Na virada deste sábado (17) para domingo (18), chegam ao fim quatro meses de horário de verão. À meia noite, é necessário atrasar os relógios em uma hora. Mesmo se repetindo todo o ano, a mudança acarreta uma eterna divisão de opiniões. Afinal, a medida é boa para quem?
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Oficialmente, o horário de verão é aplicado para diminuir o consumo de energia nos horários de pico, evitando a sobrecarga no sistema, que exige o acionamento de usinas termelétricas, mais caras e poluentes. Os impactos da medida, porém, vão muito além do setor.
A partir do domingo, a volta do relógio ao normal encurtará os dias: neste sábado, o sol deve se pôr às 20h09min, conforme o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). No domingo, o início da noite já pula para 19h08min, e vai diminuindo cerca de um minuto por dia até o início do inverno.
Para muitas pessoas, o dia passará a terminar mais cedo: com menos tempo de luz, não há tanto ânimo para fazer exercícios, compras ou mesmo esticar o horário de expediente. Já outra parte da população poderá deixar, enfim, de acordar ainda durante a noite para ir trabalhar.
Confira os pontos negativos e positivos do horário de verão para diversos setores da sociedade:
PONTOS POSITIVOS
:: Mais tempo para o comércio
Com o sol se pondo mais tarde, as pessoas circulam mais tempo pelas ruas, visitam mais lojas e compram mais. Essa é a percepção do presidente do Sindicato do Comércio Varejista (Sindilojas) de Caxias do Sul, Sadi Donazzolo. Ele não arrisca um percentual, mas afirma que, consistentemente ao longo dos anos, as vendas do comércio são melhores no período de mudança no relógio.
— As pessoas saem mais de casa, especialmente quem trabalha na indústria e sai por volta das 17h, 17h30min, tem mais tempo para frequentar as lojas, shoppings. Poderia inclusive ser prolongado por uns 15 dias _ aponta.
Mesmo com a volta ao horário normal, as lojas devem manter o horário de fechamento às 19h.
:: Mais luz, mais segurança
Em texto publicado nesta semana, o colunista do jornal Zero Hora Humberto Trezzi defendeu o prolongamento do horário de verão pelos benefícios que traz à segurança pública. Entre os argumentos, Trezzi disse que "ladrão não gosta de acordar cedo". O comandante da Brigada Militar de Caxias, major Jorge Emerson Ribas, não entra nesse mérito, mas é categórico:
— De forma bem objetiva, a luminosidade é um fator de segurança. Quanto mais luz tivermos, melhor. Ela representa um ambiente de segurança.
Ribas se refere à hora a mais de sol no fim da tarde, que motiva a circulação de pedestres por mais tempo. Ele não arrisca, porém, dizer se o horário de verão tem relação direta com a criminalidade.
Os números sugerem que sim: são inúmeros os fatores que influenciam no número de crimes cometidos, porém, nos últimos dois anos, foram registrados menos delitos no período de horário de verão. Entre novembro de 2015 e fevereiro de 2016, os crimes contra o patrimônio (furtos, roubos, latrocínio) diminuíram 7% em Caxias em relação aos os quatro meses anteriores. Foram cerca de 300 ocorrências a menos.
A discrepância entre julho a outubro de 2016 e novembro de 2016 a fevereiro do ano passado é mais gritante: o período de horário de verão trouxe uma diminuição de 23% no número de crimes contra o patrimônio. Foram cerca de mil ocorrências a menos, de acordo com a Secretaria Estadual de Segurança Pública.
:: Exercícios e ocupação do espaço público
Para a maioria da população, ter mais horas de sol significa aproveitar melhor o dia. É o que estavam fazendo centenas de pessoas por volta das 19h desta sexta (16), no Parque Getúlio Vargas (Parque dos Macaquinhos). Uma delas é a estudante de administração Laura Isotton dos Santos, 23, que aproveitava a hora extra de luz para caminhar. A rotina de exercícios dela começou há uma semana, e pode ser que não se mantenha com a mudança de horário:
— Vai acabar a vontade de viver — brinca.
Luana Angonese, 23, promotora de vendas que caminhava com Laura, acredita que o horário de verão passe uma sensação de segurança, já que motiva as pessoas a sairem de casa.
