Resiliência na tomada de decisões. Esse é o conceito que define o grupo de 11 ciclistas que ficou isolado no Cânion Josafaz, no interior de São Francisco de Paula, entre a tarde de sexta-feira e a manhã de sábado. Segundo o comerciante Cleiton Minussi, 39 anos, garantir a integridade do grupo, que pratica ciclismo como hobby há 15 anos, que a situação não ficou pior.
O grupo saiu de Bento Gonçalves ainda na madrugada da sexta. Eles foram de carro até um mirante que fica nas proximidades do cânion, acessado pela Rota do Sol. De lá, seguiram pela trilha de bicicleta. A volta do trajeto de 75km deveria começar às 14h de sexta, conforme planejamento do grupo, para aproveitar a luz do dia. Mas os ciclistas chegaram no ponto de retorno às 18h, devido ao cansaço de alguns integrantes do grupo, que tiveram dificuldade nos últimos 5km de trajeto.
— A gente não ficou 100% perdido. O fato é que nos atrasamos e o retorno era mais sacrificante. Então a decisão foi seguir em frente e pedir resgate, para preservar a integridade do grupo — narrou Cleiton.
No cânion, o grupo se dividiu em dois: os que estavam em melhores condições físicas ficaram mais expostos ao frio do local, onde havia algum sinal de celular para o contato com o Corpo de Bombeiros de Canela e com familiares. Os mais debilitados ficaram aguardando em local mais abrigado do frio.
— Foi bem delicado. A gente pegou o pessoal com mais condicionamento para ficar no campo aberto e fizemos fogueira grande. Passamos a noite acordados. O fogo foi determinante para manter aquecido, a sensação térmica baixou, ficou em torno de 0°C — conta o comerciante
As buscas iniciaram na noite de sexta e foram retomadas às 5h deste sábado (8). Às 8h45min, eles foram encontrados e levados para um acampamento montado pelos bombeiros.
Para Minussi, a aventura em duas rodas dará lugar somente à família pelos próximos 30 dias. A experiência trouxe sensações adversas, tal qual a amplitude do Cânion Josafaz, e lições que ficarão na bagagem:
— O que nos deixa tristes, decepcionados, foi a preocupação dos familiares por trás da decisão de pedir resgate e não comprometer aqueles que não estavam bem. Mas se a gente contabilizar que passamos por locais incríveis, extraordinários, isso só nos motiva a fazer novamente, mas de uma forma mais saudável e corrigindo o que não deu certo.