Estudantes aprovados no vestibular da Universidade de Caxias do Sul (UCS) devem se preparar para testemunhar, já no primeiro semestre de 2018, uma guinada completa no modelo de ensino da instituição. Essas mudanças incluem novos formatos de sala de aula e modelos de aprendizagem, novas metodologias de ensino e de concepção, tanto do espaço acadêmico quanto do perfil do estudante, conforme adianta o reitor da UCS, Evaldo Antonio Kuiava.
Por meio de uma metodologia chamada de aprendizagem ativa, o projeto, que ainda está em fase de discussão, quer fortalecer a vivência dos alunos dentro do currículo. Ou seja, não quer apenas fornecer uma base acadêmica e, sim, explorar a autonomia dos estudantes. Neste modelo de ensino, a grande mudança fica por conta da relação entre professor e estudante, onde o educador deixa de ser o protagonista e passa atuar como um mediador na busca pelo conhecimento.
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De modo geral, o impacto inicial sentido pelos estudantes estará na mudança da grade curricular, que será mais flexível, inclusive, com a inserção de mais disciplinas no modo educação à distância, e da determinação de uma mensalidade fixa até o final da graduação, observando individualidades financeiras de cada aluno. O novo modelo curricular será implantado de forma gradativa e os currículos em andamento não serão alterados. No entanto, a universidade afirma que as mudanças devem beneficiar toda a comunidade estudantil no que se refere às metodologias ativas em múltiplos espaços de aprendizagem. Além disso, o Programa de Formação para Professores da UCS já capacita todos os docentes da instituição para a utilização do novo método. A reestruturação, porém, não terá impacto no curso de Medicina, que já explora uma vivência maior dentro dos anos de estudo pré-determinados.
— Era uma necessidade e até mesmo uma obrigação nossa em sugerir esse avanço, essa modernização do nosso ensino. O que estávamos oferecendo já não servia mais. É um passo importante que damos e que temos total confiança que dará frutos valiosos — confia Kuiava.
Capacitação em universidade da Finlândia
A criação do novo modelo de ensino da UCS vem sendo gestado desde 2014, quando entrou em discussão a Pedagogia da Inovação. De lá para cá, professores começaram a ser capacitados por uma instituição da Finlândia, a Turku University of Applied Sciences (TUAS), para difundirem o método em outras universidades. Todo o projeto de mudança proposto pela UCS teve a participação da comunidade acadêmica para a construção coletiva do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) e do Projeto Pedagógico Institucional (PPI), documentos aprovados em assembleia neste ano.
— Toda essa reestruturação parte de uma pergunta norteadora: que profissionais queremos formar? A UCS nasceu para desenvolver a região e para isso temos que andar na frente e inovar, sempre. Mas o principal disso tudo é a vontade de que cada aluno saia daqui com um projeto de vida. A formação acadêmica é uma base, queremos que o aluno saiba lidar com as demandas da vida — afirma o reitor Evaldo Kuiava.
Ainda conforme Kuiava, já está em estudo uma atualização do sistema virtual da universidade para garantir qualidade na modalidade de ensino à distância. Além disso, ele garante que será estabelecida uma quantidade de alunos em cada disciplina, para que haja condições de o professor atender a todos de maneira igual. Ao longo da adequação do novo método, campos de pesquisa e inovação também devem ser fortalecidos. Há entre os tópicos do projeto a integração entre graduação e pós-graduação, a fim de proporcionar novas experiências acadêmicas voltadas para a formação humana e para a atuação profissional.
Sem informações, alunos estão preocupados
Integrantes do Diretório Central de Estudantes (DCE) da UCS estão preocupados com o processo de reestruturação do ensino da universidade. Apesar de terem participado de algumas reuniões, eles afirmam não ter conhecimento sobre os detalhes. Uma reunião na noite de quinta-feira juntou opiniões e dúvidas de estudantes, que devem ser levadas até a Reitoria.
— Acreditamos que mudanças são necessárias, mas estamos preocupados com a qualidade de ensino e também com uma possível evasão de estudantes. O que temos até agora não são informações concretas. O assunto já está circulando entre todos os alunos e nós temos apenas dados superficiais. A assembleia foi uma forma de abrirmos uma discussão coletiva para avaliar o que vem no próximo ano. Agora, é levar as demandas ao reitor, já que estamos sempre abertos ao diálogo — diz Otniel Alves Borges, presidente do DCE.
Sem muitas informações, a preocupação maior do diretório gira em torno da ampliação do modo de ensino à distância. Há dúvidas sobre a capacidade da plataforma online já utilizada absorver a demanda.
— Como é que a ferramenta atual vai atender os alunos se nem o conteúdo audiovisual ela suporta? Sem contar que uma educação EAD envolve tecnologia, algo que neste momento não é totalmente garantido na plataforma. Também temos receio de quantos alunos vão ser aceitos em cada disciplina online e se apenas um professor vai dar o suporte. Enfim, temos muitas dúvidas e poucos esclarecimentos — resume Borges.