Em meio ao samba, estruturas improvisadas em calçadas e o cheiro predominante de churrasquinho no ar, a Rua Assis Brasil, no bairro Jardelino Ramos, não deixava dúvidas: o autêntico carnaval sobrevive em Caxias. No final da tarde deste sábado, centenas de pessoas ocuparam o trecho da via, entre as ruas Humberto de Campos e Nestor Moreira, para celebrar a festa de maneira independente, após o cancelamento dos desfiles técnicos, consequente da decisão da prefeitura em negar recursos pelo segundo ano consecutivo ao evento.
Apesar do formato diferente do até então consolidado, para os presentes, o clima era de festa e união, afinal, com a inexistência da competição dos desfiles, escolas de samba se juntaram para formar uma só banda. Denominada de Samba de Comunidade, o grupo reuniu as agremiações Incríveis do Ritmo, Filhos de Jardel, Arsenal, Império da zona Norte e Protegidos da Princesa.
— Tá ótimo por ser a primeira vez que realizamos esse carnaval com fechamento de rua. Não é um Bloco da Velha ou da Ovelha, mas é um samba comunitário. É mais contagiante. É o carnaval legítimo, da comunidade — destacou um dos organizadores do evento e presidente da Escola de Samba Filhos de Jardel, Simião Vargas.
O envolvimento e a participação positiva da comunidade, segundo ele, pode ser motivo de consolidar uma futura reformulação do próprio carnaval de rua de Caxias:
— Quem sabe essa rua não possa ser a nossa nova avenida no carnaval de rua. Já apresnetamos essa proposta e pretendemos ampliar ese debate junto com presidentes de bairros e escolas de samba — complementou.
A satisfação com o evento também foi exaltada pelo presidente da INcríveis do Ritmo, Solano Garcez:
— A comunidade se envolveu bastante e esse era o objetivo. Tem crianças, famílias, idosos, morador do bairro vendendo churrasquinho, cerveja e essa união forte para mantermos a cultura do carnaval viva.
Festa de famílias e gerações
Nas calçadas, moradores utilizam as próprias cadeiras para assistir a apresentação da banda e interagir com vizinhos e amigos. Crianças circulavam pela rua com bicicletas e motocas. O clima de confraternização era natural, assim como a paixão pelo carnaval.
Moradora há 60 anos do bairro Jardelino Ramos, Natália do Amaral, participa ativamente do evento há décadas. Apesar de lamentar o fim dos desfiles, ela defende que o novo formato também tem seus benefícios:
— Deixa de ter aquele interesse financeiro por parte de algumas pessoas e rivalidade entre as escolas. Nesse estilo deste ano é só festa e alegria. Um clima muito mais tranquilo — opinou.
Ao lado dela, a filha, a neta e as bisnetas — trigêmeas de apenas oito meses — também compartilhavam o legado de amor pela folia:
— Eu sempre desfilei e minhas filhas desfilariam futuramente se continuasse existindo o carnaval de rua. Mas mesmo ficando triste que acabou, gosto bastante desse modelo também. É muito mais família — afirmou.
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