprefeito de Criúva e que também responde por Fazenda Souza, diz que há coleta seletiva e orgânica, em dias alternados. Ao contrário do que declaram os moradores, ele diz que o recolhimento ocorre todas as semanas. Mas admite que os servidores têm de limpar as lixeiras.
– A Codeca junta e, dali dois dias, temos de fazer limpeza em todos os depósitos porque ele não é bem recolhido. Está difícil de ter um distrito limpo. E tem também a consciência da comunidade, que teria de separar o lixo e não está fazendo.
Bascheira disse que a colocação dos coletores de concreto por parte da subprefeitura resolveu o problema dos cães que rasgavam as sacolas. Por outro lado, os lixeiros acabam não levando todos os detritos que se acumulam no fundo dos recipientes. Sobre a falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), o subprefeito disse que são fornecidas luvas, mas que elas não são as adequadas para o serviço. Ele argumentou, ainda, que pediu à Codeca solução para o problema no início do mês.
Codeca pede que moradores ajudem a fiscalizar
O contrato que a Codeca tem com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente prevê coleta na área urbana e no interior, serviço pelo qual o município paga, em média, R$ 3,4 milhão (o valor varia conforme a quantidade de lixo coletado e a distância percorrida pelos caminhões). Na área urbana, está incluída a coleta mecanizada e a manual, a alternada orgânica e a alternada seletiva, o recolhimento de animais mortos e de bens inservíveis (móveis e eletros). No interior, o gerente operacional da empresa, Ricardo Becker, diz que, conforme contrato, o recolhimento é semanal, tanto do lixo seletivo quanto do orgânico. Para atender a todo o município, são usados 42 caminhões.
– O morador deve acionar a central de atendimento ao cidadão e fazer a reclamação. Temos o monitoramento de toda a frota via GPS e fiscais, só que atuamos conforme demanda. Temos roteiros pré-programados e conseguimos conferir se o caminhão está fazendo o caminho ou não. Ou daqui a pouco, se essa programação está deixando de atender algum morador, podemos adequar o roteiro para atender o maior número de pessoas possível. Se a população fizer a solicitação à Codeca, faremos uma verificação no local e vamos corrigir o problema – garante o gerente.
Sobre a limpeza das caixas, existe uma equipe de lixões da Codeca para fazê-la. Contudo, Becker diz que a população pode colaborar acondicionando bem os detritos. Lixeiras apropriadas – não muito profundas – também facilitam o trabalho, conforme ele.
A central de atendimento ao cidadão atende no telefone 3224-8000.