"A próxima tem que ser de ouro". O desafio foi proposto pela mãe do estudante Krístofer Guilherme dos Santos, na época com 12 anos, quando o garoto, então cursando o 6º ano do Ensino Fundamental na Escola Estadual Coronel José Pena de Moraes, conquistou a medalha de prata na Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM) em 2016. Um ano depois, Krístofer conseguiu chegar ao topo: aos 13 anos, no 7º ano, foi o único caxiense entre os 500 melhores (200 se considerado o nível que ele competiu, em que concorreram alunos de 6º e 7º anos) num universo de 18 milhões de estudantes de todo o país. Como prêmio, recebeu a sonhada medalha de ouro.
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O resultado foi divulgado no final do mês de novembro. A premiação ocorre somente no final de dezembro, no Rio de Janeiro, mas a família já está se articulando para a viagem.
— Nunca fui para lá (Rio de Janeiro). Gostaria de levar toda minha família, pois eles ficaram muito orgulhosos. Eu até me surpreendi com a felicidade deles — comenta o estudante.
Para o rapaz, a conquista tem grande valor, principalmente pela abrangência da competição. Por outro lado, diz esperar que o reconhecimento represente apenas uma etapa inicial de um futuro promissor.
— É gratificante, mas minha ideia é subir a partir daqui. Não posso diminuir, preciso melhorar sempre. No momento, não sei o que quero do futuro, mas acho que vou tentar ser professor — revela.
Embora o garoto afirme não ter considerado difíceis as provas, o professor de matemática Vinícius Duarte Lazzaretti, que leciona na Escola Pena de Moraes, afirma que a complexidade das questões eliminava qualquer possibilidade de os competidores terem vencido na sorte.
— Não era de assinalar. Precisava raciocinar, desenvolver a resposta e comprovar. Se ele passou, é porque soube fazer mesmo — reitera.
Sobre o sucesso do aluno, o docente se abstém de boa parte do mérito. Segundo Lazzaretti, Krístofer sempre se mostrou acima da média e nunca precisou de muito incentivo para se destacar:
— (Krístofer) é daqueles estudantes que nem precisam ser auxiliados, porque o incentivo já vem de casa. Mas, é algo que nos deixa muito orgulhosos e motiva os professores a ter um dos seus alunos representando a escola na olimpíada. Sem contar a inspiração para os demais colegas.
União de escola, famílias e estudantes
A Escola Estadual Coronel José Pena de Moraes, localizada no bairro São Pelegrino, atende cerca de 390 alunos. Apesar da estrutura relativamente pequena, o empenho de diretores, professores e alunos torna a instituição referência à rede pública de ensino em Caxias. Conforme a diretora Rosana Cesa, o reconhecimento de Krístofer Guilherme dos Santos é um dos resultados do comprometimento estabelecido na relação entre os educadores, os alunos e as próprias famílias.
— Família e escola têm de andar juntas. No momento que os pais estão do lado da escola, tudo fica mais fácil e nosso trabalho se torna muito mais eficiente. E a conquista do Kris mostra que as escolas públicas têm tanto potencial quanto qualquer instituição privada. Tudo depende de que todos acreditem e se esforcem para isso — defende Rosana.
Dois irmãos de Krístofer também são exemplos de dedicação. Enquanto Lucas, 15 anos _ que cursa o 1º ano do técnico em Fabricação Mecânica no Instituto Federal (IFRS) _, já ganhou duas medalhas de prata nas Olimpíadas de Matemática quando estudava na Pena de Moraes, Rafaela, de 10, já apresenta notas de destaque cursando o 4º ano do Fundamental.
— A escola (Pena de Moraes) é muito boa, mas gosto de deixar claro para os meus filhos que ele precisam se dedicar. Estudar é a única responsabilidade e a obrigação deles nesse momento. Por outro lado, nunca proíbo ou defino horários para eles navegarem na internet ou ficarem no celular. Só acompanho de perto e me envolvo mesmo — relata Raquel Borges Guilherme, mãe dos três estudantes.
Com relação à conquista mais recente de Krístofer, a analista financeira destaca o interesse demonstrado pelo filho, sobre quem afirma ter tido receios nos anos iniciais.
— Ele sempre teve um temperamento muito forte e isso me preocupava. Até que na escolinha, a professora me falou que o Kris ia ser o orador da turma. Isso me surpreendeu. Eu questionei: "mas como? Ele não sabe nem ler". Porém, ele já sabia ler. Eu é que não sabia disso. Foi ali que começou. Desde então, ele só apresentou notas boas.
Além de Kris
Outros 11 estudantes de Caxias do Sul _ nove de escolas públicas e duas de particulares _ também foram reconhecidos com medalhas de prata, bronze e menções honrosas na competição.