Apesar de ter registrado uma pequena queda desde 2015, ano em que houve uma explosão nos registros de sífilis em todo o país, Caxias do Sul ainda figura entre as cidades que concentram mais pessoas infectadas pela doença sexualmente transmissível no Rio Grande do Sul. No primeiro semestre deste ano, já foram 468 notificações _ se o ritmo se mantiver, as estatísticas devem praticamente se igualar ao ano passado, quando 944 foram contaminadas. No auge do problema, em 2015, foram 1.065 casos.
Desde 2010, ano em que os números começaram a crescer, 4.199 pessoas foram identificadas com a doença no município. A preocupação maior das autoridades de saúde é com a incidência de sífilis em grávidas: somente nos primeiros seis meses de 2017, 56 gestantes foram infectadas.
Leia mais:
Adutora em construção na Rota do Sol levará água para 60 mil pessoas, em Caxias
UCSTV, em Caxias do Sul, encerra atividades em janeiro
Projeto do Juventude incentiva a prática esportiva e promove a cidadania entre crianças carentes de Caxias
Para conter o avanço da sífilis no país, o Ministério da Saúde anunciou, no início do mês, o repasse de R$ 200 milhões, via emenda parlamentar, para a estratégia Resposta Rápida à Sífilis nas Redes de Atenção, possibilitando o abastecimento de penicilina (principal antibiótico utilizado no tratamento) na rede pública de saúde até 2019, além de investir em campanhas educativas. A ação priorizará os 100 municípios que concentram 60% dos casos da doença, incluindo Caxias do Sul e Bento Gonçalves, na Serra. Ao todo, o Rio Grande do Sul tem 12 cidades na lista de prioridades.
Mesmo que a doença seja de fácil prevenção, tenha cura e o tratamento seja oferecido de forma gratuita na rede pública de saúde, a identificação precoce é que pode evitar a disseminação e o agravamento dos sintomas. Entre as gestantes com sífilis, cerca de 80% acabam infectando as crianças antes do nascimento. Nos três primeiros meses e com o tratamento adequado, as chances de transmissão da bactéria para o bebê são menores. Neste ano, 44 bebês nasceram com a infecção em Caxias do Sul.
— Essa é a nossa maior preocupação. Todos os anos identificamos mulheres grávidas com sífilis. Essa situação acaba gerando uma série de consequências, principalmente, para os bebês. O tratamento precoce pode evitar abortos, malformações no bebê e partos prematuros, entre outros problemas — explica a infectologista Andréa Dal Bó, vinculada ao setor de vigilância epidemiológica da Secretaria da Saúde.
Usar preservativo é a única forma de prevenir
Conforme a médica Andréa Dal Bó, apesar de todo investimento ainda é preciso mais conscientização da população. A sífilis possui três estágios: os dois iniciais são pouco sintomáticos, apresentando lesões na pele e nos órgãos genitais. A terceira fase é a mais grave: a disseminação da bactéria Treponema pallidum pode ocasionar paralisia de nervos, meningite, cegueira e até provocar um acidente vascular cerebral (AVC). Além disso, ela pode prejudicar o funcionamento do coração.
— A única forma de prevenção é usar o preservativo em todas as relações sexuais. Houve certa banalização da camisinha e acredito que, por este motivo, a sífilis ainda é tão presente. Essa doença não é brincadeira, principalmente, quando falamos de mulheres grávidas. Desde 2010, Caxias contabilizou 392 bebês com sífilis congênita, ou seja, que foram infectados pelas mães — revela a médica.
Nos próximos meses, Caxias deve intensificar as campanhas de combate à doença. As estratégias ainda estão sendo definidas e, portanto, não foram divulgadas pela prefeitura.
Números
Em apenas cinco anos, o número de casos de sífilis aumentou 5.000%, segundo dados do Ministério da Saúde, pulando de 1.249 em 2010, para 65.878 em 2015. Entre 2015 e 2016, a sífilis adquirida teve um aumento de 27,9%; a sífilis em gestantes, de 14,7%; e a congênita, de 4,7%.
TIPOS DE SÍFILIS
Adquirida
:: Na maioria dos casos, a transmissão ocorre de uma pessoa para a outra durante o ato sexual (anal, vaginal ou oral) desprotegido. A faixa etária de infectados predominante é de 25 a 45 anos.
Congênita
:: Infecção do feto em qualquer fase gestacional. Além da gestação, há casos em que a transmissão acontece da mãe infectada para a criança durante o parto. Entre as consequências estão aborto espontâneo, parto prematuro, malformação do feto, surdez, cegueira, deficiência mental e morte ao nascer.