Um dos primeiros movimentos do projeto Acolher em Vacaria, que mobiliza diversas pessoas contra a violência doméstica na cidade, foi cadastrar mensalmente todas as mulheres que figuravam como vítimas, procedimento mantido até hoje. A intenção da promotora Bianca de Araújo era traçar o perfil delas. Na primeira vez, ela e assessores endereçaram dezenas de cartas às vítimas, solicitando o comparecimento na sede do Ministério Público (MP). Dos 100 chamados encaminhados, cerca de 20 mulheres atenderam. Na roda de conversa, sempre de mulher para a mulher, Bianca conheceu vítimas agressões repetidas e as lacunas nos serviços que deveriam protegê-las.
A partir disso, a equipe passou a organizar reuniões mensais para incentivar os desabafos e estabelecer caminhos que levariam a uma solução de problemas. O encontro ocorre sempre na primeira sexta-feira do mês.
— Mandamos de 90 ou 100 cartas por mês, que é a média de ocorrências registradas em Vacaria. Cerca de 20 ou 30 vítimas comparecem. Há mulheres que vêm pela primeira vez e retornam no mês seguinte para buscar apoio, buscar formas de escapar desse ciclo. Elas querem proteção, querem pertencimento — diz a promotora.
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Dentro da proposta de reflexão, o Acolher também estende o olhar para os agressores. Levantamento do MP apontou que muitos dos homens não se veem como vilões. Alguns chegam a ser presos e permanecem um período na prisão, mas cometem novamente os crimes contra as mesmas companheiras ou outras mulheres quando estão livres. Diante desse cenário, o Acolher propôs a criação de um grupo para dialogar com os autores da violência doméstica. Cinco deles aceitaram participar da iniciativa e nenhum deles voltou a reincidir após nove encontros com temas diferentes em 2017. A ideia é realizar um novo trabalho neste ano.
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