CORREÇÃO: O Moinho Melatti esteve em funcionamento até 2010 não até 1999. Atualmente desativado, o moinho passa por reformas, e não está abandonado. O moinho foi adquirido em 2013 por um dos herdeiros - Egídio - que até hoje administra o local. A turbina, que era acionada pela força do Arroio Vicente Rosa, também conhecido como Melatti, ao lado do prédio, ainda pode ser vista pelos turistas. A informação incorreta permaneceu publicada entre 7h de quinta-feira até 12h09 da sexta-feira.
Cortado pelo arroio batizado de Não Sabia e rodeado por matas e cavernas até pouco tempo desconhecidas, o município de Fagundes Varela ainda mantém viva a tradição dos imigrantes italianos que chegaram à região por volta de 1888, com as festas de capela, a religiosidade e a gastronomia típica. Divulgar essas belezas que passam despercebidas no dia a dia, valorizar a história da cidade e revelar aos demais municípios da Serra gaúcha e aos turistas de fora do Estado os encantos locais foi a intenção de um grupo de estudantes do 5º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Caminhos do Aprender, que criaram o roteiro turístico Descubra as Belezas de Fagundes Varela.
O roteiro foi idealizado no ano passado, em sala de aula. Contudo, eles levaram a tarefa a sério e o aprendizado deixou os bancos escolares: apresentaram o projeto para a prefeita Claudia Moreschi Tomé (PP) e passaram a ver a cidade onde nasceram e vivem com outros olhos. Os pontos turísticos por onde passavam todos os dias ganharam novo significado e hoje são vistos como lembranças vivas da história e dos costumes que passam dos pais para os filhos, e principalmente, dos encantos ocultos de uma pequena cidade.
A ideia do projeto partiu das professoras Géssica Dondi e Eliane Pelegrini Zandoná, após sugestão da Secretaria da Educação, para que a escola participasse no ano passado do Prêmio Criativos da Escola, do Instituto Alana, organização sem fins lucrativos que aposta em programas que transformem a escola e a sociedade. O projeto não levou o prêmio, mas foi um dos finalistas, o que é comemorado pelos estudantes.
Até mesmo as leis estaduais e municipais foram analisadas pelos alunos para que pudessem propor uma emenda na lei orgânica do município, no artigo 197, que dispõe sobre o turismo em Fagundes Varela, para reativar o Conselho Municipal de Turismo. A finalidade é incentivar melhorias nos setores alimentício, hoteleiro e de transporte e também estimular a especialização para formar guias turísticos para receber os turistas.
As turmas com 24 alunos foram divididas: uma delas desenvolveu o roteiro, enquanto a outra focou na divulgação de uma trilha ecológica, descoberta em uma propriedade particular. Géssica conta que ela e a colega instigaram os alunos, mas projeto foi todo desenvolvido pelas crianças.
"As crianças se sentiram desafiadas"
— Tudo começou com a ideia de sair fora da caixa, de socializar e contribuir com a cidade. Nós íamos aos passeios e percebíamos que os moradores não conheciam a cidade ou não se davam conta da história que cada ponto carrega. Os estudantes começaram com uma pesquisa sobre os lugares com potencial turístico e a partir daí, foram criando o roteiro e acrescentando recomendações de restaurantes e até opções de hospedagem que seria construída como pousada pequena e aconchegante, mais apropriada ao nosso município, destaca a professora Géssica.
A professora Eliane lembra que uma estudante contou que na casa da avó, no interior do município, na capela da São Marcos, a cerca de 30 minutos do Centro, havia uma trilha e cavernas recém-descobertas:
— As crianças se sentiram desafiadas e fomos até a trilha com elas. Descobrimos as cavernas, que contêm formações rochosas, estalactites, e possíveis vestígios de habitantes primitivos. Do Centro até lá, foram cerca de 30 minutos de transporte, e depois mais 20 minutos de caminhada na mata fechada. Observamos cada detalhe, porque é uma área sem exploração humana, então analisamos o solo, as pedras, a vegetação. O passeio virou aprendizado — ressalta.
