A área mais populosa de Caxias do Sul (106 mil habitantes, segundo o último censo demográfico) também é a que menos se desenvolveu de maneira uniforme e ainda teria espaço para crescer. Há temores, porém, que a especulação afete ainda mais o já enfraquecido turístico de localidades como a Linha 40, por exemplo.
A expansão para os lados de Ana Rech também causa apreensão, já que o acesso principal é pela Avenida Rio Branco, via saturada pelo trânsito pesado em horário de pico. Por outro lado, a expansão do Norte é o limite com Flores da Cunha e as áreas dos mananciais de água, conforme estimativas da Seplan. Por outro lado, o mapa mostra também que há muitas áreas desabitadas no perímetro que poderiam ser melhor aproveitadas, sem a necessidade de abrir loteamentos em setores desabitados.
— Assim como em outras partes da cidade, sei de uma terra com dois hectares cercada por toda a infraestrutura ali no Interlagos. Não há porque não investir em espaços assim nos próximos anos — lembra Fernando Reis.
Santa Bárbara projeta melhorias, mas com ressalvas
Em 1879, auge da colonização italiana na Serra, o antigo travessão Júlio de Castilhos, na região de Ana Rech, recebeu o primeiro casal de moradores. Nos anos 1970, apenas 25 famílias residiam na comunidade rural, que já tinha ganhado outro nome: Santa Bárbara. O baixo número de habitantes mostra que o crescimento foi muito lento nos primeiros 100 anos de existência da localidade, segundo os moradores mais antigos.
Quanta diferença a partir da metade dos anos 2000. Santa Bárbara recebeu o primeiro asfalto e ganhou uma rede de distribuição de água. As melhorias transformaram a comunidade rural num oásis para quem tinha terra para vender e para quem procurava um lugar barato para construir uma casa. Hoje, são 1,5 mil famílias ocupando a área, boa parte delas em loteamentos irregulares. Santa Bárbara tende a aumentar ainda mais em direção à localidade de Parada Cristal. No sentido contrário, em direção ao Faxinal, a expansão de casas ou pavilhões não acontecerá porque há uma barreira formada por morros e árvores que protege a área de preservação das águas.
O problema é que as melhorias na infraestrutura da comunidade estão suspensas desde o ano passado, quando a prefeitura proibiu a execução de obras públicas em áreas loteadas sem autorização. A Estrada Olímpio Miotto tem ainda 2,3 quilômetros de chão para serem cobertos por asfalto, ligação da comunidade com a BR-116, na Parada Cristal. Outros 800 metros de estrada até a barragem do Faxinal também necessitam de pavimentação.
— Não sabemos o que pode acontecer e também não sei se virar uma área urbana é a solução — diz o empresário Ivo Miotto, 57 anos, líder comunitário e bisneto de um dos primeiros moradores de Santa Bárbara.
A preocupação de Miotto tem relação com a proposta de transformar parte da comunidade em perímetro urbano. Se o projeto passar pela Câmara de Vereadores, abriria caminho para a regularização de lotes. Com regularização fundiária, as obras retornariam e estimulariam, em tese, o crescimento ordenado. O risco, porém, é Santa Bárbara perder de vez os ares de colônia.
Numa das vias sem nome da localidade, é fácil observar essa descaracterização. Cerca de 20 casas ocupam a terra onde outrora brotavam tomates. O cenário agora é composto de moradias ladeadas por área verde e pela plantação de milho de João Saccaro, 56. O homem decidiu não lotear a área herdada dos pais e teme que a urbanização prejudique o trabalho como agricultor — ele também é lenhador. Miotto também teme o aumento do custo de vida.
— Estar no perímetro urbano é bom, mas em partes. A gente sabe que o IPTU encarece — pondera o empresário.
ÚLTIMO CENSO DEMOGRÁFICO: 106.838 habitantes no Norte (em 2010)