O 1º Distrito Policial de Caxias do Sul começa a investigar nesta quinta-feira (28) cinco denúncias de estelionato registradas contra a agência Taw Intercâmbios, localizada às margens da BR-116, no bairro Nossa Senhora de Lourdes. Conforme os clientes, a empresa teria encerrado as atividades e os contratos sem aviso prévio, mesmo após o pagamento de pacotes e viagens já encaminhadas.
Para as vítimas, os indícios do crime são claros e começaram a surgir no início desta semana, quando perceberam que as redes sociais da empresa foram sendo excluídas, incluindo um grupo de WhatsApp no qual se mantinha contato direto com os contratantes dos serviços. A apreensão virou pânico quando diversas pessoas foram até a filial da agência, que ficava em um centro comercial próximo ao Monumento ao Imigrante, e a encontraram fechada. Tentativas de contato com funcionários e a própria empresa também se mostraram infrutíferas. Inclusive, muitos deles teriam excluído as redes sociais.
— Meu irmão, que aguardava o ressarcimento de R$ 5 mil após ter desistido de um intercâmbio, ligou apavorado. Ele explicou a situação e após perceber o que estava acontecendo, consegui obter o contato de pessoas que foram excluídas daquele grupo de WhatsApp — informa Franciele Becher, irmã de uma das vítimas.
Aos poucos, o número de pessoas que alegam ter sido lesadas aumentou. Atualmente, seriam 86, de diversos Estados. Após diversas tentativas de contato, Franciele revela que o irmão recebeu um e-mail do departamento jurídico da empresa, confirmando o encerramento das atividades em razão de "sérios problemas financeiros".
— É óbvio que é estelionato. Na sexta-feira (22), meu irmão passou lá e viu tudo funcionando normalmente. Eles fecharam às vésperas do Natal, justamente no período que os órgãos judiciais entram em recesso. A empresa informou que foi à falência, mas isso não justifica terem feito promoções na Black Friday ou o fato terem instalado outdoors pela cidade — protesta Franciele.
De acordo com a titular interina do 1º Distrito, delegada Suely Rech, as investigações devem se concentrar inicialmente na busca pela empresa:
— As ocorrências afirmam que os representantes da empresa sumiram. Mas vamos dedicar nossos esforços para encontrá-los e esclarecer essa situação.
Além de acionar o Procon, o grupo prejudicado pretende também ingressar com ação junto ao Ministério Público e no Juizado de Pequenas Causas.
"Demorei dois anos para juntar o dinheiro"
Enquanto aguardavam atendimento no Procon na manhã desta quarta-feira (27), três pessoas compartilhavam a expressão de frustração. Para elas, o que era um sonho prestes a ser realizado se transformou em transtorno.
— Adquiri um pacote de intercâmbio de seis meses para a Irlanda e paguei tudo: acomodações, passagens, curso de inglês e trabalho. Custou R$ 15,5 mil, dinheiro que juntei ao longo de dois anos. A viagem ocorreria no dia 30 de janeiro, eu já estava preparado. Claro que vou lutar até o fim pelos meus direitos, mas não enxergo como viabilizar a realização desse sonho novamente — lamenta um engenheiro mecânico que preferiu não se identificar.
A decepção dele é a mesma da comerciária Marisete Miri Lorenzini, mãe da estudante Larissa Miri Lorenzini, de 16 anos, que iria para Toronto, no Canadá, nas férias escolares de julho de 2018.
— Foram R$ 5,7 mil jogados fora. Mas o que mais lamentamos é não poder propiciar a ela (filha) essa experiência. Como deve começar a faculdade em 2019, provavelmente não vai mais ter tempo para fazer o intercâmbio — afirma.
A moradora de Garibaldi Elisa de Antoni Faria se sente em parte aliviada por ter contratado apenas parcialmente os serviços da agência. Com a empresa, articulou acomodação e curso de inglês de quatro semanas em San Diego, nos Estados Unidos, num investimento aproximado de R$ 5 mil. Com viagem marcada para sexta-feira (29), e, supostamente, tudo garantido, ela relata ter estranhado quando, no último domingo (24), todas as redes sociais da empresa foram deletadas. Após não conseguir contato com a funcionária com quem fechou negócio, Elisa teve uma surpresa ao ligar para a própria escola na cidade americana para verificar a situação.
— Entrei em contato com eles e me informaram que não tinha nenhuma matrícula com o meu nome. Descobri que a agência ficou com meu dinheiro, não me matriculou nem reservou minhas acomodações — diz, indignada.
O alento, no entanto, segundo ela, é já ter as passagens e ter parentes que moram próximos à cidade de destino:
— A sorte é que eu já tinha combinado ficar um período lá, já que as aulas só começariam em janeiro. Agora, pelo visto, vou ter de me aproveitar mais deles (familiares).
Empresa não foi localizada
O Pioneiro esteve na filial da Taw Intercâmbios e constatou que a empresa está fechada. Embora não haja aviso de fechamento, através da cortina de ferro percebe-se que a maior parte dos móveis e aparelhos eletrônicos foram retirados. Segundo comerciantes e trabalhadores do centro comercial onde ficava a agência, desde segunda-feira não se observa movimentação no espaço.
— Na sexta-feira, estava funcionando normalmente. Quando chegamos, na terça, eles estavam fechados e havia várias pessoas na frente nos perguntando informações. Não percebemos nenhuma mudança que justificasse esse fechamento — disse a funcionária de uma loja próxima que não se identificou.
De acordo com outra pessoa ouvida pela reportagem, um dos moradores vizinhos afirmou ter visto um caminhão recolhendo mobiliário na noite do último domingo, véspera de Natal.
O Pioneiro não conseguiu contatar a empresa pelos telefones da sede de Caxias ou pelos informados no site da agência — única fonte online ativa. Um e-mail com questionamentos foi encaminhado ao jurídico da Taw Intercâmbios, que não enviou respostas.
Segundo o site G1, a outra unidade da Taw, em São Carlos (SP), também fechou as portas durante o fim de semana e deixou pelo menos quatro clientes sem as viagens. Ao G1, o dono da empresa justificou que cancelou os contratos porque enfrenta forte crise financeira. Disse ainda demorou para avisar as famílias porque tentava até agora levantar o dinheiro para pagar o curso e a acomodação. Disse ainda que vai cumprir os termos do contrato com relação ao cancelamento.
Procon deve aguardar investigação policial
Embora seja o órgão recomendado para casos que envolvam consumidores lesados por empresas, o Procon orienta as pessoas prejudicadas pela Taw Intercâmbios a registrarem queixa junto à Polícia Civil devido aos indícios de estelionato. Conforme o coordenador do Procon de Caxias, Luiz Fernando Del Rio Horn, a dificuldade em localizar representantes da agência dificulta o trabalho de defesa ao consumidor. Portanto, ele afirma que o órgão deve aguardar a identificação de responsáveis pela empresa para posterior responsabilização
— No momento em que o fornecedor desaparece, não há quem responsabilizar. Dependemos de um processo de investigação que é desenvolvido por outros organismos — afirma.
Ainda assim, ele ressalta que após o registro de ocorrência, os consumidores devem procurar o Procon para fazer a denúncia que posteriormente será encaminhada à Delegacia de Polícia de Proteção ao Consumidor, em Porto Alegre. Também é recomendado acionar a Justiça para ajuizar ações de ressarcimento de valores.