O médico cubano Carlos Yeider é o único dos sete que atuavam em Caxias do Sul pelo Programa Mais Médicos que seguirá na cidade. É que a situação dele é diferente dos demais. Ele tem visto permanente no Brasil desde 2016 quando se casou com uma brasileira.
Assim como os colegas cubanos, Yeider foi contatado pela coordenação do Mais Médicos em Cuba que orientou os profissionais a deixarem o Brasil assim que recebessem as informações sobre seu embarque. No caso dele, a viagem não foi agendada e ele deve permanecer em Caxias. Ele trabalha na Unidade Básica de Saúde (UBS) Campos da Serra.
O médico que chegou ao Brasil em 2014 e atuou em Cambará do Sul por três anos antes de mudar para Caxias, em 2017, disse que pretende se inscrever no programa quando o governo brasileiro lançar o segundo chamamento que será destinado a médicos estrangeiros. Na manhã desta terça, foi lançado edital com 8.517 vagas para atuação em 2.824 municípios e 34 áreas indígenas, antes ocupadas pelos médicos cubanos. Porém, podem se candidatar apenas médicos brasileiros com inscrição no Conselho Regional de Medicina (CRM) ou com diploma revalidado no país.
Os profissionais selecionados receberão salário de R$ 11.865,60 por 36 meses, com possibilidade de prorrogação. As atividades dos médicos incluem oito horas acadêmicas teóricas e 32 em unidades básicas de saúde. As informações são da Agência Brasil.
As inscrições podem ser feitas no site maismedicos.gov.br. A previsão é de que os primeiros inscritos comecem a trabalhar no dia 3 de dezembro.
Confira trechos da entrevista com o médico Carlos Yeider, que trabalha na UBS Campos da Serra.
Pioneiro: O senhor recebeu alguma orientação do governo de Cuba para deixar o país?
Carlos Yeider: A orientação da coordenação do Mais Médicos de Cuba é de permanecer trabalhando até chegar o boleto do avião. Em meu caso, como vou ficar, tenho que ficar trabalhando até que chegue a data do meu desligamento. Ou, com o primeiro edital se forem preenchidas todas as vagas deixadas pelos médicos cubanos, automaticamente, deve ocorrer o desligamento.
O senhor pretende tentar uma vaga para continuar atuando no Mais Médicos?
Carlos Yeider: Eu tenho visto permanente no Brasil. Não vou embora. Vou ficar e me inscrever no segundo edital do Ministério da Saúde para o Programa Mais Médicos. Depois de quatro anos com visto permanente posso pedir naturalização brasileira.
O senhor concorda com o exame de revalidação?
Sim. Em todo país do mundo, todo médico quanto profissional de outra área que vá para outro país, tem revalidar seu título. O governo disse que vai fazer dois revalidas por ano. Assim, ficaria mais fácil, já que o último revalida foi no ano passado. Pensava em ficar no programa um tempo até conseguir revalidar o título e poder trabalhar em outras atividades, como plantões. Quero me regularizar com o CRM (registro no Conselho Regional de Medicina) que ainda não tenho.
Essa decisão mudou a vida da maioria dos seus colegas de profissão. O senhor teve contato com eles? Como estão?
Foi uma confusão muito grande. Imagina que isso aconteceu de um dia para outro. Todos esperavam, mas não que fosse tão rápido. Em menos de um mês ter que deixar tudo, tua vida, teu trabalho, planos... constrangedor isso. Os colegas estão abalados. Se eu, que posso ficar, me pegou de surpresa. Mexe com a gente.
Vocês tinham algum indicativo de que isso aconteceria antes da semana passada, quando Cuba anunciou a saída do programa?
Não recebi nenhum comunicado. Mas imaginávamos que iria acontecer isso. Tanto por parte do Brasil quanto por parte de Cuba. Com a eleição do presidente Bolsonaro, todo mundo estava na expectativa.
Como o senhor vê esse posicionamento de Cuba e do Brasil?
Acho que as duas partes têm suas verdades e suas mentiras. Acho que Bolsonaro está certo em muitas coisas, assim como meu país está certo em muitas coisas. Ele está errado em algumas e Cuba também em muitas.
Como é viver com 30% do salário?
Economicamente, passo um pouco de dificuldade, porque na situação econômica do Brasil, o salário não é suficiente. Mas antes de chegar ao Brasil, assinei um contrato. Não vim obrigado. Assinei sabendo o que iria ganhar. E acho que os contratos têm que ser respeitados.