Vinte e duas pessoas tiraram a própria vida nos primeiros seis meses deste ano em Caxias do Sul, segundo dados da Secretaria Municipal da Saúde (SMS). O número, no entanto, representa um universo menor do que a realidade. Muitos dos casos acabam sendo mascarados em outros índices de morte, como acidentes de trânsito, por exemplo. Isso ocorre normalmente devido ao receio que muitas famílias têm de ser alvo de julgamento ao admitir a morte auto-infligida de alguém próximo.
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Justamente com o propósito de reverter o preconceito acerca do tema que em 2015 criou-se no Brasil a campanha Setembro Amarelo. Desde então, os municípios realizam atividades ao longo do mês visando conscientizar sobre a prevenção do suicídio.
– Muitas vezes, quando uma pessoa tenta se matar ou se mata, é dito que ela não tinha mais ao que ou a quem recorrer. Por isso é importante ajudar essa pessoa a ter um plano de crise, para que saiba quem acionar num momento de desespero – afirma o psiquiatra Ricardo Lugon Arantes.
A proposta de Lugon passa por um tratamento humanizado no atendimento a pessoas com depressão ou ideação suicida e reforça uma reflexão defendida em alguns âmbitos da rede de saúde mental.
Um dos serviços mais populares é o prestado pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), entidade criada há mais de 50 anos e atuante em todo o país. O CVV presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional via telefone, por meio do número 188. A estimativa é de que em 2018 o CVV alcance cerca de 3 milhões de ligações recebidas em todo o Brasil.
O aumento da demanda foi influenciado pela unificação do canal de comunicação pelo 188 para todo o país, ocorrido ano passado. Com isso, o serviço tornou-se 24 horas, mesmo em cidades que não contam com plantões intermitentes.
Ainda assim, a ideia é aumentar constantemente os efeitos e reforçar as unidades. Em Caxias, atuam 73 voluntários.
– A ideia do CVV é dedicar pessoas para se colocarem no lugar do outro sem julgamento. E isso é o mais difícil, pois culturalmente somos treinados para julgar. Mas o que devemos fazer é o oposto, ter empatia e tentar ajudar a pessoa do outro lado da linha – comenta a coordenadora de divulgação do CVV Caxias, Arminda Bertuzzi.
Segundo ela, o sucesso do serviço prestado pela entidade está na humanização dos atendimentos e no simples ato de ouvir com atenção, prática que afirma ter se perdido na convivência social:
– No nosso dia a dia em sociedade, quando "ouvimos" as pessoas na verdade não prestamos atenção, pois estamos pensando na próxima coisa que vamos fazer. Temos o hábito de passar pelas pessoas na rua e perguntar se está tudo bem, mas não esperamos a resposta. Perguntamos porque fomos assim convencionados. Não queremos saber como a pessoa está, se tornou um vício de linguagem.
ÍNDICES
- O suicídio é a terceira maior causa de morte de adolescentes até 18 anos no mundo, conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS).
- Segundo a instituição, de 17% a 20% das pessoas terão episódios depressivos antes do final da adolescência (18 anos)
A prevalência de transtornos depressivos é:
- inferior a 1% antes dos seis anos;
- de 2% a 3% com menos de 12 anos;
- de 6% a 9% em adolescentes até 18 anos.
FATORES PROTETORES
- Autoestima elevada.
- Bom suporte familiar.
- Religiosidade, espiritualidade.
- Senso de responsabilidade com a família.
- Estar empregado.
- Laços sociais estabelecidos.
- Ter crianças em casa.
- Dificultar acesso a meios letais como armas, por exemplo.