"Nossa cidade é pequena, mas é linda"
Para o estudante Cristiam de Moraes Massens, 11 anos, o roteiro permitiu explorar os pontos turísticos, mas, principalmente, perceber o que cada lugar significa na história da cidade.
— Eu conhecia o Moinho Melatti (leia mais abaixo), mas nunca tinha entrado no prédio e também não entendia bem como era o processo de fazer a farinha de milho, e aprendemos. Entramos lá e é um lugar lindo. Nós pensamos em criar um roteiro para que todos conheçam nosso município, e nós ainda mais. Nossa cidade é pequena, mas é linda. Tem muitas belezas aqui que nós não percebíamos porque passamos todos os dias pelos lugares. Hoje olho para cada lugar de um jeito diferente. É bonito, mas nem todos conhecem a cidade de verdade — conta o menino.
Lorenzo Gabriel Moreschi, 11, concorda com o colega e conta que aprendeu a cada roteiro percorrido, principalmente, na trilha ecológica:
— Gostei muito da trilha. Levamos a manhã toda para explorar a trilha e as cavernas. Teve muitas quedas, mas foi divertido. Temos muitas belezas na nossa cidade e que agora conhecemos melhor — afirma Lorenzo.
Ricardo Dalla Libera, 11, também aprendeu a cada ponto turístico visitado e catalogado no projeto.
— Andamos pela cidade, visitamos as comunidades e conhecemos as capelas que são centenárias. A estátua do padre Ângelo Mônaco, que fica na Igreja no Centro, também é importante, porque ele faz parte da história de Fagundes — diz Ricardo.
Turismo esbarra na falta de investidores
A cidade não tem secretaria de Turismo. A pasta é vinculada à Administração. Para quem tem interesse em realizar o passeio, a prefeitura pode repassar informações e entregar materiais de apoio. O site da prefeitura, www.fagundesvarela.rs.gov.br, também é outra fonte para os turistas. A prefeita Claudia Moreschi Tomé ressalta que a iniciativa dos estudantes foi aproveitada pelo poder público:
— Ela foi bem-vinda, tanto que o munícipio desenvolveu um mapa no qual potencializamos os pontos fortes de Fagundes Varela, em cima do projeto criado pelos estudantes. Evidenciamos nossas belezas naturais, gastronomia, economia, cultura e as tradições da cidade.
Ilustrado com desenhos estilizados, o material reproduz os prédios públicos, os pontos turísticos, os principais eventos do esporte, cultura e lazer, as capelas e as belezas naturais da cidade, e foi distribuído para moradores, escolas e turistas. Contudo, de acordo com a prefeita, a implantação da rota turística esbarra na falta de investidores.
— Temos potencial turístico e lugares belíssimos, mas é preciso que invistam no setor para que possamos desenvolver essas potencialidades. Alguns pontos ficam distantes do Centro e precisam de acessibilidade —diz.
Ela acrescenta que as estradas de acesso a dois campings, o do Rio Não Sabia e o do Rio Carreiro, recebem melhorias. Além disso, há projetos para construção de mirantes dos quais os turistas poderiam apreciar as belezas — mas, por enquanto, essa é apenas uma ideia.
A falta de hotéis também é um entrave para receber os visitantes. A única opção de hospedagem fechou as portas neste ano.
O ROTEIRO
A reportagem visitou alguns pontos turísticos propostos pelos estudantes:
Rio Não Sabia
A primeira parada foi Rio Não Sabia. O próprio nome instiga a curiosidade dos visitantes. No local, há um bondinho de madeira, usado como transporte alternativo pelos moradores, para atravessar de Fagundes Varela a Guaporé. O rio desemboca no Rio Carreiro, logo após onde antes existia uma ponte de madeira com pilares de pedra, que foi levada pela forte chuva em 1941. Ainda é possível ver as pedras, no ponto onde também existia uma balsa, que acabou desativada.
Trilha Ecológica
Os alunos criaram uma trilha ecológica após percorrer a mata em um terreno particular para desvendar uma caverna. O local fica a cerca de 30 minutos do centro do município, na capela de São Marcos. Após percorrer 20 minutos de caminhada na trilha com a vista do rio Carreiro os visitantes podem entrar numa caverna recém descoberta onde há vestígios de habitantes primitivos.
