— A operação plena do Sistema Marrecas, incluindo abastecimento também para a região norte, em bairros como Santa Fé e Belo Horizonte, vai demandar três anos.
A declaração foi dada ao Pioneiro no dia 12 de setembro de 2014, às vésperas do início do funcionamento do Marrecas, pelo então diretor da Divisão de Água do Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (Samae), Gerson Panarotto, hoje presidente da autarquia.
Desde o início desta semana, o objetivo está mais próximo: o Samae começou as obras da Adutora Marrecas Rota do Sol, perto do viaduto da BR-116, há uma semana.
Conforme Panarotto, a estrutura possibilitará com que o sistema abasteça cerca de 60 mil pessoas — o equivalente à população de Vacaria. Hoje, a Zona Norte é atendida pelo sistema Maestra, que opera no limite.
— O projeto vai possibilitar o atendimento da demanda crescente nas regiões de expansão do perímetro urbano, e também a melhoria na qualidade do abastecimento de água em todas as áreas da cidade, uma vez que os sistemas atuais terão mais folga — explica.
Atualmente, o Sistema Marrecas abastece cerca de 70 mil pessoas na região nordeste de Caxias (veja mapa). Com a nova rede, a expectativa é de que mais 25 mil pessoas sejam abastecidas ainda em 2017 na região dos bairros Parque Oásis, Jardim Embaixador, Moradas dos Alpes, Monte Castelo e Fátima. Em 2018, outras 35 mil serão beneficiadas nos bairros Santa Fé, Pioneiro, Centenário e Nossa Senhora da Saúde.
As obras serão realizadas em três etapas: há a implantação da rede adutora desde o Jardim das Hortênsias até o bairro Parque Oásis, que finaliza com a obra na Rota do Sol; a execução da adutora do bairro Parque Oásis até o Nossa Senhora da Saúde, que tem previsão de término em janeiro de 2018; e a construção de um reservatório no Rosário, que está em fase de licitação e tem previsão de conclusão para agosto do ano que vem.
Dados do Samae comparados com a estimativa da população de Caxias em 2017 mostram que mais de 99% da população caxiense tem acesso à água potável. De acordo com Panarotto, não há problemas de desabastecimento na cidade. Falhas na distribuição aconteceriam apenas em momentos de manutenção, falta de energia e em algumas ocupações irregulares. Ele explica que o objetivo da expansão da rede do Marrecas é qualificar o atendimento e antecipar o aumento do consumo de água.
— A implementação da linha tronco alimentadora pelo contorno norte da cidade foi a alternativa mais viável, já que possibilita a distribuição da água por gravidade. Vamos poder desativar diversos bombeamentos, o que implicará em economia de energia. No futuro, a nova rede poderá atender até 300 mil pessoas, conforme a demanda da cidade — projeta.
Ana Rech receberá nova adutora
Durante a segunda metade de outubro, a região de Ana Rech passou por duas interrupções no abastecimento de água, devido à obras do Samae naquela região. Na última semana, diversos moradores do loteamento Solar do Prado reclamaram da demora para o restabelecimento do serviço. Em alguns casos, as famílias relataram ter ficado quase uma semana sem água. Após a retomada, segundo a comunidade, a água chegava fraca e sem força para abastecer as caixas d'água das residências.
De acordo com o Samae, a recuperação do abastecimento foi afetada por um temporal que prejudicou o bombeamento e, no caso específico do Solar do Prado, gerou um bloqueio na rede.
— Uma pedra estava obstruindo parcialmente o fluxo de água em um ponto da tubulação distribuidora — explica o diretor-presidente do Samae, Gerson Panarotto.
Conforme ele, uma nova adutora deve ser construída para qualificar o abastecimento da região.
— Já está projetada a obra da Adutora Castelo/Ana Rech, que deverá ser executada nos primeiros meses de 2018 — revela.
O empreendimento, que abrangerá 1,4 km de tubulações, está em fase de licitação e tem custo estimado de R$ 750 mil.
Preservação é tão importante quanto expansão da rede, diz especialista
Caxias do Sul tem abastecimento de água garantido até 2040, segundo o Samae. Essa é a previsão baseada na capacidade dos mananciais utilizados hoje. A partir deste período, será necessário investir em novos sistemas. A legislação municipal já prevê áreas para três novos reservatórios (Piaí, Sepultura e Mulada).
A diretora do Instituto de Saneamento Ambiental (Isam) da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Vania Schneider, alerta que tão importante quanto expandir a oferta de água é pensar em como maximizar a vida útil dos reservatórios existentes.
— O Samae é uma autarquia que trabalha bem, na questão do planejamento futuro da água. Mas precisamos ter um olhar cuidadoso para o que temos na cidade. A própria população deve ter cuidado com vazamentos, economizando no dia a dia. Com a reparação de tubulações, controle dentro das instituições, uso racional da água, poderíamos ter uma efetividade 40% maior com a estrutura atual — calcula.
Para Vania, a gestão municipal da água em Caxias facilita o planejamento no setor. Segundo ela, a administração pública poderia estimular projetos de captação de água da chuva, como forma de economizar.
— Nossas bacias de captação dependem todas da água da chuva. Cada vez mais se está trabalhando para estimular essa captação com equipamentos nas próprias residências. Assim você deixa de consumir água tratada, que tem custo agregado, quando lava calçadas, carros, etc. Novos empreendimentos podem começar a pensar nisso — destaca.
Gerson Panarotto concorda que ações de redução de perda e consumo consciente podem postergar investimentos em novos mananciais.
— Essas ações deverão ser intensificadas pelo Samae nos próximos anos, com substituição de redes antigas, automatização de sistemas, redução de pressões na distribuição, combate às ligações clandestinas e fraudes, otimização dos recursos energéticos e outras ações de educação ambiental e de uso racional da água — destaca Panarotto.
De onde vem a água que abastece Caxias do Sul
Sistema Faxinal: 265 mil pessoas
Sistema Maestra: 109 mil pessoas (operando no limite)
Sistema Marrecas: 73 mil pessoas (mais 60 mil pessoas serão atendidas até 2018)
Sistema Dal Bó: 21 mil pessoas
Sistema Samuara: 6,6 mil pessoas
* As comunidades de Bevilácqua, Fazenda Souza, Vila Oliva, Santa Lúcia, Criúva, Mulada, Vila Cristina e Santa Justina (totalizando 5,4 mil pessoas) são abastecidos com poços artesianos.
ADUTORAS MARRECAS ZONA NORTE
O investimento nas adutoras (1ª e 2ª fase) é de aproximadamente R$14,3 milhões.
São cerca de 8,2 km de tubulação.
O reservatório do Rosário (3ª fase) está orçado em cerca de R$ 4,5 milhões.
Os recursos são do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2 e 3).