Quase um terço do total de tumores malignos registrados no Brasil são de pele. A cada ano, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), há média 180 mil novos casos no país. Os tipos mais comuns são o carcinoma basocelular e carcinoma espinocelular. Ambos são de baixa gravidade, principalmente se diagnosticados e tratados precocemente.
Já o melanoma é considerado um tumor agressivo, com chance de causar a morte. Ainda assim, descobri-lo nos estágios iniciais também pode facilitar a sua cura. Conforme a dermatologista Roberta Castilhos, que também é professora da Universidade de Caxias do Sul (UCS), há chance de recuperação em 90% dos casos de melanoma se o câncer for diagnosticado no início.
— Feridas ou lesões que não cicatrizam, que sejam mais avermelhadas e sangram já podem ser indícios de carcinomas basocelular ou espinocelular. O melanoma, que é o tipo mais perigoso, é aquela lesão que tem um contorno irregular, mais de uma coloração, e apresenta aumento de tamanho em poucas semanas. Neste caso, a pessoa deve procurar o médico o quanto antes — explica Roberta.
A médica recomenda que as pessoas se autoexaminem no dia a dia, ou mesmo analisem familiares e amigos, considerando que muitas da manchas e lesões estão localizadas em partes não visíveis à própria pessoa.
A principal causa do câncer da pele já é bastante conhecida: a exposição ao sol sem a devida proteção.
— Ainda falta muita conscientização. As pessoas subestimam a gravidade do sol. Mas é sempre importante reiterarmos as dicas básicas: evitar horários de maior incidência do sol, usar chapéus de abas largas, óculos de sol de proteção ultravioleta, roupas que cubram boa parte do corpo, procurar locais com sombra e manter a hidratação corporal, bebendo água — aconselha Roberta.
O protetor solar é primordial e, inclusive, deveria ser usado até em locais fechados, e mesmo em dias frios e nublados, segundo a dermatologista.
— O sol de hoje em dia é muito mais prejudicial em decorrência das mudanças climáticas. O ideal é que as pessoas usem protetor solar com, no mínimo, fator de proteção 30. O produto deve ser aplicado a cada duas a três horas ou sempre depois de longos períodos de imersão na água — complementa.
Campanha Nacional
Desde 2014, em dezembro é realizado no Brasil o "Dezembro Laranja". No primeiro sábado do mês, acontece a Campanha Nacional contra o Câncer de Pele. Conforme o coordenador administrativo do Centro Clínico da UCS, José Teixeira Henrique, com o passar dos anos, as ações ganharam maior relevância e hoje têm significativo engajamento de profissionais e da população.
— De 2016 para cá, começamos a ofertar atendimentos e neste ano (2018), 284 pessoas passaram por nossos procedimentos, de forma gratuita — relata Teixeira.
A ação ocorreu no dia 1º de dezembro, no Centro Clínico da UCS. Mais de 50 pessoas auxiliaram na prestação de atendimentos, que incluíram desde consultas, biópsias até remoção de lesões.
"O agricultor é muito desinformado"
O risco com os raios solares normalmente está associado ao lazer do verão. No entanto, pessoas que trabalham ao ar livre, como carteiros e agricultores, por exemplo, são as mais vulneráveis a problemas de pele decorrentes da exposição ao sol.
Para o produtor rural Valderez Antônio Formigueri, 50 anos, o susto foi grande quando, em 2013, recebeu o diagnóstico de câncer de pele melanoma ao consultar o dermatologista. Entre várias manchas, uma localizada nas costas, foi considerada de risco. Após passar por tratamento e remover o tumor, sua rotina mudou completamente, tudo visando não correr novos riscos e garantir a saúde de sua família — três filhos e mulher — que trabalham com ele no campo.
— Hoje, eu imagino que os problemas na verdade começaram lá quando eu era jovem. Não nos importávamos em trabalhar descalços e sem camisa na lavoura. Só fui me conscientizar de verdade quando fui diagnosticado. Antes disso, a gente nunca pensa que pode acontecer conosco. O agricultor é muito desinformado — afirma.
Hoje, Formigueri e a família usam protetor solar diariamente e várias vezes ao dia, além de vestirem camisetas com proteção solar.
— Vou na dermatologista a cada seis meses e no oncologista a cada quatro (meses). Uso protetor fator 55. O governo dispõe de protetor, mas é fator 30, não é tão bom quanto o que eu uso. As camisetas, eu compro a cada três ou quatro meses — comenta.
Protetor solar gratuito
A distribuição de protetor solar faz parte do projeto Saúde na Pele, coordenado pelo governo do Estado desde 2014. No entanto, há regras para ser um dos beneficiários. De acordo com a gerente das farmácias do SUS do município, Aline Machado Maroneze, para solicitar o produto é preciso apresentar laudo médico contendo a Classificação Internacional de Doenças (CID) relacionado à exposição solar, além de receita emitida por algum serviço do Sistema Único de Saúde (SUS). São entregues, segundo norma do Saúde da Pele, três frascos de protetores solares (com 120ml) por pessoa anualmente. É possível retirar uma unidade a cada quatro meses.
