Gabriel chegou a um abrigo de Caxias do Sul com um ano e seis meses, com inúmeros hematomas pelo corpo, unhas dos pés e das mãos esmagadas, além de queimaduras e mordidas.
Em seguida que ele chegou ao abrigo, as profissionais iniciaram as avaliações de familiares que poderiam cuidar do menino. Assim que um era descartado, outro se apresentava. Quatro se candidataram sucessivamente. A cada nova tentativa, toda a série de etapas que devem ser respeitadas recomeçava. Ele foi destituído do poder familiar há duas semanas, dois anos depois de ele ter sido acolhido.
Se existem tantas crianças e adolescentes nos abrigos e casas lares – em Caxias, são 181 – e se o índice de retorno às famílias de origem é tão baixo (foram 38 entre abril 2017 e setembro deste ano e outros 23 estão em tentativa, atualmente), por que os processos de destituição do poder familiar, necessários para o encaminhamento à adoção, demoram tanto tempo? Por vezes, anos?
No dia 9 deste mês, havia mais de 41 mil pessoas no Cadastro Nacional de Adoção. Em Caxias, são em torno de 300 pessoas habilitadas, enquanto a quantidade de crianças adotadas fica entre 25 a 30 por ano, de acordo com o Juizado da Infância e da Juventude de Caxias.
Na última quarta-feira, das quase duas centenas de acolhidos, somente seis já estavam destituídos e aptos a enfrentarem o processo de adoção. Outros 48 têm processos ajuizados de destituição. Também existem 14 que já têm sentença, conforme a Fundação de Assistência Social (FAS).
Para o juiz Leoberto Brancher, essa conta não fecha porque ela não é simples matemática.