Tabu para boa parte da população, o câncer de próstata é o segundo mais frequente entre os homens no país, ficando atrás somente do câncer de pele não-melanoma. As estatísticas mostram que um em cada seis homens vai desenvolver o tumor ao longo da vida. Somente este ano, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), são esperados 61.200 casos novos da doença. A taxa de sucesso no tratamento, porém, é alta quando a doença é diagnosticada no estágio inicial. E é preciso tratar o assunto sem brincadeira: em Caxias do Sul, 25 homens morreram em decorrência da doença somente neste ano. Desde 2015, pelo menos 89 vidas foram perdidas para a doença. Hoje, pelo menos 160 pessoas recebem atendimento contra o problema em Caxias. Por isso, a campanha nacional Novembro Azul alerta para a importância da visita ao médico, principalmente a partir dos 45 anos, além de esclarecer sobre os exames. A inexistência de sintomas do câncer de próstata nas fases iniciais também é um complicador.
— O único risco que o paciente corre ao ir ao médico preventivamente é o de encontrar uma solução para a doença— ensina o médico oncologista André Reiriz, coordenador médico da Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon) do Hospital Geral (HG).
O câncer de próstata tem um tratamento multidisciplinar onde urologista, oncologista e radioterapeuta podem atuar juntos, conforme o histórico da doença.
— O mais importante é o homem entender que não há opção de ir ou não ao médico. Ele precisa ir com frequência e fazer acompanhamento. Sabemos que 95% dos pacientes identificados com câncer de próstata em estágio inicial estarão vivos passados 10 anos se fizerem o tratamento correto — pontua Reiriz.
Ainda que existam dois tipos de exame capazes de identificar e rastrear a doença _ o temido exame de toque retal e o de sangue, que verifica os níveis do antígeno prostático específico (PSA), proteína produzida pela próstata _, não são todos os casos em que o paciente é submetido a ambos: tudo depende do histórico familiar e das características de cada pessoa. Segundo o Instituto Brasileiro de Controle do Câncer, homens com pai ou irmão que já tiveram câncer de próstata têm duas vezes mais risco de desenvolver a doença. No caso de três parentes _ neste caso, não necessariamente de primeiro grau _ a chance aumenta em cinco vezes. O monitoramento deve começar aos 50 anos, mas em caso de histórico familiar deve-se procurar orientação já aos 40 anos. Homens da raça negra também têm maior probabilidade de ter esse tipo de câncer, além de os tumores, geralmente, serem mais graves nessa população.
Em Caxias do Sul, desde 2014, o Programa Municipal de Vigilância, Verificação Precoce e Controle do Câncer de Próstata (VivePróstata) estimula o rastreamento do câncer em grupos populacionais de risco. Ele é realizado nas 47 unidades básicas de saúde (UBSs).
João não vai desistir
O caminhoneiro João Nelson da Silva Ferreira, 63 anos, é prova de que ficar atento aos sinais que o corpo dá é fundamental. Ele luta há cinco anos contra o câncer de próstata. Procurou um médico após urinar sangue em uma viagem que fazia ao distrito de Juá, em São Francisco de Paula. O diagnóstico surgiu em um nova consulta com o especialista, já que o câncer iniciou pela bexiga, e chegou até a próstata.
— As pessoas não têm de ter medo de fazer o exame. Se não fosse isso, eu não estaria mais aqui e não saberia que existem tantos recursos para tratar a doença — aconselha.
Seu João contabiliza as cirurgias, quimioterapias, radioterapias e outros procedimentos que já enfrentou desde 2013, quando veio o primeiro diagnóstico. A força que ele encontra para seguir em frente está na família e em um outro grupo bastante especial, a Associação de Apoio a Pessoas com Câncer (Aapecan). Ele recebe ajuda para obter medicação, atendimento psicológico e nutricional. Em troca, passa boa parte do dia ajudando os voluntários em serviços que não exigem muito esforço, já que enfrentou cirurgia há pouco tempo e se prepara para a próxima. Na manhã da última quarta-feira, ele separava os feijões que seriam servidos no almoço, refeição preparada pela equipe da Aapecan para pessoas que estão em tratamento.
— A doença tira um pouco da nossa disposição e dá dor nas pernas. Mas não pode desistir, ainda mais com a amizade e o apoio que a gente tem aqui. Amizade é o que interessa — ensina João.
Planos devem pagar medicação
A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) anunciou nesta semana a incorporação da enzalutamida à lista dos procedimentos, exames e tratamentos com cobertura obrigatória pelos planos de saúde _ o Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde _, a partir de janeiro do próximo ano. Desde 2016, a terapia está disponível no rol da ANS para uso pós-quimioterapia. O processo de incorporação ao rol da ANS acontece a cada dois anos.
A enzalutamida, de uso oral, é um inibidor da via de sinalização do receptor de andrógenos. Na prática, o medicamento é capaz de diminuir a proliferação e induzir à morte as células do câncer de próstata, com consequente redução do volume do tumor, segundo testes realizados em laboratório.
— Os resultados dos estudos clínicos mostraram que o medicamento adiou por 17 meses o tempo mediano necessário para iniciar a quimioterapia. Um período significativo de tempo durante o qual os homens têm a sua doença controlada — explica Machado Moura, diretor médico sênior para América Latina da Astellas Farma Brasil.
SAIBA MAIS
O câncer de próstata em estágio inicial geralmente não provoca sintomas, enquanto em estágio avançado pode causar alguns, como:
:: Dificuldade de urinar; demora em começar e terminar de urinar;
:: Diminuição do jato de urina e necessidade de urinar mais vezes durante o dia ou à noite.
:: Presença de sangue na urina ou no líquido seminal.
:: Disfunção erétil.
:: Dor no quadril, costas, coxas, ombros ou em outros ossos se a doença se disseminou com metástases.
:: Fraqueza ou dormência nas pernas ou pés.
:: Emagrecimento rápido.