"Eu não me exponho mais em dias com sol forte"
Em 2015, a jornalista Regina Lain, 22 anos, decidiu tirar pequenas manchas de pele. Após exames, ela descobriu que uma pinta próxima ao olho, na verdade, tratava-se de um carcinoma basocelular. O diagnóstico não foi surpresa, uma vez que na família de Regina já havia histórico de pessoas com câncer de pele. Ainda assim, após a remoção do tumor, ela precisou mudar hábitos.
— Apesar de não correr risco de morte, havia a possibilidade de eu ficar cega com o tempo, pelo fato de o carcinoma ficar próximo do olho. Por isso, depois que fui diagnosticada, passei a ter mais cuidado para que não haja o risco de voltar a ter novamente — conta Regina.
Além de sempre carregar protetor solar, ela relata que passou a usar chapéu mais frequentemente.
— Eu não me exponho mais em dias com sol forte, especialmente das 10h às 16h. Também vou, a cada seis meses, ao dermatologista fazer um check-up geral — complementa.
FATORES DE RISCO
— Pré-disposição genética (histórico familiar ou pessoal de câncer da pele.— Queimadura solar na infância.
— Exposição prolongada e repetida ao sol (principalmente na infância e adolescência).
— Pele muito clara, que geralmente queima ao sol e nunca se bronzeia.
— Ter pele e olhos claros, com cabelos ruivos ou loiros, ou ser albino.
— Mais de 65 anos.
— Exposição a câmeras de bronzeamento artificial.
Mais informações sobre sintomas e tratamento do câncer de pele podem ser obtidas em www.sbd.org.br/dezembrolaranja
INDÍCIOS
A Sociedade Brasileira de Dermatologia utiliza a chamada regra do ABDCDE para definir as principais características de identificação do câncer da pele melanoma (grave), que são as seguintes:
— Assimetria: uma metade do sinal / mancha / pinta é diferente da outra.
— Bordas irregulares: contorno mal definido.
— Cor variável: presença de várias cores em uma mesma lesão (preta, castanha, branca, avermelhada ou azul).
— Diâmetro: maior que 5 milímetros.
— Evolução: mudanças observadas em suas características (tamanho, forma ou cor).
Especialidade com maior índice de faltas
Em Caxias do Sul, o Centro Clínico da UCS dispõe de quatro dermatologistas, e o Centro Especializado em Saúde (CES), três especialistas. Atualmente, a fila de espera para a especialidade tem cerca de 3.050 nomes em espera, segundo dados de 27 de novembro.
_ Falta oferta porque faltam profissionais na rede pública. A remuneração da tabela do SUS não aumenta desde outubro de 2007, e naquela época aumentou de de R$ 8,50 para R$ 10 a consulta. Ninguém vai se formar para trabalhar por esse preço. Se no particular e no convênio já tem alta demanda, porque ele atender no SUS por um valor tão baixo? _ questiona José Teixeira Henrique, coordenador administrativo do Centro Clínico da UCS.
Além da pouca oferta de médicos especializados, outro fator contribui para travar o fluxo de atendimentos de dermatologia no SUS: pacientes não comparecem às consultas agendadas.
Ao longo deste ano, o CES registrou que entre 20% e 26% faltaram aos atendimentos marcados.
— Cada uma de nós (dermatologistas) atende uma média de quatro pacientes por hora. Mas as faltas são muito frequentes. Não atendemos apenas pacientes novos, pois temos muitos em acompanhamento de doenças de pele crônicas e realizamos procedimentos em alguns turnos — explica a dermatologista do CES, Karina Melchiades Scandura.
O problema, na opinião da especialista, não decorrente tanto da carência de profissionais e, sim, do grande número de encaminhamentos das unidades básicas de saúde (UBSs), que, segundo ela, poderiam oferecer tratamento inicial para alguns tipos de afecções comuns, como acne, por exemplo.
— Diversas medidas estão sendo tomadas para amenizar esse problema que ocorre também com outras especialidades, como disponibilização de protocolos de tratamento das doenças mais comuns, reforço da possibilidade de contato com o tele saúde, mutirões de atendimento e auxílio de especialistas na regulação dos encaminhamentos. O excesso de encaminhamentos acaba dificultando o acesso de pacientes com afecções graves, como câncer de pele e casos extensos de psoríase e dermatite atípica — ressalta.
Conforme Karina, outro aspecto que poderia ser aprimorado é a própria otimização da divulgação de informações da campanha Dezembro Laranja nas redes sociais para também ajudar a esclarecer as melhores formas de os pacientes procurarem os serviços voltados à dermatologia.
ONDE PROCURAR AJUDA
— Procure a unidade básica de saúde (UBS) mais próxima.
— O clínico da UBS encaminhará o paciente para um dermatologista. Há profissionais que atendem no CES e no Centro Clínico da UCS.
— Com o especialista, paciente terá a consulta clínica. Nela, o médico determina os próximos procedimentos: biópsia ou retirada de lesão maior, encaminhamento para cirurgia oncológica ou plástica, dependendo da região do corpo.