Capela São Pedro
A capela São Pedro, construída em 1912, é um dos patrimônios históricos da cidade. Com 106 anos e repleta de histórias, a capela foi revitalizada no centenário da igreja, em 2012. O serviço foi realizado pelos moradores da localidade, em conjunto com a prefeitura da cidade. Distante cerca de seis quilômetros do Centro de Fagundes Varela, chama a atenção pelo campanário onde está instalado o sino, logo ao lado da capela. No pequeno templo, o padre Ângelo Mônaco, que ficou no lugarejo de 1923 a 1948, ano em que faleceu, rezava as missas em italiano.
Estátua do padre Ângelo
Considerado milagreiro, o pároco recebeu uma estátua e tem a devoção e o carinho dos fiéis na cidade. Nas tempestades e furacões, os fagundenses recorrem ao padre e contam histórias da sua fé, que passam de pai para filhos fortalecendo a espiritualidade tão viva na cidade. A capela onde está sepultado o corpo do pároco recebe milhares de pessoas todos os anos, pedindo bênçãos e agradecendo por graças alcançadas. Para valorizar a história do padre e manter viva sua memória, todos os anos, no primeiro final de semana de março, Fagundes Varela promove a Romaria ao Túmulo do Padre. A programação prevê caminhadas e celebração eucarística.
Gruta de Nossa Senhora de Lourdes
A gruta, construída em pedra basalto em 1924, está sempre aberta aos visitantes. Localizada nas proximidades da Igreja Matriz, no centro de Fagundes Varela, ao lado de uma capela em madeira, o lugar é frequentado por moradores que buscam de boas energias, paz e tranquilidade.
Casa Ghiggi
A construção centenária funcionou como parada para os tropeiros de 1920 a 1950. Na propriedade conhecida como Casa de Pasto, funcionava uma hospedaria, uma ferraria e uma casa comercial. Depois da década de 1960, a parte comercial foi extinta e a família ainda morava no local. Recentemente, a casa foi fechada, mas mantém no interior lembranças da colonização italiana, que é marcante no município. A família frequenta a residência apenas aos finais de semana. Em frente à casa há um açude, e ao lado o espaço onde funcionava a ferraria.
Capela Nossa Senhora do Rosário
Construída em 1900 numa área que deveria ser o centro da cidade, a capela está distante cerca de três quilômetros da área central. A comunidade cresceu em torno dela e até hoje há famílias que vivem naquela terra e sobrevivem do que produzem ali. Ao lado da capela tem um campanário, que parece uma pequena torre de madeira, onde está localizado o sino. Há também o cemitério, cercado por muros de pedras e com cruzes artesanais em ferro.
Moinho Melatti
A construção data de 1888 e o Moinho Melatti esteve em funcionamento até 2010. Atualmente desativado, antigamente o moinho transformava grãos de cereais em farinha moendo-os com uma roda de pedra movida pela força d'água. O prédio centenário foi escolhido como ponto inicial da rota turística, devido a importância para o desenvolvimento da cidade. A história começou com o imigrante italiano Cristófolo, que adquiriu as instalações da família Franquini. Depois o moinho foi administrado pelos filhos Ernesto, Santo, e Raimundo e posteriormente, passou para a administração dos netos Egídio, Leduíno e Arlindo e por Amantino Peruzzo. Em 2013 foi adquirido por um dos herdeiros - Egídio - que até hoje administra o local. O moinho mantém a estrutura centenária e encanta os visitantes. A turbina, que era acionada pela força do Arroio Vicente Rosa, também conhecido como Melatti, ao lado do prédio, ainda pode ser vista pelos turistas.
Pórtico
O pórtico de entrada também é um dos destaques da cidade. Para chegar ou sair do município, o turista passa obrigatoriamente pelo ponto e recebe uma saudação. Na saída, a despedida deseja uma boa viagem.
Cultura italiana
O roteiro finaliza com as tradicionais "festas de capela", realizadas aos domingos nas colônias italianas do interior do município.
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