A expansão urbana de Caxias do Sul para a Zona Leste, que reúne 14 bairros, já foi vista como irreversível e ainda parece ser uma tendência, mas na prática é uma incógnita. Um dos motivos envolve a experiência com o loteamento popular Campos da Serra, na região do São Luiz da 6ª Légua. Visto como solução para os problemas habitacionais envolvendo famílias pobres, o projeto Campos da Serra foi concebido numa área que antes era rural. Só que o assentamento de centenas de famílias num setor distante evidenciou a dificuldade de acesso a serviços básicos e ainda levará anos até que o município consiga estruturar escolas e outras atividades públicas para atender plenamente àquela região.
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O próprio São Luiz, uma das áreas de maior crescimento nos últimos anos e que continua recebendo investimentos por parte de incorporadoras e urbanizadoras, enfrenta problemas de trânsito, pois o bairro só é acessado por uma única via no limite com o Cruzeiro. Outro temor é que a expansão possa comprometer as áreas verdes e a produção agrícola no entorno e nos distritos vizinhos como Fazenda Souza e Santa Lúcia do Piaí. Desde 2016, o São Luiz teve dois novos loteamentos aprovados.
No momento, a Secretaria do Urbanismo diz que uma grande área teve o processo de viabilidade aprovado, isto é, os donos podem prosseguir com a construção de um novo loteamento. Um futuro cenário, segundo técnicos da prefeitura e do setor imobiliário, é a construção do Aeroporto de Vila Oliva. A obra puxaria o desenvolvimento urbano para o Leste, pois entre o São Luiz e Vila Oliva há vastas áreas não urbanizadas. Contudo, o futuro aeroporto segue no plano das intenções e deve levar anos para virar realidade.
O ônus e o bônus da expansão em São Luiz da 6ª Légua
Do topo de um morro, dá para ver a pressão do crescimento urbano sobre a comunidade de São Luiz da 6ª Légua, vendida em anúncios imobiliários como um recanto para respirar ar puro e fugir da correria do Centro. Tem gente que imagina, para breve, uma ligação de casas e pavilhões entre São Luiz e a localidade de São Valentim da 6ª Légua, duas comunidades separadas por muito verde e um trecho de estrada de 1,7 quilômetro. Tem quem se pergunte quanto tempo levará para as áreas verdes no lado oposto, em direção ao loteamento Campos da Serra, darão lugar a mais prédios.
O desenvolvimento do bairro ganhou relevância nos últimos 15 anos. Um dos movimentos recentes mais visíveis é nos fundos da Igreja Matriz da comunidade, onde o mato foi derrubado para a abertura de ruas de um futuro loteamento, uma amostra da expansão.
A atual prosperidade urbana traz bônus e ônus. Moradores dizem que é bom morar no São Luiz porque as famílias não precisam mais ir até a área central para fazer as compras do mês com maior variedade do que era oferecida pelo comércio local, pois agora contam com um grande mercado. Tem até farmácia e uma veterinária, novidades para os padrões do bairro. Os transtornos se materializam no congestionamento de veículos que se forma todo final de tarde na Rua Antônio Broilo, único acesso direto ao bairro, e nos furtos em residências. Com o crescimento, aumenta também a pressão pelos serviços públicos. Recentemente, as famílias do loteamento Monte Belo conseguiram uma linha de ônibus. Projeta-se agora a luta pela construção de uma unidade básica de saúde (UBS).
— Quando comecei a ir para a escola aqui no São Luiz, tinha poucas casas (no entorno da igreja matriz). Daí passei a frequentar a escola do Cruzeiro e mexiam comigo, dizendo que eu era da colônia. Agora, as pessoas querem vir morar aqui — diverte-se Rafael Bromatti, líder comunitário do São Luiz.
ÚLTIMO CENSO DEMOGRÁFICO: 65.730 habitantes na Região Leste (em 2010)