Foi por volta das 22h de domingo que surgiu um dos pontos mais nevrálgicos da greve dos caminhoneiros em Caxias do Sul. É nos pavilhões da concessionária Dipesul, no bairro Santa Lúcia, que estão estacionados seis tanques carregados com um total de 150 mil litros de gasolina que poderiam, em tese, amenizar um pouco da crise de abastecimento na cidade. O combustível guardado sob pavilhões daria para encher o tanque de cerca de 3,7 mil carros de pequeno porte, mas estão reservados para os serviços de emergência.
Desde que o primeiro veículo ingressou na empresa, porém, o final da Rua Jacob Luchesi quase no trevo de acesso a Monte Bérico, na RSC-453, se transformou num local de protestos e bloqueio. A concessionária que cedeu o pátio para as manobras dos veículos — os tanques estavam em rodotrens de uma transportadora e foram engatados em outros caminhões — dispensou temporariamente os funcionários e se obrigou a fechar os portões. Os manifestantes, por sua vez, ocupam os dois lados da Rua Jacob Luchesi e os acessos da Dipesul com caminhonetes e caminhões e prometem não sair dali.
Com tanto movimento, o motel em frente à concessionária não recebeu nenhum cliente desde a noite de domingo.
— Não sei o que fazer, ninguém está vindo para cá — reclamou o dono do estabelecimento, que preferiu não se manifestar.
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O objetivo inicial do Sindicato das Distribuidoras de Combustível no Rio Grande do Sul (Sindsul) era levar o combustível para cinco ou seis postos de Caxias. A entidade alegou que a gasolina, que veio da Região Metropolitana, seria usada apenas para abastecer viaturas da polícia e ambulâncias, entre outros serviços de emergência. Contudo, os caminhoneiros e apoiadores não acreditaram que os 150 mil litros seriam usados apenas para esse socorro aos órgãos públicos e bloquearam a saída da Dipesul tão logo os caminhões chegaram.
— Estamos aqui de forma pacífica, mas só vamos deixar sair o caminhão que for usado realmente para abastecer os serviços de emergência. Não é nossa intenção de que a polícia ou as ambulâncias fiquem sem combustível — declarou o empresário Moises Boschetti, um dos apoiadores do movimento que participou das negociações ao lado do caminhoneiro Paulo Moreira.
Os manifestantes até negociaram a liberação da gasolina com a Brigada Militar (BM) na manhã desta segunda-feira, contudo, não havia motoristas para conduzir os veículos até um posto da cidade. Agora, o comando do 12º Batalhão de Polícia Militar (12º BPM), que enviou vários policiais para escoltar os caminhões, aguarda uma resposta do Sindsul. O grupo de PMs retirou-se do local perto do meio-dia.
— Não havia motorista para levar os caminhões e, nós, da BM, não podemos conduzir esses veículos. Então, estamos aguardando qual será a posição dos proprietários do combustível — afirma o comandante do 12º BPM, major Jorge Emerson Ribas.
O presidente do Sindsul, Roberto Tonietto, explica que a ausência de condutores para dirigir os veículos é por razões de segurança.
— Estamos preocupados com os motoristas. Por isso, vamos aguardar até o final do dia. Esperamos que haja bom senso para a liberação — diz Tonietto.
Apoiadores de outros setores
Aos poucos, a manifestação na frente da Dipesul ganha o apoio de pessoas sem relação com caminhoneiros. É o caso do representante comercial Matheus Leques, 32, que veio a pé de Monte Bérico para engrossar o coro contra o governo federal. Entre goles de chimarrão e bate-papo com conhecidos, Leques ponderava sobre a importância da população em ajudar nos protestos.
— Tenho pouco gasolina no meu carro. No meu trabalho, se eu vender não tem como entregar. Mesmo assim estou aqui para apoiar porque não posso pensar somente em mim — conta Matheus.
Dono de duas lojas, César Grandi também se juntou ao grupo:
— Há três anos, a gente era feliz, todo mundo comia bem, pagava as contas e a gasolina não tinha esse preço. Agora não dá mais.
Cerca de 30 motoristas de vans também estavam reunidos na Jacob Luchesi, segundo o presidente da associação Univans, Luiz Antônio Ferraz:
— Estamos em greve também. Apenas alguns motoristas de fretamento (escolar) seguem trabalhando — garante Ferraz.
O grupo depende da solidariedade para manter o acampamento improvisado. Alguns trouxeram água e refrigerante, outros compraram pão e salsichão para o almoço.
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