Valdecir Cecchin, 48, concorda. O representante comercial aproveitava o último dia antes de atrasar o relógio tomando um chimarrão com a família.
— Deveria continuar até o fim de fevereiro — acredita.
Mesmo assim, com horário de verão ou sem, enquanto fizer calor ele pretende manter o hábito de relaxar no parque após o expediente. Se a iluminação artificial do local colaborar, claro.
:: Economia de energia
Economizar energia elétrica é a meta primordial do horário de verão. Neste ano, foram poupados 4.570 MWh na faixa das 19h às 22h nas 255 cidades que envolvem a área de concessão da Rio Grande Energia (RGE). A economia de 0,22% no consumo equivale ao suficiente para atender a cidade de Caxias do Sul por um dia. No entanto, o resultado ficou abaixo do previsto pela concessionária. Na metade de outubro de 2017, a expectativa era economizar 8.880 MWh no período, quase o dobro do observado.
PONTOS NEGATIVOS
:: Menos tempo para jantar
Se pudessem escolher, muitos donos de restaurante baniriam o horário de verão. O presidente do Sindicato Empresarial de Gastronomia e Hotelaria Região Uva e Vinho (Segh), Vicente Perini, explica: com o sol indo até mais tarde, as pessoas esperam até mais tarde para jantar, diminuindo o tempo de movimento de restaurantes que abrem à noite.
— Às vezes, você perde aquele horário de movimento pelo fato de começar mais tarde e terminar no mesmo horário — aponta.
Uma forma de contornar o problema, segundo ele, seria apostar no happy hour. Em Caxias, porém, o costume de comer ou beber algo logo após o expediente ainda não é tão difundido quanto em cidades maiores.
:: Para as plantas, só importa o sol
Os agricultores são outra categoria que não enxerga razão para mudar os relógios: para as plantas, o que importa é a movimentação do sol, que continua a mesma. Ao trabalhador rural, cabe obedecer à natureza.
— É um horário que não agrada. O agricultor trabalha em função do sol — explica o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Agricultores Familiares de Caxias, Rudimar Menegotto.
De acordo com ele, além de não ajudar, o horário diferente ainda traz transtornos. Isso ocorre porque, apesar de necessitar manter a rotina para a lavoura, também é preciso frequentar feiras e mercados, que têm a hora alterada no verão.
:: Relógio biológico não se ajusta tão fácil
Para a saúde, o horário de verão também não é o ideal. O tempo de adaptação depois das mudanças no relógio varia para cada pessoa, mas apresenta dificuldades adicionais para as crianças. De acordo com a pediatra Mara Ribeiro Mendes, fica difícil para os pais manterem alguns hábitos com a luz solar extra.
— Se a criança está acostumada a dormir às 21h, como vamos fazer ela entender que ela deve dormir às 20h? Ela vai dizer que ainda não está com sono, já que não escureceu — exemplifica.
O mesmo problema pode ocorrer com os horários das refeições. Além disso, como o dia se torna mais longo, também se estende o horário de brincadeiras, o que pode trazer consequências.
— O sol brilha uma hora a mais e as crianças querem brincar mais tempo na rua. Mas a temperatura não muda com o horário, então temos as doenças de verão, como resfriados, alergias, picadas de insetos... Mesmo sendo gostoso (o horário de verão), atrapalha — opina a médica.
:: País fica com horários diferentes
Como abrange somente as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste — no Norte e Nordeste, pela proximidade com a linha do Equador, a mudança não geraria efeito prático — o horário de verão amplifica a diferença de fuso horário entre as diferentes regiões do Brasil. No Amazonas e Acre, por exemplo, há uma diferença, respectivamente, de duas e de três horas a menos em relação aos demais Estados.
A discrepância pode gerar confusão para a transmissão de eventos nacionais. É por esse motivo, inclusive, que o próximo horário de verão será mais curto: o presidente Michel Temer (PMDB) editou um decreto adiando a mudança no relógio para o dia 4 de novembro. A mudança foi realizada a pedido do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Gilmar Mendes, para evitar atrasos na apuração dos votos e na divulgação dos resultados da eleição, que ocorre no dia 28 de outubro. Para quem não gosta de alterar o relógio, é uma pequena vitória.